Ópera “Café” fará sua estreia mundial no Theatro Municipal de São Paulo
A adaptação de Sérgio de Carvalho contará com a participação da Orquestra Sinfônica Municipal, do Coro Lírico e do Balé da Cidade de São Paulo, entre outros
- Data: 26/04/2022 15:04
- Alterado: 17/08/2023 05:08
- Autor: Redação
- Fonte: Theatro Municipal
Ópera “Café”
Crédito:Rafael Salvador
No próximo dia 3 de maio, o Theatro Municipal de São Paulo terá em sua programação a estreia mundial da ópera “Café”. A récita contará com libreto de Mário de Andrade e sua provocação teórica por uma apresentação onde o canto coral é o protagonista, na qual grupos da sociedade fossem retratados enquanto coletividade e não enquanto indivíduos. A ópera estará em cartaz entre os dias 3 e 4 e de 6 a 8 de maio e conta com a participação da Orquestra Sinfônica Municipal, sob a regência e direção musical do maestro Luís Gustavo Petri, do Coral Paulistano, sob a regência de Maíra Ferreira, do Balé da Cidade de São Paulo, do MST — Movimento Sem Terra, artistas circenses, da atriz Juçara Marçal, do cantor e poeta Negro Léo e do ator Carlos Francisco.
A ópera, composta por Felipe Senna e adaptada por Sérgio de Carvalho, tem seu libreto situado no contexto histórico da crise de 1929 que paralisou os portos, expulsou os camponeses das fazendas e provocou uma revolução popular na sociedade. A apresentação está diretamente ligada às celebrações do centenário da Semana de Arte Moderna e será uma abordagem contemporânea e atual da obra de Mário de Andrade.
Para Felipe Senna, o libreto de Mário de Andrade é indiscutivelmente um texto de cunho político. Ele conta, por meio da quebra do café em finais da década de 1920, uma história atemporal de desequilíbrio social e revolta, assustadoramente similar ao que vivemos atualmente. “Café celebra a riqueza de nossas tradições culturais e promove um importante diálogo entre a linguagem musical brasileira e a operística. O universo musical que criei nesta obra entrelaça, por meio de uma linguagem musical contemporânea, paisagens sonoras do tempo retratado na récita e dos dias atuais. À música lírica e sinfônica, eu trouxe o Samba de Cururuquara, a Caiumba, o Catira e o Jongo; uso o Choro como ‘ponto de intersecção sociocultural’. A ópera é uma leitura atual de um texto moderno em seu tempo”, diz Felipe Senna.
O libreto escrito por Mário de Andrade é um ponto fora da curva quando falado em textos para ópera, visto que o protagonista dessa obra é o coral propriamente dito e não um solista, como de costume. Como a obra fugia dos padrões da época, Mário de Andrade não conseguiu um compositor que pudesse transformar sua ideia em algo concreto.
Sérgio de Carvalho, responsável pela adaptação da atual versão da ópera, explica que a obra foi criada por Mário de Andrade buscando priorizar o canto coral, visto que ele foi o fundador do Coral Paulistano e buscava produzir uma récita em âmbito coletivo, além de trazer pontos da atualidade. “É uma apresentação com muitas linguagens combinadas, tanto no coletivo como no individual, que traz uma forma pouco convencional e modernista para o palco do Theatro Municipal. Procurei atualizar o libreto de Mário de Andrade em alguns pontos para esse espetáculo, convidando artistas que não fazem parte do mundo lírico para fazer participações especiais, como a cantora e atriz Juçara Marçal, que faz o papel da mãe; o cantor e poeta Negro Léo, que atua como rapsodo e o ator Carlos Francisco, que fez filmes como Bacurau, no papel de um camponês”, afirma Sérgio.
O coro, enquanto coletivo, é o protagonista dessa ópera, fazendo uma representação à população de colonos e trabalhadores frustrados com a crise do Café. Maíra Ferreira, regente do Coral Paulistano, explica que a apresentação em si não possui um ou dois solistas principais, e sim um coro todo representando essa classe de pessoas menos afortunadas que estão sendo diretamente afetadas por essa crise. “O coro, em todas as cenas, tem o papel do povo, às vezes chamados de famintos, às vezes de colonos e representando aquela população oprimida e desempregada que, por meio da mobilização coletiva, lidera uma revolução para solucionar o problema que estão enfrentando. Essa obra, apesar de ser antiga, remete claramente à crise social que vivemos atualmente, por isso a importância de expor isso ao público”, diz Maíra.
Em 1996, a primeira adaptação do libreto, criada pelo compositor Hans-Joachim Koellreutter, foi apresentada pelo regente Luís Gustavo Petri, em Santos, litoral de São Paulo. Curiosamente, a apresentação encomendado, de maneira exclusiva pelo Theatro Municipal, também vai contar com o regente na direção musical da obra e traz aspectos importantes da cultura popular brasileira, como participação de cantores populares, músicas com inspiração folclórica, um toque de contemporaneidade com a participação de um MC, entre outros.
De acordo com Andrea Caruso Saturnino, diretora geral do Theatro Municipal, a apresentação da ópera Café coroa a programação das comemorações do Centenário da Semana de Arte Moderna no Theatro Municipal. “Essa récita não será importante só pelo seu caráter emblemático, por ser um texto do Mário de Andrade colocado em cena pelo Coral Paulistano, mas também pelo fato de apostarmos em uma nova composição e em uma direção cênica que atualiza a questão do coletivo, contando com a participação de um dos mais importantes movimentos sociais brasileiros, o MST, dividindo o palco com o Balé da Cidade de São Paulo e artistas convidados”, afirma Andrea.
A obra estreia no Theatro Municipal de São Paulo no próximo dia 3 de maio e conta com ingressos entre R$10 e 120 reais, além da classificação ser livre. Para mais informações sobre as apresentações, acesse
Ópera “Café”, de Felipe Senna
Theatro Municipal
03/05/2022 – 20h
04/05/2022 – 20h
06/05/2022 – 20h
07/05/2022 – 17h
08/05/2022 – 17h
Theatro Municipal de São Paulo — Sala de Espetáculos
CAFÉ
De Felipe Senna
Ópera sobre libreto de Mário de Andrade adaptado por Sérgio de Carvalho
Orquestra Sinfônica Municipal
Coral Paulistano
Balé da Cidade de São Paulo
Luís Gustavo Petri, direção musical e regência
Maíra Ferreira, regente do Coral Paulistano
Sérgio de Carvalho, direção cênica, concepção e adaptação do libreto
Maria Lívia Goes, co-direção cênica, dramaturgia e pesquisa
Participações especiais
Juçara Marçal, mãe
Negro Leo, rapsodo
Carlos Francisco, velho camponês
Solistas convidados
Fernando de Castro, Deputado da Ferrugem
Gilberto Chaves, comissário
Gustavo Lassen, Deputado do Som-Só e dono 4
Leonardo Pace, dono 3 e deputado 3
Max Costa, cantador
Mikael Coutinho, dono 1 e deputado 2
Nathália Serrano, comissária
Ramon Mundin, dono 2 e deputado 1
Fábio Namatame, figurino
Cássio Brasil e Marcius Galan, cenografia
Sayonara Pereira, direção coreográfica
Melissa Guimarães, iluminação
Helena Albergaria, preparação de elenco
João Malatian, assistência de direção
Ingressos R$ 10,00 a R$ 120,00
Classificação livre
Duração 90 minutos