Movimento reúne instituições para requalificar conversa sobre a Depressão no Brasil
Coalizão pretende ampliar conhecimento sobre Depressão e Suicídio, contribuindo para um ambiente mais empático e acolhedor
- Data: 20/08/2020 21:08
- Alterado: 20/08/2020 21:08
- Autor: Redação
- Fonte: Janssen
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Dar o primeiro passo nunca é fácil para quem tem Depressão. Falta de conhecimento, negação dos sintomas, crença de que “pode dar uma animada por conta própria” ou simplesmente medo de ser julgado por outras pessoas. Diante de tantos estigmas e da necessidade de criar um ambiente mais favorável a quem precisa de ajuda especializada, um grupo de renomadas instituições acaba de lançar o Movimento Falar Inspira Vida. Trata-se de uma iniciativa que pretende requalificar a conversa sobre a Depressão, por meio do conhecimento, contribuindo para uma sociedade mais preparada e acolhedora.
Para cumprir com esta missão, o movimento criou um guia que explica como falar da maneira mais adequada sobre Depressão e Suicídio, utilizando como base expressões e comentários corriqueiros. O material pode ser acessado no site www.falarinspiravida.com.br, baixado e compartilhado. “O guia é resultado de um trabalho coletivo entre os membros do movimento. Mais do que trazer frases que carregam julgamentos, explicamos por que elas não ajudam e sugerimos formas de mudar o tom da conversa”, comenta Fábio Lawson, Diretor Médico da Janssen, empresa farmacêutica da Johnson & Johnson.
Liderada pela Janssen, a coalizão é formada pela Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos (ABRATA), Centro de Valorização da Vida (CVV), Departamento de Psiquiatria da UNIFESP, Instituto Crônicos do Dia a Dia (CDD), Instituto Vita Alere, Vitalk e revista VEJA Saúde.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a Depressão afeta cerca de 300 milhões de pessoas em todo o mundo (4,4% da população mundial). No Brasil, a prevalência é um pouco maior do que a média: 5,5% ou um total de 11,5 milhões de brasileiros – número que, nas Américas, só é superado pelos Estados Unidos. Ainda de acordo com a OMS, são registrados cerca de 11 mil suicídios todos os anos no país e mais de 800 mil no mundo1, sendo que 97% dos casos estão relacionados a transtornos mentais e, em primeiro lugar, à Depressão.
“A Depressão é um desequilíbrio biológico importante e que afeta todo o organismo. A vida estressante que levamos, a violência, a pressão que sofremos para funcionar em diversos aspectos da vida contribuem para o aumento do número de pessoas com o transtorno. Principalmente nos casos graves, a sensação de angústia, pensamentos mórbidos podem fazer com que a que pessoa tenha impulsos suicidas porque ela não suporta a dor que está sentindo e não vê saída para aquela situação. As pessoas com esse desequilíbrio biológico estão mais propensas a desenvolver doenças autoimunes, câncer e doenças cardiovasculares”, explica o Dr. Jair Mari, Chefe do Departamento de Psiquiatria e Psicologia Médica da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP).
Apesar da alta prevalência, o estigma sobre Depressão e Suicídio – que foi construído ao longo da História, ora associados à melancolia, ora ao sobrenatural – ainda permanece e reforça o preconceito e a desinformação em torno da saúde mental. O resultado é uma sociedade que ainda tem dificuldade de dialogar sobre o tema e desconhece os diferentes tipos da doença, os caminhos para um diagnóstico correto e a melhor forma de tratar e acolher os pacientes.
“É comum as pessoas próximas, geralmente familiares, acharem que a pessoa com Depressão está exagerando, fazendo corpo mole ou está com preguiça. Há um grande desconhecimento. No entanto, quando eles começam a buscar informação e a entender que a Depressão é uma doença, que afeta não só o paciente, mas toda a família, e que há possibilidade de tratamento as coisas começam a mudar”, explica Marta Axthelm, Presidente da ABRATA.
SETEMBRO AMARELO
E no mês de setembro, a campanha chegará à linha amarela do metrô, em São Paulo. Durante todo o período, um vagão estará personalizado com o mote da campanha e trará expressões que muitas vezes utilizamos no dia a dia e que precisam ser requalificadas. Vídeos animados nas telas dos vagões de toda a linha amarela também farão um convite à população: ” “Palavras importam – Informe-se e faça bom uso delas”, com QR code que redirecionará para o guia completo.
Alguns exemplos que o Guia traz:
O que a pessoa escuta: “Nossa, que exagero. Você acha mesmo que precisa procurar um psiquiatra?”
Por que isso não ajuda: Em primeiro lugar, é importante refletir o seguinte: se a pessoa chegou a mencionar a hipótese de consultar um psiquiatra, significa que ela pensou muito sobre isso para reconhecer essa necessidade. A reação não é nada acolhedora porque pode dar a impressão de que o paciente é desajustado por procurar esse especialista. Aliás, já que estamos reconstruindo a maneira de falar sobre depressão, é importante lembrar que o psiquiatra é o médico mais qualificado para cuidar da saúde mental, assim como o cardiologista cuida do coração e o pneumologista, do pulmão.
Como seria melhor: “Você já achou o especialista? Precisa de ajuda para encontrar? Acho muito bacana sua iniciativa de procurar um psiquiatra.”
O que a pessoa escuta: “Depressão? Isso é frescura. É desculpa de quem não quer fazer nada”
Por que isso não ajuda: É importante refletir que esse tipo de comentário perpetua o preconceito e passa a impressão de que a depressão é algo menor, sem importância. A depressão é uma doença invisível que impacta diretamente a vida das pessoas, e não uma escolha que elas fazem. Reações como essas, inclusive, afastam qualquer um que esteja enfrentando sofrimento emocional de uma conversa sobre o tema, o que pode ser a primeira barreira para a busca por ajuda. É preciso refletir sobre as frases automáticas que surgem quando se fala de depressão para conseguir transformar o julgamento em acolhimento.
Como seria melhor: “Nunca tive depressão e não imagino como isso deve ser difícil. A depressão é uma doença como qualquer outra, e falar sobre isso é um bom começo.”
O que a pessoa escuta: “Você é um ingrato(a) ao falar de suicídio. Tem tanta gente com problemas mais graves que o seu.”
Por que isso não ajuda: Nunca duvide de uma pessoa que diz que está pensando em se matar. É um mito a ideia de que “quem fala que vai se matar só quer chamar a atenção”. Ela pode estar passando por dor e sofrimento profundos, que a fazem considerar o suicídio como uma forma de alívio, de fuga desses sentimentos. Encontrar alguém que possa ouvir e compreender esses pensamentos fortalece as intenções de viver.
Como seria melhor: É importante acolher, abrir espaço para o desabafo, conversar para entender o que está acontecendo e procurar ajuda: “Você está vivendo um momento muito difícil, né? Não consigo nem imaginar o que você está sentindo, mas estou aqui caso queira conversar”. E também: “Pode parecer difícil de acreditar agora, mas existem outras maneiras de aliviar seu sofrimento. Com ajuda especializada é possível melhorar. Vamos procurar um médico?”.
Outro ponto importante: se a pessoa parecer estar em perigo imediato, não a deixe sozinha. Procure ajuda de serviços de emergência um profissional de saúde, ou consulte algum familiar dessa pessoa