7ª edição do Festival Vermelhos reuniu 2500 pessoas em Ilhabela

Público assistiu programação de música clássica e popular no melhor teatro ao ar livre da América Latina

  • Data: 16/07/2024 15:07
  • Alterado: 16/07/2024 15:07
  • Autor: Redação
  • Fonte: Assessoria
7ª edição do Festival Vermelhos reuniu 2500 pessoas em Ilhabela

"Conversas com Bach", Emmanuele Baldini e André Mehmari

Crédito:Bianca Moreira/ Divulgação

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O título de melhor teatro ao ar livre da América Latina dado ao Teatro de Vermelhos vem de um dos principais nomes quando o assunto é música clássica: Roberto Minczuk, que regeu uma “Gala Puccini” dentro da programação do último fim de semana do Festival Vermelhos, realizado em Ilhabela, litoral norte de São Paulo, de 4 a 14 de julho. O maestro comandou a Orquestra Sinfônica de Vermelhos, uma orquestra arregimentada com músicos das orquestras de São Paulo, como OSESP (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo), Academia de Música da OSESP e Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo (Theatro Municipal de São Paulo). Entre os solistas convidados: Camila Provenzale (soprano), Carla Cottini (soprano) e Marcello Vannucci (tenor), ovacionados pelo público que compareceu mesmo com frio e chuva na noite de sábado, 13 de julho.

Na plateia estavam as amigas aposentadas Dalita Comin, 63, e Eloisa Campanelli, 69. “O espaço é maravilhoso, é só trazer o casaco porque lá dentro é frio, com chuva ou sol a gente vem”, diz Dalita.

Melhor teatro ao ar livre da América Latina.

Roberto Minczuk explica a importância de se realizar este programa e reflete sobre a consolidação do festival dentro das homenagens feitas ao compositor no mundo inteiro.

“Puccini é o maior compositor italiano de ópera de todos os tempos, compositor de Turandot, Tosca, La Bohème, Manon Lescaut. Então as pessoas conhecem essas músicas, mesmo quem não é fã de ópera conhece essa música. Ela está dentro da gente. Puccini foi grande inspirador de Hollywood e da Broadway. E essa música é uma música universal, está entre as músicas mais lindas já compostas. Você fazer isso aqui nesse ambiente é ainda enriquecer mais aquilo que está acontecendo há quase dez anos em Vermelhos, que é você fazer o melhor que existe da música clássica, da ópera, você enriquece essa programação cada vez mais, você torna esse lugar cada vez mais especial, que já é deslumbrante pela natureza. Já é único por esse teatro magnífico, que é o melhor teatro ao ar livre que existe na América Latina”, afirma Roberto Minczuk.

Concerto em homenagem aos 100 anos da morte de Puccini foi educativo.

Nos teatros tradicionais brasileiros, as árias das óperas são apresentadas com legendas em português posicionadas estrategicamente acima do palco para facilitar a leitura. No Festival Vermelhos, foi diferente. Os próprios cantores conversavam com o público, o maestro Roberto Minczuk também dialogava com os solistas, e antes de cada apresentação era o próprio solista que falava a tradução da ária que iria cantar, além de algumas curiosidades sobre a composição. O formato trouxe leveza, eliminando a distância entre palco e plateia.

“Eu tenho conversado muito com os grandes artistas que se apresentam aqui para a gente romper um pouquinho essa tradição da música clássica, do maestro entrar mudo e sair calado com mil pessoas na frente sem ter a compreensão total do que está acontecendo no palco. Claro que instrumentos como legendas facilitam a vida, mas a comunicação que nós vimos aqui eu acho muito mais eficiente e autêntica, estabelece uma ligação direta com as pessoas”, explica Samuel Mac Dowell, fundador do Instituto Baía dos Vermelhos.

