5ª Mostra de Dança Itaú Cultural ganha edição presencial e on-line
Com um olhar reflexivo e artístico sobre o gesto, o movimento e a relação do corpo com seu interior e exterior, a programação reúne estreias, experimentos e conversa
- Data: 06/04/2022 09:04
- Alterado: 17/08/2023 06:08
- Autor: Redação
- Fonte: Itaú Cultural
A Mulher do Fim do Mundo
Crédito:Divulgação/Alexander Galvão
A dança permeia boa parte da programação on-line e presencial que o Itaú Cultural realiza durante abril, com a 5ª Mostra de Dança Itaú Cultural, conduzida pela pergunta Por que Dançamos? Do dia 10 deste mês a 1 de maio, convidados de oito estados e três diferentes países levam o público a questionar, por meio de coreografias e trocas de ideias, sobre os motivos que levam os corpos a movimentar-se, relacionando-se consigo, com o outro e com o espaço, em uma experiência coletiva de sensações e sentidos (em anexo, os arquivos com programação, mini bios e fotos).
A partir das 9h do domingo, dia 10, entra no site do instituto a programação on-line que pode ser conferida até o dia 1 de maio. Por sua vez, as trocas presenciais com a plateia ficam por conta da programação realizada de 13 a 17 de abril (quarta-feira a domingo), no palco da instituição. As atividades são gratuitas, e os ingressos devem ser reservados pela INTI (acesso pelo site www.itaucultural.org.br).
Presencial
Na abertura, nos dias 13 e 14 (quarta-feira e quinta-feira), às 20h, estreia GRAÇA – Uma Economia da Encarnação, da Cia Gira Dança, do Rio Grande do Norte, que chega pela primeira vez no palco, depois de ter estreado como dança-filme no início do ano. O espetáculo, criado em parceria com a coreógrafa Elisabete Finger e que é resultado do projeto Zona Dissoluta, contemplado pelo programa Rumos 2019-2020, traz corpos com camadas de histórias acumuladas, impressas, misturadas, desbotadas e dissolvidas. GRAÇA representa se reescrever e reencarnar nesse mundo.
Nos dias 14 e 15 (quinta-feira e sexta-feira), às 19h, os artistas da dança Davi Pontes e Wallace Ferreira, do Rio de Janeiro, apresentam Repertório N.2, no espaço da Arena, no IC. Segunda parte de uma experiência coreográfica voltada à dança como prática de autodefesa – e que inspirou, ainda, o projeto Escola Repertório de Autodefesa, também selecionado pela edição 2019-2020 do Rumos –, a performance utiliza técnicas informais e desviantes para dar luz a um pensamento crítico sobre o mundo no qual se vive.
A questão racial entra em cena com Vala: Corpos Negros e Sobrevidas, novo espetáculo que a Cia Sansacroma, de São Paulo, apresenta no palco físico no sábado, dia 16, às 20h. Inspirada no Cemitério dos Pretos Novos, localizado no bairro da Gamboa, no Rio de Janeiro, a apresentação denuncia o genocídio de pessoas pretas ao longo do tempo. Denuncia também a estrutura social criada para justificar e moldar novos valores de urbanidade, civilidade, segurança pública e política de morte.
A mostra presencial fecha no dia 17, domingo, às 19h, com a apresentação de Ou 9 ou 80, do coreógrafo Kelson Barros, maranhense radicado em São Paulo. O espetáculo usa o universo do passinho e do funk para contar a história de dançarinos como intérpretes-criadores Iguinho Imperador, Juju ZL, Mario MLK Bros, Pablinho Idd, Yoshi Mhoroox, Yure Idd e RD Ritmado, da periferia do Rio de Janeiro e de São Paulo. O enredo é baseado em dois fatos – o primeiro ocorrido no ano passado e o outro em 2019: 80 tiros desferidos sobre o carro de uma família na Zona Oeste do Rio de Janeiro e nove mortos em um baile em Paraisópolis. A proposta é levar o funk, o passinho e seus dançarinos para além dos bailes, fazendo-os chegar aos palcos.
Além da mostra, a dança se faz presente, ainda, na atividade Arte na Rua, todos os domingos, às 13h e às 15h, na calçada em frente ao Itaú Cultural. A convidada de abril é a coreógrafa e bailarina Hullipop, que apresenta Impermanência. A performance retrata, por meio da dança contemporânea, a morte como um recomeço.
Na rede
Das 9h de 10 de abril (domingo), entra no site do instituto a programação on-line que segue até 1 de maio. Nela, espetáculos da região Norte dividem espaço com uma mostra com artistas do Espírito Santo. Também no virtual, mas via Zoom, um debate leva ao campo das ideias a pergunta Por que Dançamos?
Do Amapá, participa a Cia Casa Circo de Artes Integradas, com A Mulher do Fim do Mundo. Neste solo, a atriz e bailarina Ana Caroline vive as reflexões de uma mulher negra, que se depara com a existência de um corpo que respira a cada segundo para se manter em pé. Assim, estabelece um diálogo visceral, no qual um corpo negro e suas infinitas capacidades de afetação valida a existência de vários corpos que atravessam gerações flagelados socialmente.
O solo Apoena – Aquele que Vê Longe, da pesquisadora amazonense Francis Baiardi, trata de questões urgentes e sensíveis sobre humanidade. Temas como ancestralidade, direitos e expropriação são discutidos por meio de um corpo que carrega suas heranças, mas é atravessado pela violência do homem contemporâneo. Nessa volta ao passado, traz um olhar especial aos primeiros habitantes do Brasil e que hoje são indígenas sem-terra, questão imposta pelos colonizadores.
