Coronavírus: cemitério de SP já tem mais enterros e abre sepulturas

Na Vila Formosa, sepultamentos diários tiveram aumento de 45% e a Prefeitura contratou 220 coveiros para compensar afastamentos

  • Data: 03/04/2020 08:04
  • Alterado: 03/04/2020 08:04
  • Autor: Redação ABCdoABC
  • Fonte: Estadão Conteúdo
Coronavírus: cemitério de SP já tem mais enterros e abre sepulturas

Foto aérea de mais de 150 covas rasas abertas

Crédito:Reprodução

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O aumento das mortes em decorrência do coronavírus em São Paulo modificou a rotina do cemitério da Vila Formosa, o maior da América Latina. Funcionários relatam que o número de enterros diários saltou de 40 para 58 nas últimas semanas, o que significa uma elevação de cerca de 45%. Metade deles relacionada à covid-19. Além disso, os enterros são mais rápidos, a toque de caixa, com menos de dez minutos.

Uma foto aérea de mais de 150 covas rasas abertas repercutiu nesta quinta-feira, 2, após chegar à capa do jornal americano Washington Post. Segundo funcionários, a alta demanda de sepultamentos tem exigido a abertura de cerca de 90 covas por dia, o dobro do habitual. Já a Prefeitura afirma que são abertas 100 covas a cada três dias, o padrão, independentemente da pandemia. Segundo o Município, as sequências de novas valas servem para “auxiliar na agilidade dos sepultamentos e cada necrópole tem dinâmica própria”.

Só nesta quarta-feira, 1, foram 57 enterros no Vila Formosa. Nesta quinta, mais 52. Os números dos últimos dias superam a média de 40 antes dos tempos de pandemia. “Trabalho aqui há mais de 20 anos. Não me lembro de uma situação como essa”, diz um dos coveiros mais experientes.

No fim da tarde desta quinta, os caixões chegavam com tanta rapidez que os sepultadores tiveram de pedir alguns minutos para terminar um que já ocorria, antes do seguinte. A família teve de esperar. Um dos enterros foi o do aposentado Carlos Eduardo Florencio, de 65 anos. Participaram só duas pessoas, o genro e o cunhado. “O caixão estava fechado, sem visor para vermos seu rosto. A madeira estava lacrada. Na hora da identificação, o corpo estava num saco”, diz o genro, que se identificou como Robson Pereira.

Seu Carlos tinha problemas respiratórios e cardíacos. Ele se sentiu mal, com dificuldades para respirar na terça-feira. Deu entrada no hospital às 20h30 e morreu após uma hora. Segundo Pereira, só uma pessoa foi autorizada pelo Sistema de Verificação de Óbitos a ir ao enterro. Diabética, mas sem sintomas de covid, a mulher de Carlos não foi ao enterro. “É muito ruim ter de despedir assim tão rapidamente. E agora vou ter de fazer quarentena”, diz o genro.

Desde o dia 20, enterros solitários e sem qualquer cerimônia são frequentes. Norma da Secretaria Estadual de Saúde diz que todas as mortes com qualquer suspeita de covid-19 devem seguir protocolo rígido para segurança dos profissionais que lidam com cadáveres.

Mas nem isso tranquiliza os profissionais do cemitério. A chegada de um cortejo com morto por coronavírus na Vila Formosa causa apreensão. “Põe a máscara e o capuz que vem um de corona”, avisa um dos coveiros. Com máscaras e luvas, os familiares mantêm distância; nem todos ficam à beira da cova para o último adeus.

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  • Data: 03/04/2020 08:04
  • Alterado:03/04/2020 08:04
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  • Fonte: Estadão Conteúdo









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