Jogadores e técnico da seleção estão incomodados com a Copa América no Brasil

Os atletas, liderados pelos que moram na Europa, pediram primeiramente uma reunião com o técnico Tite para ‘externar’ o descontentamento com a disputa do torneio em meio à pandemia no País

  • Data: 04/06/2021 19:06
  • Alterado: 04/06/2021 19:06
  • Autor: Redação ABCdoABC
  • Fonte: Estadão Conteúdo
Jogadores e técnico da seleção estão incomodados com a Copa América no Brasil

Os atletas pediram reunião com o técnico Tite para ‘externar’ o descontentamento com a disputa do torneio em meio à pandemia no País

Crédito:Buda Mendes/Getty Images

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Os atletas estão incomodados em jogar, como a Copa América veio parar no Brasil e sem qualquer conversa ou explicação com o elenco, seu capitão ou principais lideranças do time. Não são únicos. Há outros jogadores sul-americanos com os quais estão conversando para que não joguem a Copa América.

Não se trata de uma insubordinação. No dicionário, insubordinação diz respeito ao ato de se levantar, de se insurgir contra a autoridade ou ordem estabelecida, provocar uma revolta, uma rebelião. Não chegará a tanto. Seria pular algumas gerações da conduta dos jogadores de futebol. Tudo foi feito pisando em ovos. Tite ouviu seu grupo. Os atletas também pediram para falar com o presidente da CBF, Rogério Caboclo, que perde respeito gradativamente no futebol desde aquele vídeo da reunião com os dirigentes de clubes, em que não deu a palavra a ninguém e ‘ameaçou’ todos eles a jogar. Um vídeo da ESPN.  Todas as entrevistas da semana foram canceladas. Havia um motivo. Eles não querem a Copa América.

“Temos uma opinião muito clara e fomos lealmente, numa sequência cronológica, eu e Juninho, externando ao presidente qual a nossa opinião. Depois, pedimos aos atletas para focarem apenas no jogo contra o Equador. Na sequência, solicitaram uma conversa direta ao presidente. Foi uma conversa muito clara, direta. A partir daí, a posição dos atletas também ficou clara. Temos uma posição, mas não vamos externar isso agora. Temos uma prioridade agora de jogar bem e ganhar o jogo contra o Equador. Entendemos que depois dessa data, as situações vão ficar claras”, previu o treinador. Tite e o coordenador Juninho Paulista estão fechados com os atletas. Podem pagar por isso.

É inegável que os jogadores estão mais engajados do que antes. Não pediriam reunião para nada. Isso não acontece com muita frequência a não ser para pagamento de premiação atrasada. Tem a ver também com o que ocorre no mundo, com as manifestações contra o racismo e qualquer outro tipo de amarras e preconceitos. Diante das revoltas sociais ocorridas nos EUA quando negros foram mortos e diante do slogan cada vez menos slogan e cada vez mais sentimento do Vidas Negras Importam (Black Lives Matter).

Tem a ver ainda com as cobranças que chegam a eles pelas redes sociais e outros canais de informação sobre posicionamentos necessários. Richarlyson, atacante do time, tem sido um desses caras incomodados com as mazelas do Brasil: fome, desemprego, covid. Há outros na mesma condição e, ao que parece, cada vez mais. Não são todos. Gabigol, titular da equipe, foi pego num cassino clandestino em São Paulo, sem máscara e sem respeito à doença. Foi multado. E agora está na seleção. Mesmo assim, qualquer movimento que saia dessa história, ele será unânime. Não haverá jogador que roa a corda.

Junta-se a isso o pouco valor que os torcedores têm dado para a seleção brasileira nos dias atuais, muito pelo mau e burocrático futebol, mas também por não se identificar com aqueles que vestem sua camisa. Essa identificação era maior no passado. Havia mais empatia e menos interesses financeiros. Mais comprometimento. Os jogadores da seleção parecem sempre enfadonhos, fechados em seus mundinhos e longe de tudo e de todos. São cobrados por isso ou desdenhados.

Por vezes, dão a impressão de ser um sacrifício jogar no time nacional. Não disputar a Copa América no Brasil é o pretexto que faltava para eles serem mais ouvidos e respeitados. Estão contra a disputa e não contra o presidente Jair Bolsonaro, pai da Copa América no País. Na verdade, os atletas são identificados, em sua maioria, com o presidente.

O que motivou a conversa com Tite e com o comando da CBF foi a competição ser empurrada ‘goela abaixo’ para o time. Acreditavam que ela não aconteceria. Os atletas da Europa também se depararam com um Brasil ainda refém da pandemia, com mortes na casa das 2 mil pessoas por dia e mais de 80 mil contaminados a cada 24 horas. Ficaram assustados ao conhecer os números dos vacinados em primeira e segunda doses. Quando estão fora, as notícias chegam com menor força. Às vezes nem chegam. Bastou uma semana no Rio, reunidos em Teresópolis, para viver uma realidade diferente. Dura.

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