Jabuti premia livros com temática de feminismo e identidade
Cida Pedrosa leva livro do ano com Solo Para Vialejo
- Data: 28/11/2020 15:11
- Alterado: 28/11/2020 15:11
- Autor: Redação ABCdoABC
- Fonte: Estadão Conteúdo
Crédito:Reprodução
A vitória de Cida Pedrosa e do seu Solo Para Vialejo como livro do ano reforça uma tendência do Prêmio Jabuti de reconhecer o trabalho de editoras universitárias, públicas e independentes, as quais levaram pouco menos da metade das estatuetas. A Cepe – empresa de economia mista ligada ao governo estadual de Pernambuco, que lançou o livro – consolidou sua produção editorial cuidadosa, agora reconhecida por um dos prêmios mais importantes do País.
“Solo Para Vialejo é como um épico lírico”, reflete o editor do livro, o também escritor Wellington Melo. “Dentro de uma certa tradição de reinaugurar o épico, a Cida o faz de uma forma muito feliz. Não se pode recuperar exatamente o ethos do clássico grego, mas pensando, é um poema com um movimento duplo: o de buscar a identidade de um povo, o brasileiro, mas ao mesmo o de buscar a própria identidade. Também nisso se cria uma dicotomia entre o lírico e o épico. Sou um editor à moda antiga.”
Outra tendência no Jabuti também foi identificada pelo escritor e crítico literário Cristhiano Aguiar. “As obras premiadas trazem ao centro do palco uma ampla discussão social, política e identitária”, diz ao Estadão. “Claro, cada obra premiada no conto, poesia e nas duas categorias de romance vai usar diferentes estratégias literárias para tratar dessas questões. É muito interessante perceber como a questão do feminino está presente inclusive nos romances de autoria masculina, como é o caso dos romances de Raphael Montes e Itamar Vieira Júnior.”
Cida Pedrosa
Aguiar também destaca a importância da escritora Cida Pedrosa para a cena cultural e social de Pernambuco – ele viveu no Recife por 11 anos, onde iniciou sua trajetória acadêmica. “Cida atuou na defesa do livro, da literatura e da poesia em Pernambuco ao longo das últimas décadas e esteve envolvida em eventos, publicações independentes e propostas de políticas públicas para a área do livro, da leitura e da literatura”, atesta o escritor – menos de duas semanas atrás, ela também foi eleita vereadora do Recife pelo PCdoB.
Com os últimos 15 dias agitados, a escritora não esconde a felicidade. “A minha militância política e temática existe há muitos anos. Desde que me entendo de gente estou na luta pela democracia, pela justiça social. Eu junto tudo, a poesia que há mim fala com a minha atividade política.”
Natural de Bodocó, no Sertão do Araripe pernambucano, Cida se mudou para o Recife ainda jovem para estudar, se formou advogada e construiu uma carreira no direito como militante em defesa de direitos civis, direitos dos trabalhadores e de bandeiras feministas. Paralelamente, na literatura, fez parte do Movimento de Escritores Independentes de Pernambuco na década de 1980, quando se envolveu com os poetas ditos marginais e fez recitais nas ruas. Na década de 1990, também fez o grupo Vozes Femininas, e nos anos 2000 consolidou sua carreira de lançamentos editoriais em livros como As Filhas de Lilith (2009), Claranã (2015) e Gris (2018), seu primeiro pela Cepe.
Inovação
O prêmio na categoria inovação também está relacionado a essas tendências: quem levou foi a Festa Literária das Periferias, a Flup, que neste ano aconteceu de modo virtual com, entre outras iniciativas, um programa de formação sobre a obra de Carolina Maria de Jesus. “Digitalmente, pudemos trocar com o Brasil todo, compor um livro com escritoras negras de todos os Estados e investir ainda mais na intelectualidade da periferia”, celebrou a equipe.
Outros premiados
Entre outros vencedores, estão Torto Arado, de Itamar Vieira Junior (Todavia), na categoria romance literário, Uma Mulher no Escuro, de Raphael Montes (Companhia das Letras), em romance de entretenimento, e o livro Futuro Presente: O Mundo Movido à Tecnologia (Companhia Editora Nacional), do engenheiro e blogueiro do Estadão Guy Perelmuter, na categoria Ciências.
A cerimônia do Prêmio Jabuti foi transmitida pela internet e apresentada pela jornalista Maju Coutinho. Veja a cerimônia completa no link.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.