Especialista explica como o design pode contribuir para o planejamento de cenários
A construção de cenários futuros é uma das mais importantes atividades de planejamento de uma empresa, e nos últimos tempos se tornou um grande desafio
- Data: 12/04/2022 11:04
- Alterado: 12/04/2022 11:04
- Autor: Redação
- Fonte: Instituto Mauá de Tecnologia
Crédito:Reprodução
A volatilidade e a complexidade dos ambientes de mercado e das premissas de um planejamento tornam a administração estratégica algo muito difícil para gestores e empreendedores. Extrapolar condições passadas, procurando prever o futuro, é um caminho que só faria sentido, se o mercado global tivesse um padrão constante de evolução, fato que não se observa há muito tempo. No entanto, algumas empresas ainda se esforçam num planejamento que considera somente as experiências dos caminhos já percorridos, somadas às projeções algorítmicas para compreender cenários futuros.
O Prof. Dr. no curso de Design do Instituto Mauá de Tecnologia (IMT), José Carlos Carreira, lembra que, num mundo globalizado, cheio de incertezas e oscilações, o planejamento de cenários deve, sim, considerar as experiências passadas, mas não pode parar por aí. “Também é importante partir do sentido oposto ao que normalmente se pratica: em vez de construir cenários que partem do presente e projetam futuros, deve-se imaginar um cenário possível e desejável no futuro e voltar para sua implementação no presente. Ou seja, acrescentar à lógica do forecasting a do backcasting, na qual partimos de um cenário futuro e voltamos para o presente, verificando sua aplicabilidade e viabilidade econômica e técnica”, diz Carreira.
Um bom exemplo disso foi o discurso do presidente dos Estados Unidos em 1962, John Kennedy, que dava aos americanos uma visão futura de que seria possível e desejável ir à Lua. Com base nessa visão, de se imaginar na Lua, todo um planejamento foi traçado para voltar ao presente e vencer os obstáculos.
É aí que entra o design
Design é projeto, é para desenvolver uma gama de formas de pensar problemas e metodologias para solucioná-los. Quando se coloca em questão o planejamento de cenários, o design aplica seu arsenal metodológico no sentido de projetar cenários possíveis e desejáveis. Essa aplicação específica do design se denomina design de futuros.
Outras tantas denominações já foram trabalhadas por vários estudiosos do pensamento futuro (future thinking), como: design crítico, design especulativo e design discursivo, entre outros. Mas, colocando em foco o local para onde se projeta o futuro, a melhor denominação parece ser o design de futuros.
O design de futuros é uma forma de imaginar e manifestar possibilidades, com o intuito de se preparar para grandes desafios e contribuir para trilhar um caminho mais desejável e responsável para o futuro. São processos para inspirar e criar ideias de como as coisas podem vir a ser, imaginando e representando futuros possíveis. O design de futuros é um exercício colaborativo que incentiva o imaginar e contribui para abrir novas perspectivas sobre os problemas a serem solucionados.
O design de futuros e suas aplicações correlatas ganharam importância nas últimas décadas, na medida em que o mundo globalizado se tornou extremamente complexo. credita-se o início organizado e sistematizado dessa forma de pensar aos pensadores de futuros do início da década de 1970, como Alvin Toffler, Alain Touraine e Daniel Bell. Nessa época, cientistas e futurólogos foram desafiados a imaginar como seria o mundo no próximo século.
Ao longo das décadas seguintes, em conjunto com a evolução do próprio design e do design thinking, se estabeleceu uma série de metodologias para projetar e planejar cenários baseados nos conceitos do design. Hoje temos notícias de que várias empresas com foco na inovação, como Google, 3M, Siemens, Marcopolo, Fundação Telefônica Vivo, Bradesco e Natura, possuem espaços, centros, laboratórios, hubs ou experimentos de futuro para explorar o campo do design de futuros.
“Por fim, o design de futuros nada mais é que utilizar a criatividade, a empatia, a colaboração e a experimentação para projetar cenários nos quais podem surgir oportunidades para novos produtos e serviços que sejam economicamente viáveis, socialmente pertinentes e ecologicamente responsáveis. O futuro como objeto de design é um lugar no qual, intencionalmente, iremos transformar a realidade”, conclui o especialista.