Teimosia ou tolice? A proposta fracassada do governo para conter a inflação
Declarações recentes do governo apontam para estratégias historicamente ineficazes no combate à inflação, ignorando princípios econômicos básicos e evidências consolidadas
- Data: 23/01/2025 13:01
- Alterado: 23/01/2025 13:01
- Autor: Prof. Allan Augusto Gallo Antonio
- Fonte: Assessoria
Crédito:Marcello Casal Jr/Agência Brasil
Nos últimos anos, o crescente interesse dos jovens pela economia e pelo mercado financeiro tem se refletido em um aumento significativo na procura por cursos de Economia, Administração e Contabilidade. Muitos ingressam na universidade com pouco ou nenhum conhecimento das leis que regem, com a inflexibilidade de uma lei natural, o funcionamento da economia.
Nas aulas introdutórias, é comum que os alunos sejam apresentados a conceitos fundamentais, como o modelo de equilíbrio geral, que esclarecem o papel das forças de oferta e demanda na formação de preços. É neste momento que eles geralmente compreendem que, assim como não é possível desafiar a lei da gravidade, não se pode controlar os preços sem gerar distorções e prejuízos.
Porém, essa compreensão básica parece ausente no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Aqui, o dilema emerge: seria isso resultado de uma ignorância crônica – uma tolice na seleção dos ministros – ou de uma teimosa crença de que é possível subjugar as forças de mercado? Ambas as hipóteses se revelam igualmente imprudentes, sobretudo diante da vasta evidência histórica que demonstra o fracasso de medidas como o controle de preços. A questão ganhou destaque recentemente com declarações do ministro Rui Costa, durante entrevista no programa Bom Dia, Ministro, da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República.
“Vamos fazer algumas reuniões com o Ministério da Agricultura, o Ministério do Desenvolvimento Agrário e o Ministério da Fazenda para buscar um conjunto de intervenções que sinalizem para o barateamento dos alimentos”, afirmou o ministro.
Mas, afinal, quais medidas diretas, além da óbvia contenção de gastos e da redução de tributos incidentes sobre a cadeia produtiva, poderiam ser eficazes? O governo pretende, por acaso, controlar fatores climáticos ou reverter a valorização do dólar frente ao real de maneira permanente? Que “conjunto de intervenções” milagroso seria capaz de conter a inflação sem recorrer às velhas e fracassadas experiências de controles artificiais de preço, cujos resultados historicamente produziram desabastecimento e mercados paralelos?
Embora a Casa Civil tenha tentado remediar a situação, alegando que não há discussão sobre intervenções artificiais para reduzir os preços dos alimentos, o estrago já estava feito. A declaração do ministro revelou algo maior: a preocupante percepção de que a inflação pode custar a reeleição de Lula.
Diante disso, resta a pergunta: teimosia ou tolice? Ignorância de conceitos básicos de economia ou insistência em narrativas populistas que, no fundo, servem apenas para alimentar um discurso já desgastado do Partido dos Trabalhadores? Talvez um pouco de ambos, em um coquetel que mistura pragmatismo eleitoreiro com uma crença equivocada de que é possível desafiar as leis do mercado sem consequências.
Os jovens estudantes de economia aprendem logo no início de suas formações o que este governo insiste em ignorar: as forças de mercado não se dobram ao voluntarismo político. E, como a história já mostrou tantas vezes, desafiar essa realidade não resulta em progresso, mas em retrocesso.
Allan Augusto Gallo Antonio
Allan é professor de Economia e Direito na Universidade Presbiteriana Mackenzie. Pesquisador do Centro Mackenzie de Liberdade Econômica (MackLiber).