Para o tenor Marcello Vannucci, a atmosfera da floresta também contribui nessa aproximação. “Puccini combina com floresta, com mar, com céu. Puccini é vida. É importante para o público em geral ter acesso a outros tipos de música. Eu acho que a gente pode trazer esse tipo de conhecimento, principalmente para os jovens, para o pessoal que está iniciando agora a carreira musical e mesmo quem não está na carreira musical. Saber o que é música erudita, música clássica e trazer aqui no meio dessa floresta maravilhosa, acho que todas as cidades do interior tem que fazer isso”, pontua Marcello Vannucci.

Elis Regina recebeu homenagem de Laila Garin no Teatro de Vermelhos.

O segundo fim de semana do Festival Vermelhos começou sexta-feira, 12 de julho, com a homenagem de Laila Garin, que interpretou as inesquecíveis canções de Elis Regina em uma versão intimista, acompanhada por Claudia Elizeu no piano e Thaís Ferreira no violoncelo. Laila foi reconhecida em seu trabalho pelo público e pela crítica no espetáculo “Elis, a Musical”, dirigido por Dennis Carvalho. O repertório incluiu sucessos como “Fascinação”, “Reza”, “Upa Neguinho”, “Dois pra lá, dois pra cá”, “Arrastão”, “Como Nossos Pais” e “As Curvas da Estrada de Santos”. No Festival Vermelhos, os fãs de Elis se emocionaram e muitos foram às lágrimas.

Bastidores: artistas se apresentam e assistem outros artistas.

Durante o Festival Vermelhos, é comum presenciar artistas que assistem a apresentação de seus pares. Na noite anterior, 12 de julho, antes de reger a orquestra, o maestro Roberto Minczuk assistiu a cantora Vanessa Moreno e o pianista Salomão Soares, na Sala do Porão, ao lado do anfitrião Samuel Mac Dowell. Na plateia também estava o violonista Fábio Zanon. Na manhã seguinte foi a vez de Vanessa Moreno e Salomão Soares assistirem Fábio Zanon.

“É um espaço maravilhoso e a chuva, eu acho que trouxe um temperinho especial para o que a gente veio fazer. A gente tem a chance de se sentir parte da natureza e com música é muito muito precioso, muito poderoso. Em São Paulo, a gente está imerso naquela atmosfera de concreto que leva a gente para outras sensações. Mas, eu sinto que quando estou perto da natureza tem um lugar meu que aflora, isso me ajudou muito a cantar. A chuva não deu trégua um segundo, então do início ao fim do show teve também a participação da chuva como componente essencial. Se deixasse a gente ficava aqui tocando até depois de amanhã”, conta Vanessa Moreno.

O pianista Salomão Soares concorda: “Foi uma experiência incrível porque a chuva foi um elemento que colaborou com o nosso show, por vezes estava tocando, solando e ouvindo o barulhinho da música da chuva no teto, caindo nas folhas, foi uma experiência inesquecível. Eu estava muito curioso para conhecer esse lugar, eu já tinha visto algumas fotos, achei simplesmente genial a ideia de construir um espaço no meio da floresta, preservando a floresta. E a floresta é por si só um evento de música.”

A seleção musical priorizou a qualidade artística e a diversidade.

Toda a programação do Festival Vermelhos foi pensada para proporcionar ao público uma experiência de alto nível musical. A curadoria é complexa e a proposta do Instituto Baía dos Vermelhos é formar plateia, fomentar a cultura para transformar Ilhabela e todo o potencial que a ilha tem, onde a maior parte dos investimentos públicos e privados são colocados em eventos com pouca diversidade, assim como acontece também em outras cidades do país.

“A proposta da instituição, não é que ela ignore o interesse do público. Ela quer atender o interesse público, mas segundo alguns critérios. Nós temos aqui uma combinação muito clara entre música popular e música clássica. Isso Vermelhos não pode abrir mão. A gente tem mantido esse equilíbrio ao longo dos festivais. Agora o festival é um instrumento, não um fim em si. Vermelhos não foi feito para ser uma casa de shows, então você tem que equilibrar todas essas questões”, pondera seu fundador, Samuel Mac Dowell.

