15ª CineOP – XII Fórum da Rede Kino divulga a Carta de Ouro Preto 2020
“Educação, cultura e arte é que nos civilizam, o resto é barbárie.” (Cristina Amaral) “Terra pra todo mundo, e tela pra todo mundo” (Ailton Krenak) Nós, participantes da Rede Kino – Rede Latino-americana de Educação, Cinema e Audiovisual, comunicamos a todos e todas na esfera pública e privada no âmbito municipal, estadual e federal, mas […]
- Data: 08/09/2020 09:09
- Alterado: 08/09/2020 09:09
- Autor: Redação
- Fonte: Rede Kino
15a CineOP - XII Fórum da Rede Kino divulga a Carta de Ouro Preto 2020
Crédito:Divulgação
“Educação, cultura e arte é que nos civilizam, o resto é barbárie.”
(Cristina Amaral)
“Terra pra todo mundo, e tela pra todo mundo”
(Ailton Krenak)
Nós, participantes da Rede Kino – Rede Latino-americana de Educação, Cinema e Audiovisual, comunicamos a todos e todas na esfera pública e privada no âmbito municipal, estadual e federal, mas principalmente à toda nação brasileira, as reflexões produzidas neste XII Fórum da Rede Kino, realizado virtualmente no Encontro da Educação da 15ª CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto.
Em um contexto trágico como o que hoje vivemos, consideramos antes de tudo imprescindível manifestar nosso luto, reconhecimento e respeito por todas e cada uma das vidas que se perderam em função da pandemia da Covid-19, bem como nossa irrestrita solidariedade com aquelas e aqueles profissionais que se dedicam diuturnamente ao cuidado, à cura e ao conforto dos mais duramente atingidos, e de todos os esforços sérios e consequentes para aliviar o contágio e o impacto da doença.
Compartilhamos uma preocupação humanista com o valor da vida, e afirmamos o humanismo como uma perspectiva ético-política necessária para enfrentar as estratégias de desinformação e relativização da vida por parte de grupos da sociedade que se beneficiam com a agenda necropolítica colocada em prática na gestão nacional dessa crise.
Da mesma forma, expomos uma comoção coletiva a respeito da fragilidade da educação e das escolas nesses tempos de pandemia, na qual muitas crianças, jovens e adultos se viram excluídos do processo educativo, e os profissionais da educação obrigados a administrar uma sobrecarga de trabalho e pesquisa para se adaptar ao contexto das aulas remotas. Nesse cenário crítico, destacamos a contribuição das artes nas práticas educativas remotas. Não compactuamos com a visão utilitária que menospreza seu papel nesse contexto de urgência. Reiteramos nossa crença na escola como espaço de encontro, de afetos e das artes, em especial o cinema e o audiovisual como dispositivos de criação, investigação e comunicação, que instaura tempos e espaços escolares humanistas e emancipatórios.
Diante do tema TELAS E JANELAS EM TEMPOS DE CUIDADO, DELICADEZA E CONTATO, que proporcionou encontros e trocas de saberes com o intuito de valorizar a vida humana e as fragilidades e delicadezas que a rodeiam, sem esquecer a importância do contato e cuidado com o outro, nos deparamos com o desafio de enxergar o contato entretelas como um lugar onde a educação emancipatória possa acontecer, desde que preserve as subjetividades, o diálogo, o respeito, o afeto e a empatia com o outro, embora uma tela jamais nos proporcione um encontro pelo abraço. Neste sentido, o cinema, onde tecnologias e múltiplas linguagens convergem, e que em conceito expandido, se torna audiovisual, citando nosso ilustre e falecido Arlindo Machado, apresenta-se como um caminho possível para dar mais sabor ao saber.
Entendemos que uma característica dos encontros entre a educação, o cinema e o audiovisual é a possibilidade de imaginar sempre um fazer diferente para além do que foi instituído como verdade linear e absoluta. Uma imaginação que é consequência de um pensamento reflexivo, crítico e sensível, que insiste em sacudir as evidências. Que o exercício do ensino remoto durante a pandemia nos faça sair do controle do conhecimento utilitário. É preciso descolonizar os conteúdos e se permitir experimentar outros modos de produzir saberes e afetos. É preciso saber rimar “aprender” com “prazer” e se abrir para as rodas de debate, as práticas cineclubistas online, a produção de dispositivos audiovisuais, experimentações de linguagem, e outras práticas de educação audiovisual em contextos formais e não formais.
Defendemos uma ideia de educação – especialmente a pública – de qualidade, libertadora, igualitária, dialógica, como tanto sonhou Paulo Freire, e acima de tudo, inclusiva, para TODOS, seja presencial ou virtualmente, e que neste momento, sofre a intensificação do processo de sucateamento em consequência do esvaziamento físico do espaço escolar que a pandemia causou, prejudicando ainda mais educadores, famílias, crianças e jovens.
Defendemos também a preservação audiovisual, diante do desmonte e descaso que a Cinemateca Brasileira vem sofrendo há algum tempo, especialmente este ano, 2020, tão marcado pelo abandono e mercantilização da vida e da memória humana.
Reafirmamos a ideia de continuidade: das conversas que nasceram nesta edição e que precisam ser continuadas para além da CineOP; dos projetos que ocupam ambientes formais e não-formais de aprendizagem; das pesquisas que fortalecem o pensar e fazer cinema na educação; da produção cinematográfica do cinema brasileiro; da preservação do nosso patrimônio histórico e cultural; da memória que reside em nossos anciãos dos povos originários, que são bibliotecas vivas de línguas, hábitos e culturas; na continuidade dos eventos culturais, como a própria CineOP, que ajudam a disseminar a cultura brasileira; no ativismo diário e de tudo que contribui para uma educação libertadora e respeitosa com todos os seres humanos em suas diferentes singularidades e formas de existir.
E acima de tudo, defendemos que a VIDA DIGNA é o que mais importa, especialmente a vida de indígenas, negros, pobres, crianças e mulheres, que vem sofrendo ainda mais opressão e fragilidade no contexto da pandemia, e não podemos, nem por um segundo, ignorar a urgência de evidenciarmos tamanha opressão e desigualdade, fazendo do cinema e de todos os espaços de fala e poder, um lugar fundamental de voz, militância e denúncia.
Vamos juntos e juntas, sempre!