‘Projeto Zika’ atenderá gratuitamente crianças com microcefalia e gestantes

INESP, FMABC, SBNI e FUABC coordenarão trabalho voluntário de neuropediatras, médicos clínicos, psicólogos, fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais. Agende sua consulta

  • Data: 15/06/2016 15:06
  • Alterado: 15/06/2016 15:06
  • Autor: Eduardo Nascimento
  • Fonte: FUABC
‘Projeto Zika’ atenderá gratuitamente crianças com microcefalia e gestantes

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Após dois meses de preparativos, com criação de protocolos e fluxos assistenciais, Instituto Neurológico de São Paulo (INESP), Faculdade de Medicina do ABC (FMABC), Sociedade Brasileira de Neurologia Infantil (SBNI) e Fundação do ABC (FUABC) estão prontas para iniciar os atendimentos no “Projeto Zika”. Trata-se de iniciativa multiprofissional inédita para atendimento gratuito de crianças com microcefalia e suporte psicológico às mães e gestantes infectadas pelo Zika vírus, com participação de voluntários nas áreas de Neuropediatria, Neurologia, Clínica Médica, Psicologia, Fisioterapia e Terapia Ocupacional.

O agendamento de consultas já está disponível pelo telefone (11) 4116-9553 (secretária Érica), das 10h às 17h. A triagem ocorrerá no Instituto Neurológico de São Paulo (Rua Maestro Cardim, 808, Bairro Paraiso, São Paulo – próximo ao Metrô Vergueiro). De acordo com o diagnóstico, o seguimento ambulatorial será dividido em consultas no próprio instituto e nos ambulatórios de especialidades da FMABC, em Santo André (Av. Príncipe de Gales, 821).

ATENÇÃO MULTIPROFISSIONAL
Batizada “Projeto de Atendimento e Assistência – Vírus Zika: a Ética do Cuidar”, a iniciativa surgiu a partir da inquietação da professora de Endocrinologia da Faculdade de Medicina do ABC e neuroendocrinologista do Instituto Neurológico de São Paulo, Dra. Maria Angela Zaccarelli Marino, frente ao número crescente de bebês com microcefalia e ao desespero de mães e de gestantes, que não sabem como lidar com essa situação.

 “A mídia mostrava dia após dia o aumento dos casos de Zika vírus e, consequentemente, de crianças com microcefalia. Por outro lado, o Brasil não está preparado para essa situação e não possui estrutura adequada, multiprofissional, que atenda integralmente as gestantes e as crianças. Por essa razão comecei a conversar com colegas da Faculdade de Medicina do ABC e do Instituto Neurológico de São Paulo, em busca de voluntários dispostos a abrir espaço em suas agendas para participar dessa iniciativa assistencial e de acolhimento às famílias”, recorda Maria Angela Zaccarelli Marino.

A adesão dos profissionais foi imediata e o grupo passou a organizar a logística para os atendimentos, assim como protocolos e fluxos assistenciais. Ao todo são 14 voluntários envolvidos no projeto, que receberá mulheres grávidas com confirmação ou suspeita de infecção pelo Zika vírus, assim como crianças com suspeita ou confirmação de microcefalia. “O objetivo principal é prestar atendimento de alta complexidade, auxiliando e apoiando outras instituições, parceiras ou não, com o diagnóstico, notificações e manejo corretos de cada caso”, define Dra. Maria Angela Zaccarelli Marino.

MICROCEFALIA
A microcefalia é uma malformação congênita, que afeta o desenvolvimento e o crescimento normais do cérebro. Como consequência, o tamanho do crânio do feto ou da criança é menor do que o padrão mínimo para a idade.

As principais causas que levam à microcefalia, ou seja, que afetam o desenvolvimento cerebral, ocorrem ainda dentro do útero materno. A rubéola, a toxoplasmose e o citomegalovírus na gestante são os agentes mais conhecidos que podem ocasionar essa malformação no feto e os obstetras sempre pedem exames para detectar tais agentes infecciosos. A doença também pode ocorrer como consequência do abuso de álcool e drogas ou por questões hereditárias, genéticas.

 “Infelizmente, hoje o Brasil vive surto de microcefalia. São milhares de casos registrados em todo o país, cuja causa não é nenhuma das mencionadas anteriormente. O principal problema é o mosquito Aedes aegypti, que transmite a dengue, a febre chikungunya e também o Zika vírus – este último, o grande responsável pelo aumento dos casos de microcefalia”, detalha o professor de Neuropediatria da Faculdade de Medicina do ABC e presidente da Sociedade Brasileira de Neurologia Infantil, Dr. Rubens Wajnsztejn, um dos grandes parceiros do “Projeto Zika”.

