Ministros testam negativo para covid-19, mas exame pode ter resultado falso

13 integrantes do primeiro escalão do governo foram submetidos a exames de diagnóstico, sendo que 6 fizeram só teste rápido. Especialistas afirmam que resultado não é conclusivo

  • Data: 09/07/2020 20:07
  • Alterado: 09/07/2020 20:07
  • Autor: Redação ABCdoABC
  • Fonte: Estadão Conteúdo
Ministros testam negativo para covid-19, mas exame pode ter resultado falso

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Os 13 ministros que realizaram exames de diagnóstico após contato com o presidente Jair Bolsonaro, infectado pelo novo coronavírus, receberam resultados negativos. O presidente foi diagnosticado com a doença na terça-feira, 7, mas relatou que já sentia sintomas desde o domingo.

Segundo levantamento do Estadão, seis ministros fizeram apenas o teste rápido (sorológico), que encontra anticorpos para o vírus em amostras de sangue. Fora eles: os ministros Paulo Guedes (Economia), Braga Netto (Casa Civil), Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), Ernesto Araújo, Marcelo Álvaro Antônio (Turismo) e Wagner Rosário (CGU).

Guedes, que a exemplo do presidente faz parte do grupo de risco da doença – ele tem 70 anos – esteve com Bolsonaro ao menos sete vezes nos últimos 14 dias, período máximo de incubação do novo coronavírus até que o paciente comece a apresentar os sintomas. A mais recente foi na segunda-feira, 6, numa reunião no Palácio do Planalto, quando o presidente já apresentava sinais da doença.

Outras autoridades fizeram o teste do tipo RT-PCR, tido como “padrão ouro” para diagnóstico por detectar a presença do vírus. Receberam resultado negativo, por este exame, os ministros Fábio Faria (Comunicações), Jorge Oliveira (Secretaria-Geral da Presidência), Fernando Azevedo (Defesa) e Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional).  José Levi Mello (Advocacia-Geral da União) e André Mendonça (Justiça) receberam resultados negativos em testes rápidos e RT-PCR. O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, também testou negativo, mas não informou por qual tipo de teste.

O diagnóstico dos auxiliares, no entanto, não é conclusivo. Entidades médicas e o próprio governo federal dizem que há dias certos para que seja maior a precisão de cada tipo de análise.

O uso do teste rápido deve ser feito apenas após o 8º dia de sintomas para covid-19, quando o corpo já reagiu ao vírus. “Resultados positivos indicam que você teve contato recente com o vírus ou que você já teve covid-19 e está se recuperando ou já se recuperou”, afirma nota da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). “Assim sendo, esse teste isolado não serve para diagnosticar (confirmar ou descartar) infecção”, completa o órgão.

Apesar de ser indicado para diagnóstico, o teste RT-PCR também pode apresentar resultados falsos, conforme o dia em que for aplicado. “Pacientes com covid-19 parecem ter excreção viral diminuída nos três primeiros dias de sintomas, com aumento na positividade da RT-PCR do 4º ao 6º do início dos sintomas”, afirma nota de abril do grupo “força colaborativa covid-19 Brasil“, que inclui a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), a Associação de Medicina Intensivista Brasileira (Amib), entre outras entidades.

A ministra Tereza Cristina (Agricultura) e o ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello, não devem realizar o teste, sob argumento de que não tiveram contato com Bolsonaro nos últimos dias.

A primeira-dama, Michelle Bolsonaro, testou negativo na semana passada, mas deve realizar novo exame.

Isolamento
Ex-diretor do Departamento de Imunizações e Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde e pesquisador da Fiocruz, o infectologista Julio Croda recomenda que devem se isolar por pelo menos uma semana todas as pessoas que tiveram contato com Bolsonaro até dois dias antes de ele apresentar sintomas. O presidente afirma que o mal-estar começou no domingo, 5. Na terça-feira, 7, ele confirmou o teste positivo.

Croda alerta que o resultado dos exames feitos em curto intervalo, após o contato com o presidente, pode ser falso. “Tem gente que já está fazendo exame. Mas, se der negativo, pode ser um resultado falso. Tem de refazer lá na frente”, afirmou o infectologista.

Covid-19 no Planalto

O governo informou na terça-feira, 7, que 108 dos 3.400 servidores do Palácio do Planalto testaram positivo para covid-19 até 3 de julho. “Não houve mortes e mais de 90% desses casos foram assintomáticos ou apresentaram apenas sintomas leves.”

Até o dia 20 de maio, eram 35 infectados, revelou o Estadão.  O Planalto não recomenda o isolamento pelo “simples contato” com uma pessoa infectada.

A Organização Mundial da Saúde (OMS), no entanto, afirma que é recomendável “ficar em casa” caso more com alguém infectado ou esteve a menos de um metro de um paciente com a doença. Imagens da agenda oficial de Bolsonaro mostram o presidente sem máscara em almoço na casa do embaixador dos Estados Unidos, no domingo, 5, e durante encontro com representantes da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), na sexta-feira, 3.

A recomendação do Ministério da Saúde é menos rígida. Em documento de abril, a pasta recomenda isolamento de 14 dias de casos suspeitos ou confirmados. Os casos suspeitos, para o governo brasileiro, no entanto, são aqueles que tiveram contato próximo de um confirmado e, além disso, apresentam febre ou pelo menos um sintoma respiratório, como tosse ou dificuldade para respirar. No começo da pandemia, o ministério chegou a recomendar o isolamento para todas as pessoas que voltavam do exterior. A orientação foi derrubada, segundo fontes da pasta, por pressão do Palácio do Planalto para reduzir impactos sobre a economia e no funcionamento da máquina pública.

O serviço de teleatendimento do Ministério da Saúde sobre a covid-19, acessado por meio do 136, por sua vez, orienta isolamento de 14 dias para pessoas que tiveram contato com casos confirmados da doença, situação idêntica ao do presidente Jair Bolsonaro.

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