Do apogeu às ruínas: ‘Cidades Fantasmas’ conta histórias de abandono e destruição
O documentário “Cidades Fantasmas” - vencedor do festival É Tudo Verdade, em 2017 - chega ao Curta!, trazendo o vazio que permeia sua narrativa
- Data: 16/09/2021 10:09
- Alterado: 16/09/2021 10:09
- Autor: Redação
- Fonte: Curta!
A antiga cidade de Humberstone
Crédito:Divulgação/Curta!
Embora ela seja atravessada pela fala e pela vivência de quem viu cidades se transformarem em ruínas, o silêncio é o pano de fundo de uma triste jornada que passa pelo deserto chileno, pela Amazônia brasileira, pelos Andes colombianos e pelos pampas argentinos.
A notável fotografia do filme, dirigido por Tyrell Spencer, o tempo todo nos coloca diante da sensação de olhar para o passado, como se fôssemos viajantes no tempo que encontram registros de uma civilização que não existe mais. Assim como os objetos e as construções que insistem em se manter, permanecem também as memórias dos antigos moradores daqueles locais. Como se fossem sobreviventes de Pompeia, essas pessoas se descolam daquele tempo e daquele espaço, para não deixar que aquelas cidades e aquelas histórias — que, afinal, são as delas — caiam no esquecimento.
Cada lugar teve seu auge e seu fim. No Chile, a cidade de Humberstone floresceu com a extração do salitre para fabricar fertilizantes — e o salitre chileno era exportado para o mundo todo —, mas tudo mudou quando foram criados substitutos artificiais. Já Fordlândia, no Brasil, foi um distrito operário em um vasto terreno adquirido por Henry Ford, com o objetivo de ser um polo de extração do látex para confecção de pneus para os automóveis da Ford; com a descontinuidade desse projeto, a cidade também foi entrando em decadência.
Armero, na Colômbia, era uma proeminente cidade agrícola; foi destruída pela erupção de um vulcão, que também tirou a vida de 75% de seus habitantes. O balneário de Epecuén, na Argentina, chegou a receber milhares de turistas que iam visitar um lago que, de tão salgado, fazia o banhista flutuar. Esse lago, porém, transbordou e destruiu o que ali havia. No entanto, um homem — que hoje é idoso — ainda vive no que sobrou da cidade. Ele, que se chama Pablo Novak, é um dos entrevistados do filme: “Ando pelas minhas ruínas com um jornal, um livro; e quando vêm os jornalistas ou pessoas que querem saber as histórias, conto o que sei”. A estreia é na Quarta do Cinema, 22 de setembro, às 22h.
No centenário de Carlos Zéfiro, filme apresenta o homem por trás do pseudônimo
Alcides Aguiar Caminha era o homem por trás de Carlos Zéfiro, pseudônimo que assinava quadrinhos eróticos nas décadas de 1950 a 1970. Sua identidade só foi revelada em 1991, décadas depois do sucesso nas bancas de jornal, mas, ainda hoje, pouco conhecemos dele. No centenário do cartunista, o Curta! exibe “Em Busca de Carlos Zéfiro”, documentário do diretor Silvio Tendler (“A Alma Imoral”, 2019; “Jango”, 1984), para mostrar quem foi esse curioso personagem que atuou na clandestinidade e a sua importância para a formação sexual de muitos brasileiros.
Sabe-se que Alcides era um boêmio carioca que completou o ensino médio aos 58 anos e se aposentou como funcionário do Ministério do Trabalho. Em meados do século XX, ele “encarna” Carlos Zéfiro e, durante pelo menos duas décadas, vende seus quadrinhos por baixo dos panos de uma sociedade predominantemente moralista e repressora, sobretudo após o golpe militar de 1964. Apelidadas de “catecismos”, essas revistas foram responsáveis pela educação sexual de mais de uma geração. Através dos seus traços inconfundíveis e de seu marcante estilo narrativo, o autor revelava um novo universo sexual, sensorial e corporal para jovens que não tinham outra fonte de aprendizado sobre o sexo.
Para ajudar a dar conta da importância de Zéfiro, o documentário conta com depoimentos como os do jornalista Juca Kfouri, responsável por revelar quem estava por trás do pseudônimo; do cartunista Ota, do antropólogo Roberto DaMatta e do filósofo francês Dany-Robert Dufour.
“Em Busca de Carlos Zéfiro” é uma produção da Caliban viabilizada pelo Curta! através do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA). A exibição é no domingo, 26 de setembro, à meia-noite.
Segunda da Música (MPB, Jazz, Soul, R&B) – 20/09
22h – “Blitz, O Filme” (Documentário)
O documentário apresenta a trajetória da primeira banda consagrada do pop-rock brasileiro, a Blitz. O longa-metragem explora desde o surgimento do grupo nos anos 1980, sob a lona do Circo Voador, na época situada entre Ipanema e Copacabana, até as turnês internacionais e o sucesso ainda nos dias atuais. Direção: Paulo Fontenelle. Duração: 104min. Classificação: Livre. Horários alternativos: 21 de setembro terça-feira, às 02h e às 16h; 22 de setembro, quarta-feira, às 10h; 25 de setembro, sábado, à 22h.
