Show festeja os 40 anos de lançamento de ‘Feliz Ano Velho’
O lançamento ocorre nesta quinta-feira, 15, no Sesc Pompeia, o mesmo lugar onde o livro foi descoberto pelos leitores
- Data: 15/12/2022 14:12
- Alterado: 15/12/2022 14:12
- Autor: Redação ABCdoABC
- Fonte: Estadão Conteúdo
Crédito:Reprodução
Faz exatos 40 anos que a publicação do livro Feliz Ano Velho chacoalhou o mercado editorial brasileiro – lançado pela Brasiliense, editora de grande tradição, o romance autobiográfico de Marcelo Rubens Paiva conquistou, em pouco tempo, uma legião de fãs, que esgotavam os exemplares nas livrarias, obrigando o editor Caio Graco Prado a autorizar fornadas cada vez maiores de novas edições.
Com uma escrita viva, corriqueira, apaixonante, o livro marcou os jovens da geração dos anos 1980, que se preparava para a redemocratização, estabelecendo-se durante quatro anos na ponta da lista dos mais lidos com a venda de mais de 700 mil exemplares – isso em uma época em que o grupo de leitores era bem menor do que o de hoje. Para comemorar as quatro décadas, a Companhia das Letras lança agora uma edição comemorativa, que inclui caderno de fotos e apresentação de Maria Ribeiro. O lançamento ocorre nesta quinta-feira, 15, no Sesc Pompeia, o mesmo lugar onde o livro foi descoberto pelos leitores, há 40 anos.
“Foi um sucesso surpreendente, incomum”, comenta Paiva, de 63 anos, colunista do Caderno 2. “Eu era tratado como uma estrela de rock. Fiquei completamente atordoado, porque eu estava retomando a faculdade de comunicação, começando a curtir a vida sem rumo. Não sabia lidar com aquele assédio. Fiquei um pouco em pânico até. Com toda a humildade, há algo no livro que eu mesmo não consigo explicar. Talvez uma energia de como superar um trauma grande, que me parece um conflito universal, quase arquetípico. Pegou as pessoas pela sinceridade e linguagem direta. Foi uma novidade, numa época em que a literatura seguia à risca os manuais da norma culta.”
De fato, a trama gira em torno da vida do adolescente Paiva, cujo rumo mudou radicalmente no dia 14 de dezembro de 1979 – naquela data, ele foi com amigos aproveitar o dia de sol em uma cachoeira às margens da Rodovia dos Bandeirantes, em São Paulo. Confiante, ele subiu até o alto de uma pedra e de lá gritou, empolgado, que estava na caça de um tesouro – em seguida, deu um pulo no estilo Tio Patinhas, como descreveu depois.
APITO
O local, porém, era raso e Paiva bateu a cabeça no fundo do lago. Imediatamente, um zumbido invadiu seus ouvidos (Piiiiiii), seguido do desespero – ele não conseguia mexer as pernas. Retirado da água pelos amigos, foi levado a um hospital e socorrido por médicos, que constataram fratura da vértebra cervical, que comprimiu sua medula. Dali em diante, o jovem que completara 20 anos viu sua vida mudar radicalmente, dependendo de uma cadeira de rodas.
Com o futuro violentamente alterado, Marcelo logo recebeu o socorro moral de Caio Graco Prado (1931-1992), um amigo da família Paiva e, naquele momento, início da década de 1980, um editor que promovia uma verdadeira revolução no mercado de livros no Brasil ao lançar coleções de livros pequenos voltados para público universitário em crescente expansão naquela época. “Escreva sobre isso que você está vivendo”, ele foi incisivo com o jovem, que relutou: “Mas Caio, quem vai se interessar por uma questão tão agressiva, violenta e trágica que aconteceu com um garoto de 20 anos?”.
“Eu estava escrevendo contos de ficção, resenhas e textos em fanzines independentes”, relembra hoje Paiva. “Caio me fez a sugestão e, na hora, fiquei encabulado: ele era o editor mais em voga, oferecendo espaço na melhor coleção literária, justamente a que revelava novos autores. Ele teve uma visão: eu escrevendo ainda no furacão das emoções dionisíacas, com cheiro de éter de hospital impregnado, e vivendo a abstinência da morfina.”
A provocação surtiu efeito – Feliz Ano Velho reúne lembranças de sua juventude e relata, com detalhes íntimos, a vida pré e pós-acidente. Permitiu também que muita gente descobrisse a história do pai, o deputado federal Rubens Paiva, morto em janeiro de 1971, um dia após ser preso pelo regime militar sem nenhum motivo que justificasse.
CLÁSSICOS
Durante o processo de escrita, Marcelo Paiva, apoiou-se em quatro grandes autores: Machado de Assis, especialmente em Memórias Póstumas de Brás Cubas (“obra escrita em brasileiro e não em português”); e nos americano J.D. Salinger (e seu clássico O Apanhador no Campo de Centeio), Ernest Hemingway e F. Scott Fitzgerald. Dessa alquimia, produziu uma narrativa sedutora. “Vou a debates e eventos e escuto de muitos escritores que admiro que eles foram influenciados pelos meus livros. E me surpreendo, porque nunca me considerei um autor refinado, apolíneo. A linguagem contemporânea, que eu misturava com a linguagem de rua, fez muita gente acreditar que a literatura não é privilégio de poucos.”
Muitas dessas histórias prometem ser redescobertas no evento desta quinta, às 21h30, na Comedoria do Sesc Pompeia. Ali, vai ser apresentado o show PoemaCombate, projeto que reúne músicos e poetas de diferentes vertentes para um espetáculo com experimentações com a música e poéticas contemporâneas.
No repertório, músicas, textos e poemas autorais, que i