O público veio de várias partes do estado. Entrevistamos pessoas que vivem na ilha, mas também de São Paulo, São Sebastião, e até do interior do Paraná. Como Rafael Virgilio de Oliveira, 23, engenheiro de software, que veio de Cornélio Procópio, cidade próxima de Londrina, no Paraná, para assistir ao festival. Apaixonado por piano, ele estuda o instrumento e aproveitou para tocar um pouco no piano aberto da Sala do Porão, depois de assistir o recital da pianista Karin Fernandes no primeiro fim de semana do Festival Vermelhos.

“É um evento que aproxima a música do público, né? Acho que isso que falta em muitos lugares hoje em dia, essa possibilidade da gente fazer parte realmente ali com a música”, explicou Rafael Virgilio de Oliveira.

Isabel Barbosa Leite, 36, veio com o marido e os filhos Martin, 5, e Dante, 3, de Caraguatatuba, distante 36 km, para assistir ao show de Renato Braz cantando Tim Maia, sábado, 13 de julho. A apresentação seria no Anfiteatro da Floresta, mas foi transferida para o Teatro de Vermelhos por causa da chuva.

“Eles gostam muito de música, a gente gosta de incentivar sempre que possível e era pertinho da nossa casa, então a gente achou que era uma ótima oportunidade para conhecer esse lugar lindo e prestigiar essa música tão bacana”, diz Isabel Barbosa Leite.

O público foi protegido da chuva com mudança de local.

Assim como Renato Braz canta Tim Maia, Assucena também teve o palco transferido por causa da chuva. O show de domingo, que seria no Anfiteatro da Floresta, aconteceu na Sala do Porão, dando um tom ainda mais intimista para “Baby, te amo – Tributo à Gal Costa”, em homenagem a uma das mais importantes vozes da música brasileira. Assucena apresentou releituras de sucessos da obra de Gal Costa como “Baby, Tigresa, Vapor Barato, Pérola Negra, Coração Vagabundo”, entre muitos outros. A cantora recebeu dois Prêmios da Música Brasileira e foi por duas vezes indicada ao Grammy Latino.

Fitzcarraldo do Litoral ficou para trás.

Quando começou a colocar de pé o Instituto Baía dos Vermelhos, erguido no meio da Mata Atlântica, em Ilhabela, litoral norte de São Paulo, Samuel Mac Dowell passou a ser comparado a Fitzcarraldo, protagonista do filme de Werner Herzog, de 1982, interpretado pelo ator Klaus Kinski. No longa-metragem, o personagem é fã de Enrico Caruso e tem o sonho de construir uma casa de ópera na floresta peruana. Quase dez anos depois da pedra fundamental, ter o teatro reconhecido como o melhor ao ar livre da América Latina, consolida o trabalho cultural, artístico e educativo, feito com seriedade e muito além dos sonhos do cinema de ficção.

Para o violonista Fábio Zanon, em Ilhabela, é viver a realidade.

“Isso aqui é que nem o Palácio de Versalhes (França) para mim. É a visão do Samuel, a admiração que eu tenho pela ideia que ele teve de construir esse monumento, esse diamante no meio da floresta, isso aí é incrível. E, é claro, a decorrência disso é um lugar único no mundo. Quem não quer tocar cercado por essas pedras, essa floresta, essa natureza, até com chuva, eu adoro a chuva. O lugar é absolutamente adorável, então ele atrai um público bacana”, descreve.

Dificuldades não fizeram Samuel Mac Dowell desistir.

Os obstáculos foram maiores do que Samuel Mac Dowell pensava quando começou quase dez anos atrás. Mesmo com toda a infraestrutura montada, com uma programação de excelência, o projeto não consegue ser mantido apenas pela bilheteria, com a presença do público pagante. Advogado, empresário pernambucano e ainda atuando como mecenas, Samuel Mac Dowell faz críticas ao mercado cultural brasileiro que depende de financiamento público e privado direto ou através de leis de incentivo fiscal. Principalmente nessa época do ano, em que outros festivais patrocinados por prefeituras pagam cachês milionários que ficam concentrados sempre nos mesmos artistas, com pouca diversidade de estilos musicais.

