Cesária e parto normal em tempos de pandemia
Existem poucos estudos científicos, até o momento, sobre a possibilidade de transmissão do vírus para o bebê no momento do nascimento
- Data: 18/12/2020 18:12
- Alterado: 18/12/2020 18:12
- Autor: Redação
- Fonte: Dra Elis Nogueira
Crédito:Katia Rocha
A pandemia chegou e transformou o mundo, mas, algumas coisas não mudam. A gravidez é algo que não para e não pode esperar. O que mudou foi que esse momento, antes comemorado e celebrado com toda a família, passou ser um encontro de poucas pessoas. Um cuidando do outro e todos cuidando do bebê. E, claramente, dúvidas e inseguranças acompanham as grávidas, e é natural que as preocupações com a gestação, o parto e o bebê aumentem no período da pandemia.
Uma das questões mais recorrentes é quanto ao tipo de parto. Muitos acham que a cesárea é mais segura para evitar a contaminação pelo vírus, no entanto, não é verdade. O momento e o tipo do parto devem ser individualizados conforme o estado clínico da gestante, idade gestacional e as condições de vitalidade do bebê.
Vamos falar um pouco sobre o parto normal. Como o próprio nome diz, não há dúvidas de que o parto normal seja a maneira mais natural para se dar à luz ao bebê. A recuperação pós-parto é consideravelmente mais rápida e os riscos são menores quando comparados à cesárea. Além disso, o parto normal estimula a lactação nos primeiros minutos de vida do bebê e fortalece o vínculo entre a mamãe e o bebê. A Organização Mundial de Saúde – OMS – valida todas essas informações e recomenda que, se não houver riscos, não há motivos para intervir com cirurgia para realizar o parto.
Mas, nem sempre o parto normal é possível e a cesárea se faz necessária e, em alguns casos, a cesárea e simplesmente uma escolha da mulher. Nestes casos, quando não for possível a realização do parto normal, a minha indicação é tentar humanizar o máximo possível o parto cirúrgico. Porque, a verdade seja dita, durante a cesárea, as mamães, na maioria das vezes, sentem-se afastadas desse momento tão especial por não conseguirem acompanhar a evolução de todo o procedimento, principalmente porque há uma cortina de tecido que a separa e impede que a mamãe acompanhe visualmente o nascimento do seu bebê.
Há alguns anos, além de outras medidas de humanização que eu já praticava, como a realização do primeiro toque da mamãe e o contato pele a pele com seu bebê ainda ligada pelo cordão umbilical, o clampeamento tardio do mesmo, e a amamentação na primeira hora de vida, eu também passei a adotar no Brasil um “campo cirúrgico transparente” na cesárea, que em resumo é uma cortina transparente, que permite aos pais “assistirem” o parto juntos, participando do nascimento do seu bebê. Ah sim! O campo cirúrgico transparente é esterilizado e, portanto, não há risco de infecções.
Independentemente da escolha do tipo de parto, o ambiente hospitalar é o mais adequado e seguro para diminuir os riscos para as mamães e bebês. As maternidades e os hospitais adotaram normas de segurança e cuidados específicos para a redução do risco de transmissão de doenças e para cuidados intensivos quando necessários.
Não há até agora informações suficientes sobre a nova doença que nos permita dizer se há um impacto específico sobre gestantes. Como o vírus é novo, cientistas não conseguem determinar se há maior risco de contágio ou de agravamento e complicações da doença para essas mulheres, ou os fatores determinantes de transmissão para o feto. Por isso, a indicação de medidas de prevenção para as gestantes são as mesmas, feitas para toda população neste momento: usar máscara quando circular ou interagir com pessoas de fora do seu lar, manter o distanciamento social sempre que possível, evitar aglomerações, manter distância mínima de 2 metros de outras pessoas, lavar as mãos com maior frequência, não tocar o rosto, proteger a boca quando tossir, evitar o convívio com pessoas que tenham os sintomas da doença.
Se a gestante estiver infectada pelo novo coronavírus, o parto normal é o mais indicado, e somente em casos de maior gravidade ou de insuficiência respiratória da mamãe, a cesárea deve ser uma opção recomendada. Ela deve ser internada, se possível, em hospitais de referência, para uma melhor assistência em eventuais complicações para a mãe ou para o bebê.
Artigo por Dra Elis Nogueira, ginecologista e obstetra