Da Mostra Lab.IC, no ambiente virtual, ficam disponíveis no site do Itaú Cultural www.itaucultural.org.br, videodanças e videoperformances de seis artistas sobre temas que vão de estereótipos e exploração do meio ambiente à descolonização do corpo e objetificação da mulher negra. O projeto – que pode ser visto como uma mostra dentro da própria mostra – é capixaba, do Laboratório do Intérprete-Criador (Lab.IC), contemplado pelo programa Rumos Itaú Cultural 2019-2020.
Um dos seis trabalhos é O Amanhã Talvez Não Exista, série em três episódios de videodanças do artista e pesquisador em dança Marcelo Oliveira, que questiona o que fazer com um corpo em processo de luto. Para deixar a mente vaguear, o artista leva para o corpo a expressão desses sentimentos, com memórias afetivas que são despertadas, acolhidas e transformadas.
Mover Híbrido, do artista de dança contemporânea e mestre-sala em escola de samba Juliander Agrizzi, põe em questão os rótulos que são dados à pele ao longo do trajeto da vida. E, simbolicamente, o corpo fissurado fica exposto às contaminações do mundo.
A bailarina e coreógrafa Lalau Martins traz em Ísinqé a sua pesquisa sobre a esteatopigia (hipertrofia das nádegas por acúmulo de gordura) do povo Khoikoi, do sul da África – em especial nas mulheres, como Sarah Baartman (1789-1815), que foi exibida na Europa como uma aberração africana. Ela observa que, ainda hoje, muitas mulheres, em especial as negras, seguem sendo vistas como se não tivessem ancestralidade, sentimentos, desejos, mas sim como objeto de prazer sexual e curiosidade.
Ainda na motra Lab.IC, o intérprete-criador Farley José trata de identidade em Terra Santa. Nela, um homem afeminado é uma arte-política ao nascer com uma aparente divergência. E nesse movimento interno de cura, parte-se do trauma rumo à libertação.
A vídeo-instalação Vernissage: Muxima de Nganga, Meu Corpo Canta e Dança, de Yuriê Perazzini, por sua vez, questiona como ressignificar as histórias de violência da comunidade brasileira. Nesse processo, recorre aos ritos de autocura, autoconhecimento e de afirmação da ancestralidade afro diaspórica.
Por fim, na ecoperformance e documentário Lavra, o artista multimídia Weber Cooper denuncia e anuncia a relação entre homem e meio ambiente. Para tanto, leva a dança a ambientes de extração de mármore e granito no município de Cachoeiro de Itapemirim — pólo produtor de rochas ornamentais no Sul do Espírito Santo –, entrecruzando narrativas do passado, presente e futuro à (re)descoberta de uma ecologia somática.
Ainda dentro da mostra on-line, no dia 15 (sexta-feira), entra no ar às 20h, no YouTube do IC www.youtube.com/itaucultural, Insolente, um trabalho em construção do Grupo Gestus, que depois pode ser assistido até o dia 1 de maio. Tendo em cena a artista da dança Gilsamara Moura, do Brasil, a bailarina argentina residente no Paraguai Alejandra Días Lanz, e a turca radicada na França Pinar Selek, feminista, antimilitarista, socióloga, escritora e ativista, ele traz um olhar profundo sobre a mulher, sobre seguir em frente, mesmo com medo. Busca pistas para um mundo com mais equidade e menos opressão.
Já no dia 16 (sábado), acontece a mesa Por que Dançamos?, mediada pela pesquisadora carioca de dança Mariana Pimentel, que recebe convidadas que já tiveram projetos contempladas pelo Rumos para debater sobre o tema central da programação. São elas Inah Irenam, do projeto EPA! Encontro Periférico de Artes, da Bahia; Danielle França, do Frevo às Cegas, de Pernambuco; e Ivna Messina, do Lab.IC, do Espírito Santo. O encontro acontece pelo Zoom, sendo necessário reservar ingresso pela Sympla.
SERVIÇO
5ª Mostra de Dança Itaú Cultural – Por que Dançamos?
PROGRAMAÇÃO ON-LINE
Espetáculos
De 10 de abril (domingo), às 9h, a 1 de maio (domingo), às 23h59
Disponível 24 horas por dia, no site do Itaú Cultural
Insolente – work in process
De 15 de abril (sexta-feira), às 20h, a 1 de maio (domingo), às 23h59
Disponível 24 horas por dia, no Youtube do Itaú Cultural
Mesa Por que Dançamos?
Dia 16 de abril (sábado), às 16h
Pela plataforma Zoom. Ingressos via Sympla.
Mais informações em www.itaucultural.org.br
PROGRAMAÇÃO PRESENCIAL
De 13 a 17 de abril (quarta-feira a domingo)
Na sede do Itaú Cultural. Gratuito.
Reservas pela plataforma INTI (acesso pelo site www.itaucultural.org.br)
Protocolos:
– É necessário apresentar o QR Code do ingresso na entrada da atividade até 10 minutos antes do seu início. Após este horário, o ingresso não será mais válido.
– Para ingressar na sede do Itaú Cultural, é obrigatória a apresentação do comprovante de vacinação. Serão válidos o comprovante físico ou o digital (disponível nos aplicativos fornecidos pelos governos federal, estadual e/ou municipal).
– Maiores de 12 anos devem apresentar o comprovante contendo duas doses da vacina. Quem tiver abaixo desta idade, não precisa comprová-lo.
– Continua obrigatório o uso da máscara cobrindo boca e nariz durante toda a permanência nos ambientes internos do Itaú Cultural.
Itaú Cultural
Avenida Paulista, 149, próximo à estação Brigadeiro do metrô