Vítimas do Essure, método contraceptivo da Bayer, se unem para indenizações

Retirado de circulação na Europa, no Canadá e nos Estados Unidos, o Essure segue sendo utilizado no Brasil. Efeitos colaterais do dispositivo incluem hemorragia, depressão, queda de cabelo

  • Data: 20/08/2020 11:08
  • Alterado: 20/08/2020 11:08
  • Autor: Redação
  • Fonte: Assessoria
Vítimas do Essure, método contraceptivo da Bayer, se unem para indenizações

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Crédito:freepik

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Milhares de vítimas de efeitos colaterais do contraceptivo Essure estão se unindo para pedir indenização por danos provocados pelo produto. Organizadas em grupos de WhatsApp e Facebook, elas trocam experiências e se mobilizam para exigir que os hospitais públicos possam fazer a retirada do dispositivo, que, apesar de todos alertas e do histórico de problemas causados, continua sendo utilizado no Sistema Único de Saúde (SUS).

Desde o início dos implantes do contraceptivo Essure pelo SUS, em 2012, milhares de mulheres apresentaram complicações médicas no Brasil. Entre os efeitos colaterais mais frequentes estão hemorragia, dor de cabeça constante, queda de cabelo, inchaço, manchas na pele, dor pélvica, depressão e infecção urinária. Muitas das vítimas terão de lidar para sempre com as sequelas deixadas pelo Essure.

O Essure foi lançado pela Bayer como uma alternativa menos invasiva e mais moderna à laqueadura, que consiste na ligadura das tubas uterinas. O dispositivo é formado por um par de molas 1,5 a 2 milímetros que se fixam nas paredes das tubas. Mas o que se apresentava como um salto tecnológico nos métodos contraceptivos acabou se revelando um pesadelo coletivo.

Em 2017, após uma série de alertas feitos pelas agências de saúde mais respeitadas do mundo, a Bayer decidiu retirar o Essure de circulação em toda a Europa e no Canadá. No mesmo ano, a Anvisa chegou a proibir a venda do produto no Brasil, mas logo depois voltou a ser comercializado. Em 2018, a comercialização do produto foi interrompida nos Estados Unidos.

Implante do dispositivo foi estimulado pelo SUS

“O dispositivo Essure foi usado em larga escala no Brasil. Ao se inscrever em programas de Planejamento Familiar do SUS, por exemplo, pacientes eram convidadas a assistir a palestras sobre as vantagens do Essure. Muitas já saíam de lá com a implantação do produto agendada, sem necessariamente saber dos riscos que o dispositivo oferecia”, explicou Gabriella Bianchini, sócia do escritório PGMBM e advogada das vítimas.

Depois de ter seu quarto filho, em 2015, a paulistana Mônica foi convencida a implantar o Essure em vez de fazer laqueadura tradicional. Poucos dias depois de ser submetida ao procedimento, ela começou a sofrer hemorragias e dores fortes pelo corpo. Em seguida, percebeu um inchaço na barriga e nas pernas, manchas e ressecamento na pele, queda de cabelo e problemas nos dentes.

“Eu sempre fui muito vaidosa. Depois de tudo isso eu não conseguia mais me olhar no espelho. Eu me achava horrível e não sabia por que eu estava sentindo tudo aquilo. Foi aí que eu entrei em depressão, mas eu não podia me dar o luxo de ficar deprimida porque tenho quatro filhos para criar. Decidi ir à luta e descobri que o Essure tinha sido proibido pela Anvisa”, relembrou Mônica, que ainda convive diariamente com boa parte dos sintomas.

Já Rosa passou por uma experiência semelhante no Rio de Janeiro, mas ainda mais nova. “Eu conheci o Essure no Planejamento Familiar, estava grávida, tinha 27 anos e engravidei tomando anticoncepcional. Me falaram que o procedimento era indolor mas não foi. Senti muita dor mesmo para colocar, e o máximo que eles davam era um anti-inflamatório, tipo Advil. Em seis meses eu engordei 10 quilos, eu desenvolvi fibromialgia nos dentes, perdi meus cílios e minhas sobrancelhas, tive dores nas articulações e não conseguia mais trabalhar normalmente como promotora de vendas”

“Eu coloquei em 2015, eu e mais 16 meninas, porque aqui no Mariska [Ribeiro] (hospital em Bangu) era mutirão. Toda semana tinham de 10 a 20 meninas colocando o Essure”, completou Rosa.

