Sesc Santo André recebe exposição Impressões: sentimentos do corpo
Mostra apresenta um conjunto de obras de Rosa Esteves que abordam questões relacionadas ao corpo feminino
- Data: 11/06/2018 09:06
- Alterado: 11/06/2018 09:06
- Autor: Redação
- Fonte: Sesc Santo André
Crédito:Rosa Esteves
O corpo humano, sob olhares materiais ou filosóficos, é repleto de significados. Sua anatomia ganha diferentes entendimentos, de acordo com a extensão limitada dos cinco sentidos, a partir de um conjunto de sistemas orgânicos capaz de se tornar instrumento de expressão do coletivo e de aprendizado individual. Corpos são registros da própria história humana, guardam em si manifestações culturais e artísticas marcadas pela identidade de um ser inserido em seu contexto mais amplo. A condição do corpo feminino, em especial, reserva a possibilidade de dar vida a outros seres. Exala, de maneira sutil e intensa, o poder silencioso da metamorfose e a capacidade de entrega e oferecimento do próprio corpo à causa da criação.
São estes corpos, imersos em seus mais variáveis estados simbólicos, que constituem a principal matriz da exposição Impressões: sentimentos do corpo, da artista Rosa Esteves, que estará na Galeria do Sesc Santo André a partir do dia 12 de junho. A exposição reúne obras que abordam questões relacionadas ao corpo e à condição feminina em diferentes formas de representação. Em sua produção artística, Rosa utiliza diferentes elementos da natureza como pedras, conchas, ouriços e estrelas do mar, além de produzir obras com partes de seu próprio corpo em cerâmica e pedaços de chocolate, originando gravuras peculiares e objetos tridimensionais que se misturam com contextos históricos e lançam novos olhares às questões do corpo feminino. Algumas obras da exposição também são apresentadas em obras táteis, com uma equipe educativa preparada para visitas acessíveis que oferecem ao público a experiência de tocar e sentir as curvas, texturas e materiais utilizados pela artista.
É desta maneira que Rosa procura dar voz a profundos sentimentos e emoções reprimidas de forma intensa e delicada. As obras escolhidas para esta exposição, com curadoria de Vera d’Horta e produção e design gráfico de Wanda Gomes, se apoiam nesta questão de tensão e ruptura através de peças em cerâmica, impressões, assemblages, moldes em gesso, objetos em resina, livros de artista e painéis adesivos. São obras produzidas entre 1991 e os dias atuais, apresentando uma parcela significativa da produção de Rosa Esteves.
Em algumas de suas obras, a artista utiliza sua própria anatomia para dar origem a peças de resina de poliéster, chamadas Fragmentos de corpo. Rosa também utiliza seu corpo como instrumento artístico na performance Corpo comestível, que será apresentada na abertura da exposição, dia 12 de junho, às 20h. O público terá a oportunidade de experimentar peças produzidas em chocolate a partir da simbologia antropofágica, em que bocas, narizes, dedos, seios e porções maiores do torso são usados para moldar cada peça.
Nos dois trabalhos chamados Vestígio de corpo, Rosa realiza registros anatômicos sutis, que não guardam o calor do corpo vivo. Ainda se distinguem os seios sequenciados, o torso fatiado, mas a sensualidade é abafada pela repetição e junção entre as partes. As peças em gaze gessada moldam um novo volume, voltado sobre si mesmo como um casulo, como nas esculturas em cerâmica de nome Mater.
O prazer de manusear o barro está presente na obra Pupas, pequenas bonecas de sexo e seios enormes em relação à sua estatura reduzida. São esculturas de cerâmica, de valor simbólico como os ícones pré-históricos da fertilidade. Na escultura Nutritivas, a boneca de barro vai sendo consumida pelas sementes que brotam e se desenvolvem a partir do interior do corpo em argila. Rosa volta a utilizar o próprio corpo na série Deusas, cobrindo-se de tinta guache e imprimindo-se sobre papel.
A artista possui uma investigação consistente em temas relacionados ao feminino, o que inclui a pesquisa pessoal e histórica sobre a vida de sua tia, a educadora Eunice de Caldas. Ela se associou ao Liceu Feminino em 1902, do qual se tornou diretora, produzindo um trabalho pioneiro sobre educação feminina. Esteve internada em sanatórios por três períodos, tendo falecido durante a terceira internação, sendo que o diagnóstico de ‘loucura’ misturava-se aos desvios de comportamento considerado ‘normal’ para as mulheres de sua época. O que se iniciou como pesquisa histórica e pessoal acabou produzindo experimentações artísticas em diversas técnicas e materiais, inspirando os trabalhos Memórias submersas, De todo coração e Espalhe o coração pela cidade.
