Programa voltado à rede pública ajuda a solucionar alfabetização tardia no Sudeste do país
Número de crianças que não aprenderam a ler e escrever na idade correta explodiu durante pandemia
- Data: 21/03/2022 14:03
- Alterado: 21/03/2022 14:03
- Autor: Redação
- Fonte: Aprende Brasil
Crédito:Divulgação/Aprende Brasil
Letras que formam sílabas que, repetidas à exaustão, por sua vez, formam palavras. Muitas delas. Segundo o dicionário Houaiss, a língua portuguesa tem, atualmente, algo em torno de 400 mil palavras. É um universo disponível a todos os falantes do idioma, mas que exige duas habilidades fundamentais daqueles que desejam se comunicar também por meio de livros, documentos e outros registros: as habilidades da leitura e da escrita. O ideal, segundo a lei, é que as crianças aprendam a ler e escrever até os seis ou sete anos de idade.
A realidade, porém, nem sempre está de acordo com o ideal. É na região Sudeste que estão, hoje, 21% dos analfabetos do Brasil, segundo o IBGE. Ainda de acordo com o órgão, 41% das crianças de até sete anos no país não estão alfabetizadas, o que representa 2,4 milhões de crianças. A taxa é a mais alta desde 2012, quando 28% das crianças nessa faixa etária não sabiam ler e escrever. Em comparação com 2019, o aumento foi de 65,6%. Mesmo as crianças que estão matriculadas e frequentando as aulas podem ter sofrido esse atraso, boa parte causado pela pandemia. Para a especialista em pareceres pedagógicos do Sistema de Ensino Aprende Brasil, Rita Schane, a alfabetização nesse período é importante porque “essas são habilidades de que a criança vai precisar nos anos iniciais do Ensino Fundamental, que serão consolidadas a seguir”.
Não se trata apenas de crianças que não sabem ler nem escrever, mas de uma série de níveis diferentes de aprendizagem. Algumas delas lêem, mas não escrevem. Outras são capazes de ler e escrever, mas não conseguem interpretar o que estão lendo. Em outros casos, ainda, a criança é capaz de ler e escrever, mas os erros ortográficos são mais comuns do que deveriam. Equalizar o aprendizado dessas duas competências é um desafio complexo.
Solução que vem da escola pública
Uma das maiores dificuldades para alfabetizar crianças mais velhas é o fato de que os métodos são sempre pensados para os mais novos. Há muitos desenhos, atividades e propostas desenhados para os pequenos que têm até sete anos. Então, quando uma criança de nove, dez ou 11 anos se depara com esse material, imediatamente há um problema de interesse e identificação. “Crianças um pouco mais velhas não gostam e não se interessam pelas mesmas coisas que chamam a atenção das crianças mais novas. É preciso pensar uma solução especial para contornar esse problema”, destaca Rita.
A melhor alternativa para mitigar o problema é adotar ferramentas especificamente pensadas para a alfabetização tardia. Presentes na rede pública municipal de mais de 290 cidades brasileiras, os profissionais do Aprende Brasil adquiriram uma experiência que permitiu a criação do programa Letrix, desenhado especialmente para crianças que não adquiriram essas duas habilidades no tempo correto. Impulsionado também pela pandemia, o programa deu um salto no número de usuários. Enquanto, em 2021, pouco mais de 4 mil crianças usavam o Letrix, a prévia até março de 2022 já é de mais de 10,8 mil.
“O Letrix é um programa educacional que auxilia as crianças que não tiveram a oportunidade de se alfabetizar na idade indicada pela legislação. Essas crianças que chegam ao Ensino Fundamental – Anos Finais sem ter desenvolvido a aquisição de leitura e escrita não podem ser ignoradas ou tratadas como as de seis e sete anos”, pontua a especialista. Por isso, a abordagem do programa respeita a fase da vida em que a criança está, com atividades direcionadas para esse público. Fazem parte do Letrix ferramentas como livros didáticos para alunos e professores, avaliações, leitura guiada, orientações em vídeo e manual digital do professor.
Embora tenha nascido na escola pública, o Letrix também pode ser adotado com sucesso pela rede privada. “A ideia é democratizar o acesso às boas soluções educacionais e permitir que um número cada vez maior de crianças saia do Ensino Fundamental com uma base sólida para continuar aprendendo ao longo de sua vida estudantil”, finaliza Rita.