O descaso médico diante dos sintomas adversos provocados pelo método contraceptivo também agravam a saúde física e psicológica dessas mulheres. “Quando eu decidi retirar, em 2018, houve uma relutância muito grande no hospital. O médico falou que todos os problemas não eram relacionados ao dispositivo e que se eu tirasse eu continuaria sentindo os mesmos sintomas. Temos medo que, dependendo de como e do que a gente fale, a gente sofra represálias em uma mesa de cirurgia”, contou a carioca.

Depois de ter contato, pela internet, com os depoimentos das vítimas do Essure no Estados Unidos, Mônica começou a se conectar com outras mulheres brasileiras que estavam passando pelo mesmo drama. Ela decidiu, então, criar a página “Vítimas do Essure BR” no Facebook, que rapidamente ganhou a adesão de centenas de vítimas Brasil afora.

Tanto Mônica quanto Rosa afirmam que tudo que querem, agora, é uma reparação e o direito de realizar a histerectomia total (ou seja, a retirada completa do útero) – ao invés de terem que  passar primeiro por uma retirada das trompas e depois por uma segunda cirurgia para resolver o problema de forma mais efetiva.

“A vida delas foi destruída por causa do Essure. A maioria delas convive até hoje com dores crônicas e agudas, depressão profunda e perda da capacidade motora”, revela Bianchini.

Especializado em ações coletivas, o PGMBM tem em seu histórico  uma série de ações contra algumas das maiores empresas multinacionais do mundo, como a BHP Billiton e a Mercedes Benz. O escritório está prestando apoio jurídico às vítimas do Essure e colhendo depoimentos de centenas de vítimas Brasil afora.

“Sabemos que nenhum dinheiro vai devolver a vida que as vítimas do Essure tinham antes do implante. Mas precisamos ter a certeza de que elas serão indenizadas pelos inúmeros danos sofridos e terão condições financeiras de arcar com os tratamentos médicos necessários para diminuir os efeitos colaterais do dispositivo”, afirmou Bianchini.

Mulheres que estejam sofrendo efeitos colaterais após a implantação do Essure podem procurar os grupos de apoio “Vítimas do Essure” no Facebook e no site Vítimas do Essure BR.

A assessoria de comunicação da Bayer enviou uma nota de esclarecimento a qual publicamos na íntegra, abaixo:

Nota de esclarecimento

Em relação à matéria “Vítimas do Essure, método contraceptivo da Bayer, se unem para indenizações”, divulgada no portal ABC do ABC em 20 de agosto de 2020, a Bayer gostaria de esclarecer alguns pontos.

Diferentemente do informado, o Essure não é mais comercializado no Brasil desde 2017, por questões comerciais e estratégicas de negócios, não tendo qualquer relação com a segurança e eficácia do contraceptivo. A Bayer reforça que a ANVISA (agência regulatória brasileira) jamais proibiu a comercialização do dispositivo Essure® no país por questões de segurança ou eficácia. A decisão de suspender temporariamente sua comercialização se deu por uma questão administrativa causada pelo atraso na apresentação de documentos por parte da COMMED (Comercial Commed Produtos Hospitalares Ltda), detentora do registro do produto no Brasil e responsável pela distribuição exclusiva na época.

A segurança de Essure® é comprovada por um corpo robusto de dados de estudos científicos. Esse conjunto de dados inclui os resultados de 10 ensaios clínicos e mais de 60 estudos observacionais, conduzidos pela Bayer e pesquisadores independentes nos últimos 20 anos, envolvendo mais de 270.000 mulheres. Todos os produtos e procedimentos para controle de natalidade têm riscos, e a totalidade de evidências científicas demonstram que o perfil de segurança de Essure® é consistente com os riscos identificados no momento de sua aprovação e é comparável a outras opções de controle de natalidade permanente.

A Bayer apresentou esclarecimentos sobre os riscos e benefícios do produto para os compradores (Secretarias Municipais e Estaduais de Saúde e hospitais públicos) e reforça que incentivar a retirada indiscriminada do Essure®, sem prévia análise clínica por um profissional capacitado, pode gerar pânico e colocar em risco a vida das pacientes. As evidências técnicas devem ser verificadas e prevalecer diante de qualquer decisão de retirada ou medida neste sentido.

A companhia permanece comprometida com suas obrigações médicas e regulatórias, e está coletando as informações de segurança, qualidade e desempenho, cumprindo a legislação aplicável. A empresa está mantendo interlocução com autoridades da saúde sobre o tema com o objetivo de garantir qualquer esclarecimento a respeito do Essure®. A Bayer reforça seu comprometimento com seus pacientes e com a alta excelência de seus medicamentos e segue à disposição através do SAC 0800 7021241.

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  • Data: 20/08/2020 11:08
  • Alterado:20/08/2020 11:08
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