Fapesp: empresa brasileira desenvolve ventiladores pulmonares de baixo custo
Equipamentos criados pela Setup, com apoio do PIPE-FAPESP, poderão chegar ao mercado com preço até 25% menor que os disponíveis atualmente
- Data: 23/03/2021 19:03
- Alterado: 23/03/2021 19:03
- Autor: Redação
- Fonte: Governo de São Paulo
Crédito:Divulgação
A empresa brasileira Setup Automação e Controle de Processos, situada em Campinas, desenvolveu dois protótipos de ventiladores pulmonares com custo menor do que os existentes no mercado. Os equipamentos estão sendo desenvolvidos por meio de um projeto apoiado pelo Programa FAPESP Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE).
O projeto foi um dos selecionados em um edital lançado pelo PIPE-FAPESP em parceria com a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) em março de 2020, para apoiar o desenvolvimento de produtos, serviços ou processos criados por startups e pequenas empresas de base tecnológica no Estado de São Paulo, voltados ao combate da COVID-19.
“Conseguimos desenvolver os dois protótipos e, agora, estamos em negociação com duas empresas para colocá-los no mercado. A expectativa é que o acordo com uma delas seja fechado nas próximas semanas”, afirma William Robert Heinrich, um dos sócios da empresa.
Segundo Heinrich, os ventiladores poderão chegar ao mercado com custo até 25% mais baixo do que os disponíveis atualmente no país. Um dos fatores que permitiram essa redução foi a diminuição da dependência de componentes importados.
“Cerca de 70% dos componentes que estamos usando nesses ventiladores são nacionais”, afirma Heinrich.
Um dos ventiladores será voltado para emergências e outro modelo, mais robusto e com mais funcionalidades, para uso em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs). Os dois equipamentos serão fabricados em uma mesma plataforma de produção criada por engenheiros da empresa.
“A plataforma permite unificar as partes mecânica e pneumática dos equipamentos. A diferença entre eles está em um software que desenvolvemos”, explica Heinrich.
Além do custo, outros diferenciais competitivos dos ventiladores que estão sendo desenvolvidos pela empresa em comparação com os existentes no mercado são o nível de ruído emitido e o peso, com 16 quilos.
O projeto inicial dos engenheiros da empresa era usar bicos injetores de automóveis nos equipamentos, por terem um custo acessível e serem feitos nas chamadas salas limpas. Essa ideia, porém, foi abortada em razão do nível de ruído emitido por esses componentes.
“A solução que conseguimos dar para esse problema tornou nossos ventiladores um dos melhores no quesito emissão de ruído. Além disso, estarão entre os mais leves no mercado”, diz Heinrich.
Os equipamentos também têm bateria com autonomia para seis horas, o que permite o uso em hospitais mais remotos ou áreas de emergências como os hospitais de campanha. E, ainda, incorporam outras funcionalidades. No caso específico do produto voltado para as UTIs, que apresentam funcionalidades mais complexas, os ventiladores da Setup poderão atender ainda a uma antiga demanda dos médicos e enfermeiros: a simplificação de procedimentos.
“Em uma pesquisa que conduzimos com profissionais intensivistas, identificamos que ventiladores disponíveis hoje acabam prejudicando o atendimento a um paciente intubado que tem uma parada cardiorrespiratória, por exemplo. Atualmente, nesses casos, os intensivistas precisam retirar a conexão do tubo endotraqueal com os pacientes para prestar o devido socorro”, afirma Heinrich.
A conexão do paciente com um ventilador pulmonar é feita por meio de uma mangueira flexível, chamada de “traqueia”. Quando a parada cardíaca ocorre o paciente permanece com o tubo endotraqueal, mas a conexão desse componente com a “traqueia” precisa ser removida. Isso porque, para fazer massagem cardíaca, um intensivista precisa conectar uma bolsa autoinflável (Ambu bag) ao tubo endotraqueal para fornecer ventilação ao paciente de modo empírico, sincronizado e intercalado com a massagem cardíaca, feita por outro profissional de saúde, explica Heinrich.
“Isso gera perda de tempo, um fator crítico em momentos como esses”, avalia.
A fim de solucionar esse problema, os engenheiros da empresa desenvolveram e inseriram um botão de emergência nos ventiladores desenvolvidos. Ao ser acionado, o equipamento entra, em questão de milessgundos, em um modo específico de ventilação.
“O botão de emergência elimina a necessidade de retirada da conexão do tubo endotraqueal para colocação da bolsa autonflável para fornecer ventilação e de dois profissionais intensivistas para o atendimento de um paciente intubado e com parada cardíaca”, afirma Heinrich.
Mercado em ascensão
Com 24 anos de atuação em projetos de inovação na área de automação industrial, com desenvolvimento em áreas mais específicas, como pneumática, mecânica, hidráulica e controle em malha fechada, a empresa já apresentou aos prováveis parceiros todos os custos e os processos para homologação dos ventiladores em vários órgãos nacionais, como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e o Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro).
“Nosso modelo de negócio será o de transferência de tecnologia mediante o pagamento de royalties”, diz Heinrich.
Segundo ele, o fato de o Brasil investir pouco em ventiladores e de a grande maioria das máquinas já estar praticamente obsoleta mostra o potencial do negócio, mesmo fora do contexto da pandemia.
“Estudos de mercado apontam que o último grande investimento do país em ventiladores ocorreu em 2010, quando foram investidos por volta de US$ 68 milhões na compra de 65.411 equipamentos. Outros 15.235 foram comprados em 2020”, aponta Heinrich.
O Brasil tem hoje, aproximadamente, 80 mil equipamentos que auxiliam a respiração de doentes em situação mais grave. Cerca de 80% desse total têm dez anos de uso, indicam dados levantados pela empresa.