24% das espécies aquáticas estão ameaçadas de extinção no Brasil
Poluição e mudanças climáticas agravam a crise nos rios e lagos
- Data: 10/01/2025 08:01
- Alterado: 10/01/2025 08:01
- Autor: Redação
- Fonte: Revista Nature
Caranguejo aratu-vermelho
Crédito:Fernando Frazão/Agência Brasil
Uma nova pesquisa divulgada recentemente aponta que quase um quarto das espécies aquáticas, que habitam rios, lagos e outras fontes de água doce, encontra-se ameaçado de extinção. Os resultados foram apresentados em um estudo publicado na quarta-feira, 8, na revista Nature.
A pesquisa, que envolveu a análise de aproximadamente 23.500 espécies de organismos aquáticos, como libélulas, peixes e caranguejos, revela que 24% dessas espécies estão classificadas como vulneráveis, ameaçadas ou criticamente ameaçadas. Entre as principais causas para essa situação alarmante estão a poluição, a construção de barragens, a extração excessiva de água, práticas agrícolas inadequadas, a introdução de espécies invasoras e os impactos das mudanças climáticas.
Patricia Charvet, bióloga da Universidade Federal do Ceará e coautora do estudo, enfatiza que “rios grandes como o Amazonas podem parecer robustos, mas os ecossistemas de água doce são extremamente frágeis”. Ela ressalta que esses habitats ocupam menos de 1% da superfície terrestre e abrigam cerca de 10% das espécies animais conhecidas.
Catherine Sayer, também coautora do trabalho e zoologista da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), observa que muitas espécies enfrentam uma combinação de várias ameaças simultaneamente, dificultando sua sobrevivência. “A maioria das espécies não enfrenta apenas uma ameaça isolada, mas sim múltiplas pressões que atuam em conjunto”, explica Sayer.
Este é o primeiro estudo a analisar o risco global das espécies aquáticas de forma abrangente; pesquisas anteriores focaram principalmente em animais terrestres como mamíferos e aves. O ecólogo Stuart Pimm, da Universidade de Duke e não envolvido na pesquisa, elogia o trabalho como “extremamente importante” e destaca as modificações drásticas que ocorreram nos grandes rios da América do Norte e Europa devido à construção de barragens.
Na América do Sul, o ecossistema do rio Amazonas enfrenta sérias ameaças advindas do desmatamento e da mineração ilegal. Charvet alerta sobre as consequências dos incêndios florestais ilegais que provocam poluição por cinzas nos corpos d’água e a contaminação por mercúrio resultante da atividade garimpeira ilegal.
Charvet conclui que “rios e áreas úmidas concentram tudo o que acontece ao seu redor”. Ela destaca a fragilidade desses ecossistemas: “Se ocorrer um desastre ambiental significativo, como um derramamento de ácido ou petróleo, isso pode colocar em risco uma espécie inteira. Não há outro lugar para onde esses animais possam se deslocar”.
O estudo acende um alerta sobre a necessidade urgente de medidas efetivas para a conservação dos ecossistemas aquáticos e proteção das diversas espécies que deles dependem.