“O que as prefeituras municipais gastam em um fim de semana, você pode usar o orçamento de um fim de semana de uma prefeitura municipal para sustentar um ano inteiro de atividades. É muito esquisito, isso é muito estranho, eu não sei o que justifica que agentes privados determinem o destino de verbas públicas. Eu sou profundamente crítico ao sistema que é comandado, têm interesses privados”, argumenta Samuel Mac Dowell.

Conversas com Bach no meio da Mata Atlântica

O concerto que passou pelo Canadá e Japão teve sua estreia no Brasil na Sala do Porão, no Festival Vermelhos. “Conversas com Bach”, a música de J.S. Bach por Emmanuele Baldini (violino) e André Mehmari (piano) ganhou novo significado na floresta. O cenário e o ambiente propiciam que músicos e plateia consigam sentir ainda mais a espiritualidade do compositor. Entre o público, alunos da Camerata de Cordas de Ilhabela, projeto dirigido pelo maestro Raphael Tavares. Ao término da apresentação eles foram conversar com os músicos.

“Poder fazer música de qualidade num ambiente tão sensacional e tão especial, e quando falo do ambiente, falo da natureza, cercados por uma natureza tão especial é algo muito raro, é algo inspirador, por que? Porque normalmente quando se pensa em contato com a natureza, nós pensamos sempre em lugares pouco adequados para se fazer música, lugares com péssima acústica, lugares improvisados. Agora termos uma estrutura absolutamente no nível das grandes salas de concerto, seja do ponto de vista de infraestrutura, seja do ponto de vista acústico, ou seja do ponto de vista dos camarins, tudo, e do catering, ter uma estrutura assim no meio de um ambiente natural é absolutamente sensacional, é raríssimo”, afirma Emmanuele Baldini, expoente da música clássica.

Emmanuele Baldini explica que a programação do Festival Vermelhos poderia estar em qualquer grande sala de concerto do mundo. E torce para que essa programação possa ser expandida.

“Para expandir a programação durante todo o ano, precisa ter o apoio e a participação dos moradores da ilha, eles precisam vestir a camisa, eles precisam entender a importância de uma oferta cultural artística desse nível e precisam se orgulhar disso”, diz com entusiasmo.

Pela primeira vez, um festival dentro de outro festival.

No domingo, 14 de julho, a sétima edição do Festival Vermelhos recebeu o FASA, Festival de Arte e Saberes das Águas, que vai seguir sua turnê pelo Alto da Ribeira, São Bernardo do Campo, Nazaré Paulista e Campos do Jordão até setembro. A direção artística de Pablo Castellar e patrocínio da Sabesp, por meio da Lei de Incentivo à Cultura – Lei Rouanet.

A principal atração do FASA foi o show gratuito de Danilo Caymmi e Claudio Nucci, no Teatro de Vermelhos, onde a dupla apresentou o espetáculo Concerto das Águas, com as famosas Canções Praieiras de Dorival Caymmi, como “Quem vem pra beira do mar”, “O bem do mar”, “O mar”, “Pescaria (canoeiro)”, “É doce morrer no mar”, “A jangada voltou só” e “Saudade de Itapoã”, além de outros sucessos do mestre baiano, como “Vatapá”, “Samba da minha terra” e “Maracangalha”.

Festival Vermelhos 2024 – Música e Artes Cênicas

Lei de Incentivo à Cultura, Ministério da Cultura, Brasil, União e Reconstrução – Governo Federal.

Realização: Instituto Baía dos Vermelhos.

Ministério da Cultura e Sabesp apresentam FASA, Festival de Arte e Saberes das Águas.

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  • Data: 16/07/2024 03:07
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