Exposição Holocausto chega ao fim em São Caetano
Palestra de duas sobreviventes marca o encerramento da exposição que contou com milhares de visitantes que se conscientizaram sobre os horrores do holocausto
- Data: 01/07/2016 14:07
- Alterado: 16/08/2023 19:08
- Autor: Alexandre Costa
- Fonte: PMSCS
Rita Braun e Nanette Konig fizeram relatos emocionantes como sobreviventes do Holocausto
Crédito:Eric Romero/PMSCS
A exposição Jamais Esquecidos – Holocausto, que durante o mês de junho recebeu milhares de visitantes no Centro de Capacitação dos Profissionais da Educação (Cecape) de São Caetano do Sul, foi encerrada na noite desta quinta-feira (30/6) com uma palestra de duas sobreviventes: a holandesa Nanette Konig e a polonesa Rita Braun. O evento lotou o teatro do Cecape, comprovando o sucesso da mostra que teve como intuito conscientizar os visitantes para que os horrores do Holocausto, que vitimou 6 milhões de judeus durante a Segunda Guerra Mundial.
“O resultado da exposição aqui em São Caetano foi maravilhoso. Trouxemos para a discussão temas como o ódio, a intolerância e o racismo e recebemos a visita milhares de jovens, adolescentes e adultos”, destacou Luiz Rampazzo, diretor-executivo da Special Books e curador da mostra. “Quando não conhecemos a história, é possível que cometamos os mesmos erros. O que nos deixa feliz é ver como os jovens estão atentos para estes temas.”
O coordenador do Cecape, Paulo Sérgio Garcia, salientou a importância da iniciativa, que teve o apoio da Secretaria Municipal de Educação da Prefeitura. “A exposição sobre o Holocausto foi fundamental para o aprendizado de nossos alunos. Não é apenas uma atividade da disciplina de História, é muito mais que isso: é uma questão de promover a tolerância e combater o preconceito”, avaliou o educador, lembrando que não podemos nos ver como parte de grupos diferentes. “Todos somos humanos.”
O público que lotou o teatro do Cecape acompanhou com muita atenção o relato das sobreviventes, participando com perguntas. Rita Braun, que perdeu 42 pessoas de sua família durante o Holocausto, descreveu a sensação diária de que seria morta pelos nazistas enquanto viveu num gueto na Polônia. “Eu só queria ter o direito que todas as crianças que não eram judiais tinham, queria poder brincar.”
A polonesa chegou ao Brasil aos 18 anos e é muito agradecia pela acolhida que teve no País. “Os brasileiros não dão valor ao País que têm. O brasileiro é um povo maravilhoso”. Rita também deu uma lição sobre tolerância. “Nós todos somos iguais, não importa a fé, a cor, a religião, não importa nada. Somos todos filhos de Deus, então que cada um siga seu caminho em paz. Infelizmente eu aprendi isso na guerra.”
Nanette Konig também fez um relato emocionante sobre sua experiência de vida. A holandesa descreveu com detalhes os horrores enfrentados pelos judeus após a invasão alemã ao país em maio de 1940. “Quando os nazistas chegaram a gente sabia que nossa vida ia ser mudada completamente, mas não poderíamos esperar o que aconteceu”. Ela fez questão de lembrar que muitos holandeses colaboraram com os nazistas na perseguição à comunidade judaica. “A Europa toda era antissemita. Apenas uma minoria na Holanda se arriscou para ajudar os judeus.”
Em 1944, Nanette Konig foi levada pelos nazistas para o campo de concentração de Bergen-Belsen, no norte da Alemanha. Um dos momentos mais trágicos foi quando um guarda do campo lhe tirou de uma fila de prisioneiros e apontou uma arma para sua cabeça. “Acho que minha indiferença se ele iria me matar ou não foi tão grande que talvez isso tenha me salvado. Ele acabou atirando para o ar.”
No campo de Bergen-Belsen a sobrevivente reencontrou a colega de escola Anne Frank, que acabou morrendo por conta dos maus-tratos. “O sonho dela era transformar o diário que escrevia em um livro depois da guerra”. A holandesa se tornou a única sobrevivente em sua família e conta que, quando da libertação do campo pelos ingleses em 1945, estava com a saúde muito debilitada e pesava apenas 30 quilos. “Passei três anos internada para me recuperar.”
MEMÓRIA – No relato de ambas as sobreviventes, uma espécie de dever moral se sobressai: a manutenção da memória do Holocausto. “A obrigação de nós que sobrevivemos é sempre contar a história. Até quando eu entro em um taxi já vou logo falando sobre minha experiência para o motorista”, afirmou Rita Braun. “Os nazistas conseguiram matar dois terços dos judeus do mundo. Eu tenho a obrigação de falar sobre isso, porque quem morreu não pode”, ressaltou Nanette Konig.
A principal lição que fica do relato das sobreviventes é a necessidade de se lutar contra o ódio e a intolerância. “Num regime totalitário não se tem respeito pelos direitos humanos e pela vida das pessoas. Não basta dizer que algo como o Holocausto nunca mais vai acontecer. Temos de ter consciência das condições econômicas e sociais que permitiram que ele ocorresse, temos de saber reconhecer os sinais do perigo antes que seja tarde. O preço da liberdade é a eterna vigilância”, concluiu Nanette Konig.