Equipe de Lula quer reforçar poder dos Estados sobre PMs
Medida, na prática, reforça o controle sobre as tropas, que mergulharam no debate político-partidário no mandato de Jair Bolsonaro
- Data: 30/11/2022 12:11
- Alterado: 30/11/2022 12:11
- Autor: Redação ABCdoABC
- Fonte: Estadão Conteúdo
Crédito:Reprodução
A equipe de transição do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva estuda uma proposta que aumenta o poder dos governadores sobre as polícias civil e militar e reduz a influência do Exército e do governo federal sobre as corporações. A medida, na prática, reforça o controle sobre as tropas, que mergulharam no debate político-partidário no mandato de Jair Bolsonaro (PL).
Parte dos agentes de segurança flertou com radicalismos e ameaças ao sistema democrático, violando regras da corporação. O texto entregue ao coordenador da transição, Aloizio Mercadante, conflita com o lobby das cúpulas das polícias. Elas vinham tentando aprovar uma lei que restringia o poder dos governadores. Pela Constituição, as polícias militar e civil e o Corpo de Bombeiros são subordinados ao chefe do Executivo estadual.
O anteprojeto de lei foi encomendado pela equipe de Lula ao Fórum Brasileiro da Segurança Pública (FBSP) e está sendo discutido com grupo de segurança pública da transição, liderado pelo senador eleito Flávio Dino (PSB-MA), cotado para ministro da Justiça. Ao Estadão, ele disse que encampar ou não a proposta cabe inicialmente a algum dos relatores da equipe – e evitou fazer uma avaliação geral sobre o texto.
No grupo de Dino há simpatia por pontos do projeto, como o de reforçar a subordinação aos governadores e o de impedir a convocação das tropas estaduais diretamente pelo Exército. Também não haveria empecilho ao incremento do controle de armas das polícias. No entanto, a aprovação demandaria rediscutir dispositivos “sagrados” para as polícias, como as regras previdenciárias, o que inviabilizaria o conjunto da proposta.
Na semana passada, Dino recebeu comandantes das PMs e ouviu a reivindicação de apoio à aprovação de uma lei orgânica. Em resposta, disse estar disposto a discutir o pleito desde que “não subtraiam a autoridade dos governadores”.
Projetos já discutidos na Câmara versavam sobre autonomia administrativa e financeira das polícias e foram vistos com preocupação por estudiosos e pelos Estados em razão dos riscos de os governadores se tornarem reféns dos comandantes. Os motins nas polícias nos últimos anos aumentaram a preocupação.
Na pré-campanha, manifestações políticas de policiais militares da ativa mobilizaram órgãos de controle por medo de envolvimento das tropas em um “golpe de estado” puxado pelas Forças Armadas. A tensão obrigou líderes das polícias a garantirem a subordinação e o respeito à hierarquia.