Agronegócio quer Brasil fora de conflito

O apoio do Brasil ao ataque americano que matou na semana passada no Iraque o general Qassim Suleimani, principal militar iraniano, preocupa líderes setor agropecuário brasileiro

  • Data: 08/01/2020 15:01
  • Alterado: 08/01/2020 15:01
  • Autor: Redação ABCdoABC
  • Fonte: Estadão Conteúdo
Agronegócio quer Brasil fora de conflito

"Devemos ter cautela

Crédito:Reprodução

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Eles pregam uma maior cautela no campo diplomático para não atrapalhar os negócios entre o País e seus parceiros comerciais. Hoje, o Brasil é o maior exportador de produtos agropecuários para o Oriente Médio, gerando uma receita de cerca de US$ 9 bilhões por ano.

“O Oriente Médio é um grande parceiro do Brasil em termos de alimentação. Temos muitos interesses lá”, alertou o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), Alysson Paolinelli. Ele disse que o embargo dos EUA ao Irã que já existe prejudica os negócios, mas uma radicalização do conflito vai piorar ainda mais o cenário.

“Devemos ter cautela, não temos de chamar essa briga para nós, não precisamos nos envolver. O que queremos com isso?”, questionou o deputado federal Neri Geller (PP-MT), ex-ministro da Agricultura. Para ele, o Brasil deve trabalhar pela pacificação e pela construção de mais relações comerciais no exterior lembrando que o Irã é um comprador importante de produtos como milho, soja e carne bovina do Brasil.

Exportações

De acordo com dados do Insper Agro Global, o Brasil é o maior fornecedor de alimentos para o Oriente Médio, seguido por Índia e Estados Unidos. O setor de agronegócio representa 97% das exportações brasileiras ao Irã.

Em 2018, o Irã foi o quinto maior destino das exportações brasileiras do setor agrícola, após China, União Europeia, EUA e Hong Kong. O Brasil exportou US$ 2,258 bilhões em produtos agrícolas ao Irã e importou US$ 39,92 milhões. Isso gerou um superávit de US$ 2,218 bilhões no ano. Ainda em 2018, o Brasil exportou US$ 550 milhões em produtos agrícolas para o Iraque.

“O Irã comprou, no ano passado, US$ 2,258 bilhões do Brasil. Basicamente, milho, soja e carne bovina”, afirmou Marcos Jank, professor de agronegócio global do Insper e conselheiro do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri). O dado coloca o país como o principal destino dos produtos brasileiros na região.

“Não deveríamos tomar partido neste momento de radicalização e conflitos. Temos de preservar nossos grandes interesses no Oriente Médio, que compra quase duas vezes mais produtos agropecuários do Brasil do que os Estados Unidos”, disse o professor do Insper.

O Irã também é o maior mercado para o milho brasileiro e o quinto maior destino da carne bovina e da soja exportadas pelo Brasil, segundo dados do Ministério de Relações Exteriores.

Governo

Na sexta-feira, 3, um dia depois da morte de Suleimani, o Itamaraty divulgou uma nota em que apoiava a “luta contra o flagelo do terrorismo”, condenando o ataque à Embaixada dos EUA no Iraque, que havia ocorrido dias antes e acabou por desencadear a ação que matou o general iraniano. O texto, porém, evitou criticar o ataque que matou Suleimani.

Em reação, a chancelaria do Irã convocou a encarregada de negócios do Brasil, Maria Cristina Lopes, para uma consulta, um sinal diplomático de reprovação ao texto do Itamaraty.

O conteúdo da conversa desta terça-feira, 7, não foi divulgado, mas o órgão diplomático brasileiro descreveu o encontro como “cordial”.

A reação inicial de Bolsonaro também foi de apoio aos EUA. Na segunda-feira, ele disse que Suleimani “não era general”. Segundo uma fonte da ala militar do governo, após a declaração, o presidente foi orientado por auxiliares a agir com cautela em razão da sensibilidade do tema e das implicações comerciais. E parece ter entendido a mensagem. Nesta terça, após uma reunião com militares no Ministério da Defesa, o presidente disse que não responderia a perguntas. Questionado na terça sobre o que quis dizer com a declaração do dia anterior, ele respondeu simplesmente: “Não, não, isso aí não. Próxima pergunta”.

Para Bartolomeu Braz, presidente da Aprosoja Brasil, a principal preocupação com a tensão entre EUA e Irã é o aumento dos custos de produção com a alta do petróleo – e não a exportação de alimentos. Braz disse não temer retaliações e afirmou que o País acerta em condenar o terrorismo.

“O Brasil exporta alimentos para mais de 200 países, pela qualidade e pela competitividade. Então, esses fatores vão sobressair a uma palavra dita ou não. Acho que isso tende a esfriar”, minimizou.

A tensão entre EUA e Irã aumentou desde a morte de Suleimani, que foi enterrado nesta terça como herói nacional. O general era uma das principais referências militares e políticas do Irã e comandante da Força Quds, um grupo de elite dentro da Guarda Revolucionária iraniana.

Navios barrados

Os cargueiros iranianos Bavand e Termeh, que trouxeram ureia ao Brasil, ficaram quase 50 dias parados no Porto de Paranaguá, no Paraná, em meados do ano passado, pois a Petrobras havia se negado a vender combustível para os navios, afirmando que a proprietária deles constava na lista de empresas sob sanções dos EUA.

Eles só conseguiram zarpar depois que o Supremo Tribunal Federal (STF) ordenou que a Petrobras fornecesse combustível às embarcações. O Irã havia ameaçado cortar as importações do Brasil se os navios não fossem abastecidos e liberados. Dias depois, outros dois cargueiros iranianos, o Delruba e o Ganj, descarregaram ureia no Porto de Imbituba, em Santa Catarina, e partiram em seguida.

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  • Data: 08/01/2020 03:01
  • Alterado:08/01/2020 15:01
  • Autor: Redação ABCdoABC
  • Fonte: Estadão Conteúdo









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