Na exposição que estará no Sesc Santo André, os corações iluminados representam uma homenagem a essa personagem da memória afetiva de Rosa Esteves. O corpo infantil permanece lembrando, no adulto, os sobressaltos e sentimentos confusos deixados pela lembrança de casas escuras povoadas de cantilenas sombrias e loucas palavras de sentido partido. É este instante que interessa à artista: o momento da sua imersão num universo paralelo, múltiplo e não regido pela razão.
Sobre Rosa Esteves
Rosa Maria Esteves Migotto nasceu na cidade de São Paulo. Cursou Artes Plásticas na Fundação Armando Álvares Penteado em 1976, e Pós-Graduação com Mestrado em museologia, pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo em 1984. Trabalhou, de 1981 a 2016 no Museu Lasar Segall, IBRAM/MinC, em São Paulo, onde coordenou o Arquivo Fotográfico Lasar Segall e o Setor de Museologia. Foi orientadora do ateliê de gravura de 1989 a 1991, e atuou como pesquisadora em artes visuais nos grupos de estudos Arte, Memória e Tempo, e Identidade e Ausência: aproximações da imagem fotográfica como veículo de identidade, conduzido pela Profa. Dra. Luise Weiss, ambos na Faculdade Santa Marcelina.
A partir de 1980 expõe individualmente na ITAÚ Galeria de Arte de São Paulo (1982 e 1995) e na ITAÚ Galeria de Arte de Ribeirão Preto/SP (1988); Galeria SESC Paulista/SP (1996); na Bienal SESC de Dança em Santos/SP (2002 e 2008); na Galeria SESC de Ribeirão Preto/SP (2004); na inauguração do SESC Pinheiros/SP (2004); Hood College, Frederick, Maryland, USA (2007). Tem participado de vários coletivos, como Linha Imaginária (2002 a 2008); Circulando em outras dimensões (2009 a 2011) e Terras indígenas (2010/2011). Em 2012, foi contemplada no Edital de Artes Visuais – ProaC 21 e realizou a exposição de todo coração, na Graphias – Casa da Gravura. De janeiro a março de 2013 realizou a foto-instalação Mulheres brancas no SESC de Ribeirão Preto/SP. Vive e trabalha em São Paulo. Realizou 20 exposições individuais e participou de mais de 70 exposições coletivas, no Brasil e exterior.
Sobre Vera d’Horta
Vera d’Horta é historiadora da arte, tendo realizado diversas exposições e pesquisas em instituições museológicas e culturais do país. Dedicada à arte moderna e contemporânea, é reconhecida no campo das artes visuais por sua trajetória e contribuições para a área. É Doutora em História da Arte pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, Bacharel e Mestre em Filosofia pela USP e Bacharel em Jornalismo pela Escola de Comunicação Social Cásper Líbero. Coordenou o Setor de Pesquisa em História da Arte do Museu Lasar Segall, de 1984 a 2014, quando se aposentou. Foi responsável pelo Arquivo Histórico da Bienal (1984 – 92) e Diretora Técnica da Divisão de Pesquisas do Centro Cultural São Paulo Paulo (1983 – 84).
Vera é pesquisadora e curadora independente, organizou mostras de Lasar Segall, no Brasil e no exterior, e as retrospectivas de Maria Leontina, Raphael Galvez, Gerda Brentani, Arnaldo Pedroso d’Horta e Fernando Lemos, além de outras exposições. Publicou Lasar Segall e o Modernismo Paulista (Brasiliense, 1984, Prêmio Jabuti de Literatura), O Museu de Arte Moderna de São Paulo (Dórea Books, 1995), Lasar Segall (Velox, 1999), Raphael Galvez (Momesso, 1999), O Olho da Consciência: juízos críticos e obras desajuizadas. Escritos sobre arte de Arnaldo Pedroso d’Horta (Edusp/IMESP, 2000, Prêmio Sérgio Milliet da ABCA). Recebeu Bolsa de Pesquisa da ARIAH (Association of Research Institutes in Art History, Washington, DC, 1995), Bolsa VITAE de Artes (1990), foi bolsista do CNPq (1987 – 88) e da Fapesp (1971 – 73). Integrou a Comissão Técnica do Projeto Catálogo Raisonné Tarsila do Amaral. Faz parte do Conselho Editorial da Revista de História da Arte e Arqueologia da UNICAMP e da Comissão de Parecer do Museu Lasar Segall. É membro votante do CIMAM/ICOM, órgão da Unesco.
ROSA ESTEVES
impressões: sentimentos do corpo
Abertura
Dia 12 de junho, terça-feira, às 20h.
Artista realiza performance Corpo comestível.
Visitação
De 13/06 a 23/09/2018
Terça a sexta, das 10h30 às 21h30.
Sábado, domingo e feriado, das 10h30 às 18h30.