Tecnologia inovadora pode acelerar diagnóstico de autismo em crianças
EarliPoint promete enfrentar os desafios do diagnóstico tardio do TEA.
- Data: 13/02/2025 15:02
- Alterado: 13/02/2025 15:02
- Autor: Redação ABCdoABC
- Fonte: Assessoria
A recente aprovação da ferramenta de Avaliação EarliPoint™ pela FDA (Food and Drug Administration ou Administração de Alimentos e Medicamentos dos EUA) representa mais do que um avanço na tecnologia médica; é um marco para a saúde infantil e para milhões de famílias atípicas em todo o mundo. Este é o primeiro dispositivo aprovado para diagnosticar o Transtorno do Espectro Autista (TEA) em crianças a partir de 16 meses, utilizando tecnologia inovadora de rastreamento ocular.
A Avaliação EarliPoint™ funciona monitorando os padrões de atenção visual das crianças enquanto elas assistem a vídeos especialmente projetados. O sistema mede mais de 120 preferências focais por segundo, permitindo uma análise detalhada de como a criança interage visualmente com estímulos sociais. Esses dados são comparados a métricas de referência apropriadas para a idade, auxiliando os profissionais de saúde a identificar possíveis sinais de autismo de forma mais rápida e precisa.
No Brasil, ainda não se sabe ao certo quantas pessoas estão no espectro autista. Apesar de o IBGE ter incluído, em 2022, uma pergunta específica sobre autismo no Censo, os dados ainda não foram divulgados, o que reforça a falta de informações precisas sobre o TEA no país. Para se ter uma ideia, em Santa Catarina, por exemplo, a Fundação Catarinense de Educação Especial (FCEE) emitiu 24.900 Carteiras de Identificação do Autista entre fevereiro de 2020 e setembro de 2024. Além disso, em 2024, 23.452 pessoas com TEA foram atendidas em 239 instituições especializadas credenciadas à FCEE. Esses números ilustram a realidade de apenas um estado, destacando o desafio em escala nacional.
Embora a tecnologia possa demorar para chegar ao Brasil, é fundamental compreender sua relevância global. A identificação precoce do autismo é essencial para o desenvolvimento da criança, permitindo intervenções que aprimoram habilidades sociais, de comunicação e comportamentais. Estudos indicam que sinais do TEA podem ser detectados de forma consistente entre 12 e 24 meses. Intervenções iniciadas nessa fase proporcionam um impacto positivo no prognóstico, favorecendo o desenvolvimento cognitivo e social.
“Sistemas tecnológicos inovadores como este representam um importante avanço na democratização do acesso à saúde, permitindo que famílias, parentes e cuidadores obtenham diagnósticos precoces para crianças dentro do espectro autista. Esta tecnologia é especialmente significativa pelo potencial de poder contribuir na redução do tempo de espera pelo laudo definitivo, impactando positivamente a vida de milhares de famílias”, comenta a psicóloga e Gerente de Produto da rede de cuidado de saúde atípica Genial Care, Lívia Bomfim.
Por que isso importa para o mundo?
A detecção precoce do TEA pode transformar vidas. Estudos mostram que diagnósticos feitos na primeira infância permitem intervenções terapêuticas mais eficazes, melhorando significativamente o desenvolvimento social, cognitivo e emocional das crianças. No entanto, barreiras como a escassez de especialistas e métodos subjetivos de avaliação atrasam frequentemente o diagnóstico, especialmente em países de baixa e média renda.
“Ferramentas como o EarliPoint™ representam um avanço significativo não apenas pelo potencial de acelerar o processo diagnóstico, mas também por oferecer precisão científica, reduzindo incertezas e permitindo intervenção precoce. Tecnologias como essa têm o potencial de democratizar o acesso ao diagnóstico e estabelecer novos padrões globais de cuidado em saúde”, declara Lívia Bomfim.
Como é realizado o exame?
A Avaliação EarliPoint™ funciona de forma simples e eficiente. Durante o teste, as crianças assistem a um vídeo de apenas 12 minutos. Enquanto o vídeo é exibido, o dispositivo registra e analisa o comportamento visual momento a momento. Os dados coletados são comparados aos de milhares de crianças com desenvolvimento típico para identificar divergências associadas ao TEA.
Esse processo permite que os clínicos reduzam o tempo necessário para obter um diagnóstico preciso, de várias horas para apenas 12 minutos de avaliação objetiva.
Utilizando rastreamento ocular avançado, a ferramenta monitora como as crianças interagem visualmente com vídeos projetados para identificar padrões relacionados ao TEA.
Ao final do exame, é gerado um relatório personalizado e detalhado, com a visualização do teste, permitindo ao médico uma leitura mais precisa e objetiva sobre a presença do autismo, o nível de deficiência social e até mesmo as habilidades verbais e não verbais da criança.
“O tipo de análise de dados que essa ferramenta propõe pode ser um divisor de águas para os profissionais de saúde, que agora poderão complementar suas avaliações clínicas com dados clínicos de muito valor. É importante ressaltar, no entanto, que mesmo com esses avanços tecnológicos, o sistema atua como uma ferramenta de apoio e não substitui o diagnóstico clínico final, sendo fundamental a avaliação do profissional que acompanha a criança”, explica a psicóloga.
Um marco na democratização do diagnóstico
Embora, atualmente, disponível apenas em centros especializados nos EUA, a aprovação da FDA abre caminho para a disseminação global da tecnologia. Países como o Brasil, onde o diagnóstico precoce do TEA ainda enfrenta desafios estruturais, podem se beneficiar enormemente, especialmente comunidades sub-representadas, como, por exemplo, a população negra autista.
De acordo com um levantamento da Adapte, crianças autistas negras têm 2,6 vezes mais probabilidade de receber diagnósticos errados de transtorno de ajustamento ou de conduta antes de serem diagnosticadas com TEA. Além disso, atrasos nos processos de avaliação de crianças negras podem prolongar o diagnóstico de TEA em até três anos.
Pesquisas apontam que crianças negras têm menos probabilidade de receberem o diagnóstico de TEA na idade adequada, limitando o acesso a terapias e apoio educacional. Como consequência, muitos adultos negros cresceram sem o suporte necessário, enfrentando julgamentos que impactaram negativamente seu desenvolvimento por causa de diagnósticos tardios.
“Embora o diagnóstico precoce de autismo esteja aumentando, as desigualdades socioeconômicas e raciais ainda são grandes barreiras, dificultando o acesso a cuidados especializados. Crianças autistas tornam-se adultos autistas, e o diagnóstico precoce e adequado contribui para uma sociedade mais inclusiva e compreensiva, onde todos são valorizados por suas singularidades”, pontua a Vice-Presidente Clínica da Genial Care, Thalita Possmoser.