Duas novas espécies de rãs-gigantes-de-corredeira são descobertas
Foram descobertas no Parque Estadual da Serra do Mar, gerido pela Fundação Florestal
- Data: 29/03/2022 15:03
- Alterado: 17/08/2023 06:08
- Autor: Redação
- Fonte: Infraestrutura e Meio Ambiente
Rãs-gigantes-de-corredeira
Crédito:Divulgação
Duas novas espécies de rãs-gigantes-de-corredeira, um peculiar grupo de anfíbios anuros (a ordem dos sapos, das rãs e das pererecas), foram descobertas no Parque Estadual da Serra do Mar, gerido pela Fundação Florestal, de acordo com um estudo publicado em março na revista Systematic and Biodiversity do Museu de História Natural de Londres.
A primeira nova espécie descrita foi chamada de Phantasmarana curucutuensis. Como o próprio nome já sinaliza, trata-se de uma homenagem ao Núcleo Curucutu, do PESM, no qual a espécie é encontrada, no município de Itanhaém. Como todas as Phantasmarana, esta nova espécie é bastante difícil de ser avistada, pois foge ao menor sinal de movimentação humana. Sendo endêmica do Núcleo Curucutu, ou seja, não é encontrada em nenhum outro local, P. curucutuensis representa o limite mais ao sul da ocorrência das espécies de rãs-gigantes-de-corredeira.
A segunda espécie foi chamada de Phantasmarana tamuia, com ocorrência conhecida apenas para os Núcleos Cunha e Santa Virgínia, do PESM (respectivamente municípios de Cunha e de São Luís do Paraitinga). A autora do estudo Thais Condez, atualmente pesquisadora da Universidade de Carleton, Canadá, explica que o nome da nova espécie tamuia foi escolhido por representar força e resistência, sendo uma palavra derivada da língua Tupi. “O nome escolhido faz alusão aos povos indígenas que historicamente ocuparam as áreas nas quais a nova espécie foi encontrada. É uma singela homenagem aos Tamoios, povos que lutaram bravamente contra a invasão de seus territórios durante a devastação da Mata Atlântica, no período do processo de colonização”, explica Thais. Assim como as demais espécies do gênero, P. tamuia também resiste fortemente à modificação das áreas naturais, principalmente quando não protegidas pelas unidades de conservação.
O biólogo e pesquisador Leo Malagoli, autor sênior do artigo e gestor do PESM – Núcleo São Sebastião, destaca a importância das áreas preservadas e protegidas. “É crucial relembrar que para os representantes da fauna silvestre, dentre as diversas espécies de invertebrados, peixes, anfíbios, aves e mamíferos, as florestas são a sua casa, sendo que muitas delas possuem uma relação íntima com os riachos de águas limpas, utilizando estes ambientes para viver e/ou se reproduzir. Fica fácil compreender, assim, a importância das áreas protegidas como as Unidades de Conservação em um país tão rico em biodiversidade como o Brasil”, ressalta Leo. “A manutenção e expansão de tais áreas protegidas é claramente benéfica não somente às plantas e animais, mas também contribuem fundamentalmente à preservação das riquezas naturais, que refletem positivamente na saúde e qualidade de vida humana”, finaliza o biólogo.
Rãs-gigantes-de-corredeira
Como o próprio nome popular já indica, as rãs-gigantes-de-corredeira do gênero Phantasmarana possuem tamanho grande (variam de 7,5 a 12 centímetros, quando adultas), vivendo associadas a tocas em riachos de águas cristalinas da Mata Atlântica. As espécies deste gênero só são encontradas nestes determinados ambientes, sempre em altitudes superiores a 700 metros acima do nível do mar, como a Serra do Mar e a Serra da Mantiqueira.
Como resultado de diversas expedições em busca destes animais em locais preservados, algumas iniciadas em 2007, conjuntamente com o estudo detalhado do material já previamente depositado em coleções científicas e museus, pesquisadores brasileiros estudaram as proximidades genéticas das espécies de Phantasmarana já conhecidas, descrevendo importantes características de reconhecimento destas rãzonas. O mais impressionante é que, com inclusão das novas informações, foi confirmada a suspeita de que algumas espécies de rãs-gigantes-de-corredeira que ocorriam na Mata Atlântica ainda eram desconhecidas pela ciência.
“Com o levantamento de informações genéticas e análise de características anatômicas de rãs adultas e juvenis, foi possível identificar que novas populações encontradas em diferentes porções do Parque Estadual da Serra do Mar correspondiam a espécies novas, que foram agora apropriadamente descritas e reconhecidas pela ciência”, destaca o zoólogo Fábio de Sá, líder do estudo e atualmente pesquisador na Universidade Estadual de Campinas. Fábio confirma que um dos resultados mais importantes da pesquisa foi a descrição das duas novas espécies, aumentando consideravelmente a diversidade conhecida para esse grupo de rãzonas, que anteriormente contava com apenas seis espécies.