Terça das Artes – 21/09
21h – “A Ruptura Impressionista” (Documentário)
Este filme refaz a aventura de um grupo de jovens pintores que, a partir de 1874, lançou uma estética que rompeu com o estilo das pinturas históricas exibidas nos salões oficiais da época. Direção: François Lévy-Kuentz Duração: 52 min. Classificação: Livre Horários alternativos: 22 de setembro, quarta-feira, às 01h e às 15h; 23 de setembro, quinta-feira, às 09h; 26 de setembro, domingo, às 15h45
Quarta de Cinema (Filmes e Documentários de Metacinema) – 22/09
22h – “Cidades Fantasmas” (Documentário)
Deserto chileno, Amazônia brasileira, Andes colombianos e Pampa argentino. Quatro destinos na América Latina onde as ruínas e o silêncio são o pano de fundo da nossa jornada. Alguns de seus antigos moradores ainda guardam na memória o que viveram ali e, através de relatos intimistas, evocam lembranças de um passado que não querem esquecer. Com um olhar contemplativo sobre o que restou, refletimos sobre o que deixamos e podemos deixar do nosso legado, entendendo que tudo pode ter um fim e que nada está livre da luta contra o esquecimento. Diretor: Tyrell Spencer Duração: 71min. Classificação: 16 anos. Horários Alternativos: 23 de setembro, quinta-feira, às 02h e 16h; 24 de setembro, sexta-feira, às 10h; 25 de setembro, domingo, às 15h45.
Quinta do Pensamento (Literatura, Filosofia, Psicologia, Antropologia) – 23/09
23h – “Leonardo da Vinci — O Homem Universal” (Documentário)
Como foi possível um único homem pintar a “Mona Lisa”, projetar o paraquedas e dar a primeira descrição clínica da aterosclerose? Feito por ocasião do 500º aniversário da morte de Leonardo da Vinci, este documentário responde essa pergunta e muitas outras, reunindo pistas graças à pesquisa de campo e a encontros com destacados especialistas. Direção: François Bertrand. Duração: 52 min. Classificação: Livre. Horários alternativos: 124 de setembro, sexta-feira, às 03h e às 17h; 25 de setembro, sábado, às 13h25; 26 de setembro, domingo, às 18h30
Sexta da Sociedade (História Política, Sociologia e Meio Ambiente) -24/09
21h- “Hércules 56” (Documentário)
Na semana da independência de 1969, o embaixador americano no Brasil, Charles Burke Elbrick, foi sequestrado. Em sua troca foi exigida a divulgação de um manifesto revolucionário e a libertação de 15 presos políticos, que se opunham à ditadura militar. Banidos do território nacional e com a nacionalidade cassada, eles foram levados ao México no avião da FAB “Hércules 56”. Por meio de entrevistas com os sobreviventes, os fatos dessa época são relembrados. Direção: Silvio Da-Rin. Duração: 94 min. Classificação: Livre. Horários alternativos: 25 de setembro, sábado, às 01h; 26 de setembro, domingo, às 19h30
Sábado – 25/09
18h – “O Som e o Silêncio ” (Série) – Ep.: “Instrumentos de Samba”
“Quando o repique sobe, o primeiro instrumento a entrar é o surdo de primeira, que é o surdo mais grave, mas ele aí já está no segundo tempo do compasso”. O fraseado meio indecifrável é de Gabriel Policarpo, músico que, acompanhado por outros ótimos instrumentistas, nos apresenta os instrumentos de samba. No final, tudo fica mais claro, e se traduz na performance afinada da batucada sob a batuta de Gabriel. Paralelamente, o apresentador Marcos Suzano faz uma visita guiada por Roberto Guaringuia à fábrica Contemporânea, onde acompanha os ruídos das máquinas, que trabalham no ritmo do pandeiro. Está longe o tempo em que o fogo era usado para esticar os couros dos instrumentos, mas a linha de produção ainda não dispensa o artesanato. Diretores: José Joffily, Pedro Rossi Duração: 27 min. Classificação: Livre.
Domingo – 26/09
00h – “Em Busca de Carlos Zéfiro” (Documentário)
As revistinhas em quadrinhos criadas por Carlos Zéfiro e vendidas de forma clandestina em bancas de jornal do país inteiro, dos anos 1950 aos 70, alimentaram desejos reprimidos de adultos e apresentaram a muitos jovens inexperientes os segredos do sexo. O documentário “Em busca de Carlos Zéfiro” aborda a relevância dessas publicações para a sexualidade de gerações que se formaram em tempos onde a comercialização de obras pornográficas era considerada crime. Com um traço inconfundível e um estilo narrativo marcante, os quadrinhos de Zéfiro eram os mais pedidos pelos clientes e também os mais imitados pelos concorrentes. “Em busca de Carlos Zéfiro” nos leva ao seu autor, um pacato funcionário público, e a um dos mais bem guardados segredos do mercado editorial, que só foi desvendado nos anos 1990. Diretor: Silvio Tendler. Duração: 90 min. Classificação: 18 anos.