O Zika fica somente de 4 a 5 dias em circulação no organismo, o que dificulta muito a identificação do vírus. Além disso, muitas dessas infecções apresentam sintomas pequenos e passageiros ou até mesmo nenhum sintoma, fazendo com que a gestante nem sequer suspeite de que foi infectada. Quando ocorrem sintomas perceptíveis, os principais são febre baixa, náusea, dores de cabeça, de garganta, nas articulações e pelo corpo, manchas e lesões na pele. Em alguns casos pode ocorrer conjuntivite.

 “As microcefalias não são iguais e são vários os níveis de comprometimento cerebral. Se a infecção da gestante pelo Zika ocorrer no primeiro trimestre da gravidez, a microcefalia será mais grave. Se ocorrer no segundo trimestre, também pode haver um atraso no desenvolvimento do cérebro da criança, porém, um atraso não tão importante quanto no início da gestação”, explica Dr. Rubens Wajnsztejn, que acrescenta: “Entre as sequelas mais comuns, a microcefalia pode levar ao comprometimento visual, da audição ou da fala, por exemplo. Contudo, de maneira geral, o grande problema é a deficiência intelectual e cognitiva. A maioria das crianças com microcefalia vai andar, vai correr, mas vai ter grande dificuldade para aprender e para ter uma vida independente”.

O tratamento das crianças varia caso a caso e baseia-se na estimulação para o desenvolvimento, com supervisão médica constante e através do apoio de áreas como a fisioterapia, psicologia, terapia ocupacional e fonoaudiologia, entre outras.

PESQUISA REGIONAL
O início da assistência à população integra cooperação técnica firmada em meados de março entre Fundação do ABC, Faculdade de Medicina do ABC e Consórcio Intermunicipal Grande ABC. Além do acompanhamento especializado de gestantes com suspeita de Zika vírus nos ambulatórios de alto risco da instituição de ensino e dos recém-nascidos com microcefalia, o trabalho inclui pesquisa sobre arboviroses – doenças transmitidas aos humanos por meio de insetos –, com destaque para a dengue, Zika e febre chikungunya. As sete cidades da região do ABC passarão a contar com uma plataforma diagnóstica e um sistema de vigilância contra esses vírus.

Trata-se de projeto da Faculdade de Medicina do ABC, coordenado pelos pesquisadores Fernando Luiz Affonso Fonseca, Beatriz Alves, Flavia de Sousa, Gabriel Laporta e Renato Pereira de Souza. O estudo será desenvolvido em parceria com o Instituto Adolfo Lutz, ligado ao Governo do Estado. A partir da cooperação técnica, os municípios do ABC participarão com a coleta de material e amostras de sangue.

 “Pacientes da região do ABC entre 18 e 70 anos, com suspeita de dengue, Zika ou chikungunya, terão coletadas duas amostras de sangue. A primeira seguirá para o Instituto Adolfo Lutz, dentro do fluxo convencional de notificações já vigente. A segunda virá para a plataforma da FMABC, onde será feito o diagnóstico molecular. Casos positivos serão confirmados em testes validados pelo Instituto Adolfo Lutz”, detalha o vice-diretor da Medicina ABC, Dr. Fernando Luiz Affonso Fonseca, que acrescenta: “As amostras negativas serão direcionadas para uma segunda plataforma de estudo, em que verificaremos a presença de outras arboviroses, geralmente negligenciadas, mas que já circulam no Estado de São Paulo: Rocio, Mayaro, Oeste do Nilo e Encefalite de São Luís”.

A partir dos casos positivos para dengue, Zika ou chikungunya, equipes da Faculdade de Medicina do ABC darão início a trabalho de campo em busca de mosquitos nas regiões de origem dos pacientes. “Os mosquitos coletados serão inseridos em nossa plataforma diagnóstica e analisados para confirmação ou não da presença dos vírus. A partir dos resultados, será possível mapear as regiões com maior incidência das doenças e subsidiar o Poder Público com informações que permitam o combate mais efetivo e direcionado ao Aedes aegypti”, explica Dr. Fernando Fonseca.

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  • Data: 15/06/2016 03:06
  • Alterado:15/06/2016 15:06
  • Autor: Eduardo Nascimento
  • Fonte: FUABC









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