WWF-Brasil alerta sobre riscos à maior área úmida do país
No Dia Mundial da Água, instituição aponta as principais ameaças à segurança hídrica devido aos impactos da ação humana no Pantanal
- Data: 22/03/2021 16:03
- Alterado: 22/03/2021 16:03
- Autor: Redação
- Fonte: WWF-Brasil
Aerial view of the Pantanal Matogrossense National Park. Mato Grosso and Mato Grosso do Sul states border, Brazil.
Crédito:Divulgação
Conhecida como reino das águas, a maior área úmida do planeta, que fica nos estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e partes da Bolívia e Paraguai, tem sua segurança hídrica cada vez mais ameaçada. Esse é o alerta do WWF-Brasil no Dia Mundial da Água. Uma combinação de fatores que têm se intensificado ao longo dos anos – que vão das mudanças climáticas às queimadas, passando pelo crescente número de barragens que modificam o fluxo das águas – está alterando a dinâmica das águas do Pantanal, que se tornou especialmente vulnerável este ano. Níveis historicamente baixos do Rio Paraguai podem ocasionar uma nova temporada de queimadas como nos últimos anos, que pode trazer consequências irreversíveis.
Isso porque o Pantanal cumpre várias funções, entre as quais conservação de solo e da biodiversidade, estabilização do clima e fornecimento de água. Segundo o Serviço Geológico do Brasil, o Rio Paraguai, principal indicador das condições de inundação do Pantanal, apresenta uma tendência de seca para este ano de 2021. Especialmente as regiões de Cáceres e Porto Conceição, ambas no Estado de Mato Grosso, apresentam níveis historicamente baixos no Rio Paraguai. No Mato Grosso do Sul, em Forte Ladário e Coimbra também são previstos níveis historicamente baixos. Os modelos de previsão indicam que a seca continuará nos próximos períodos, com uma interrupção da recuperação do nível do rio. Os gráficos no fim do texto mostram o nível do rio fora da zona de normalidade.
“Mesmo que o regime de precipitação se normalize, é pouco provável que o Rio Paraguai e o Pantanal tenham cheias significativas, mantendo-se em níveis historicamente baixos. Além disso, o fogo e as mudanças no uso do solo tendem a afetar a própria precipitação na região. Com a diminuição da cobertura vegetal, a tendência é que haja menor evapotranspiração, menor umidade no ar, e, logo, menor índice de chuvas. Temos um cenário de mudanças climáticas aliado à falta de controle ambiental e infraestrutura para combate a incêndios, isso traz sérias ameaças à biodiversidade do Pantanal, assim como a segurança hídrica da região. Há o risco de haver uma nova catástrofe em razão dos incêndios e uma, como aconteceu em 2019 e 2020”, alerta Cássio Bernardino, analista de conservação do WWF-Brasil.
O equilíbrio do Pantanal depende basicamente do baixar e subir de suas águas. Esse ciclo se repetia todo ano com certa regularidade, possibilitando a renovação constante da fauna e flora e formatando a cultura pantaneira. Porém, desde a década de 1970, a bacia do Alto Paraguai registra uma progressiva mudança em suas paisagens por causa do intenso uso e ocupação do solo. O bioma já perdeu em torno de 18 % de sua cobertura natural, que se converte geralmente em pastos e terras aráveis. O ano passado foi especialmente danoso: em 2020, 22.119 focos de incêndios, cerca de 120% a mais que no ano anterior. Estima-se que mais de 2,1 milhões de hectares foram atingidos pelas queimadas em 2020.
Paralelamente, a ação humana está impondo outro obstáculo ao fluxo natural das águas: existem mais de 100 pequenas centrais hidrelétricas planejadas na região do Pantanal e bacia do Alto Araguaia. Segundo o relatório Alternativas Energéticas Renováveis da Bacia do Alto Paraguai, do WWF-Brasil, todas esses projetos de barramento poderiam ser substituídos por fontes renováveis que têm capacidade de gerar cerca de três vezes a potência nominal das PCHs planejadas para serem construídas na Região Hidrográfica do Paraguai. Essa energia poderia ser gerada a partir de recursos disponíveis na região, tais como biomassa de cana-de-açúcar, dejetos animais, resíduos sólidos urbanos, particularmente das duas principais cidades da região (Cuiabá e Campo Grande), além da energia dos efluentes líquidos (esgoto) e a energia solar. A mudança evitaria os impactos ambientais que podem comprometer o equilíbrio da região e afetar atividades econômicas importantes, como turismo e pesca, além de gerar empregos duráveis.
“Neste Dia Mundial da Água é importante chamar a atenção para a necessidade da criação de uma estrutura robusta de combate, prevenção e previsão de incêndios, mas também para o desenvolvimento de alternativas de desenvolvimento sustentável na região”, ressalta Bernardino.