Bolsonaro tenta impor troca na PF e Moro avisa que deixará o governo_x000D_
O ministro da Justiça, Sérgio Moro, avisou que deixará o governo após Bolsonaro comunicá-lo que trocará o comando da PF, atualmente ocupada por Maurício Valeixo.
- Data: 23/04/2020 16:04
- Alterado: 23/04/2020 16:04
- Autor: Redação ABCdoABC
- Fonte: Estadão Conteúdo
Moro
Crédito:Reprodução
O ministro da Justiça, Sérgio Moro, avisou a Jair Bolsonaro que deixará o governo caso o presidente imponha um novo nome para comandar a Polícia Federal, atualmente ocupada por Maurício Valeixo. O Estado apurou que o ministro não aceita que essa troca venha de “cima para baixo”, e defende o direito de fazer a escolha.
A saída de Valeixo do cargo de diretor-geral da corporação já estava sendo tratada por Moro, que tentava encontrar um nome de sua confiança para o cargo. Bolsonaro, no entanto, avisou que nomearia um substituto. É a segunda vez que o presidente ameaça trocar a cúpula do órgão.
Embora a indicação para o comando da PF seja uma atribuição do presidente, tradicionalmente é o ministro da Justiça quem escolhe. Entre os nomes que são cotados para o cargo estão o do atual diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem, e do secretário de segurança do Distrito Federal, Anderson Torres.
Valeixo foi escolhido por Moro para o cargo ainda na transição, em 2018. O delegado comandou a Diretoria de Combate do Crime Organizado (Dicor) da PF e foi Superintendente da corporação no Paraná, responsável pela Lava Jato, até ser convidado pelo ministro, ex-juiz da operação, para assumir a diretoria-geral.
Interlocutores de Valeixo dizem que a tentativa de substituí-lo ocorre desde o início do ano, mas que não teria relação com o que aconteceu no ano passado, quando Bolsonaro tentou pela primeira vez trocá-lo por outro nome. Na ocasião, o presidente teve que recuar diante da repercussão negativa que a interferência no órgão de investigação poderia gerar.
No ano passado, após Bolsonaro antecipar a saída do superintendente da corporação no Rio de Janeiro, ministro e presidente travaram uma queda de braço pelo comando da PF.
Em agosto, o presidente antecipou o anúncio da saída de Ricardo Saadi do cargo, justificando que seria uma mudança por “produtividade” e que haveria “problemas” na superintendência. A declaração surpreendeu a cúpula da PF que, horas depois, em nota, contradisse o presidente ao afirmar que a substituição já estava planejada e não tinha “qualquer relação com desempenho”.
Nos dias seguintes, Bolsonaro subiu o tom. Declarou que “quem manda é ele” e que, se quisesse, poderia trocar o diretor-geral da PF.
Ex-juiz da Lava Jato, responsável pelas condenações mais importantes da operação, como a do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Moro abandonou 22 anos de magistratura para ingressar no governo Bolsonaro. Ao aceitar o convite, disse que seu objetivo ao assumir um cargo no Executivo era endurecer a legislação de combate á corrupção no País.