Tarcísio se engaja a Nunes com blindagem, helicóptero e agendas vazias de governo
Governo afirma que uso de aeronaves e atos de campanha durante horário de expediente não ferem lei eleitoral
- Data: 20/10/2024 11:10
- Alterado: 21/10/2024 07:10
- Autor: redação
- Fonte: Carolina Linhares/Folhapress
Crédito:Divulgação/Governo de São Paulo
Principal cabo eleitoral de Ricardo Nunes (MDB) e sócio majoritário da eventual vitória do prefeito de São Paulo, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) usou helicóptero para comparecer a atos de campanha, fechou sua agenda em dias críticos, fez viagens de articulação política e, nesta reta final, assumiu a linha de frente da crise do apagão.
Quando Nunes passou para o segundo turno na disputa mais acirrada da capital paulista desde a redemocratização, Tarcísio foi o terceiro a ser mencionado pelo prefeito no discurso de agradecimento, na noite de 6 de outubro, atrás apenas de Deus e da família.
Se no primeiro turno o papel de Tarcísio foi ser fiador de Nunes na direita, agora neste segundo turno, em que o apagão da Enel domina o embate eleitoral, o governador reforçou a estratégia do prefeito de cobrar a concessionária e o governo federal.
Na tentativa de blindar Nunes do desgaste embutido na crise climática e energética, Tarcísio, que tem mais capital político para queimar, passou a liderar o plano de emergência em relação ao novo temporal do fim de semana.
Foi o governador que convocou, na semana passada, duas reuniões, no Palácio dos Bandeirantes, com nomes dos governos federal, estadual e municipal envolvidos na crise.
A primeira, na terça (15), teve a presença de Augusto Nardes, ministro do TCU (Tribunal de Contas da União), e a segunda, na quinta (17), foi a que Nunes usou para faltar ao debate com Guilherme Boulos (PSOL), promovido por Folha, UOL e Rede TV!.
Num movimento conjunto, após a reunião da quinta, nem Nunes nem Tarcísio deram entrevista à imprensa, algo que foge ao habitual. Com jornalistas dispostos a questionar sobre a ausência no debate, emendaram outra reunião no palácio e almoçaram juntos. Boulos chegou a dizer que era lamentável Nunes “se esconder debaixo da saia de Tarcísio”.
Dando prioridade à campanha, o governador chegou a usar helicóptero para comparecer a agendas com Nunes, como um evento com empresários da zona leste, na Mooca, em 25 de setembro, marcado para o início da noite.
O compromisso não apareceu na agenda oficial de Tarcísio, mas o seguinte foi registrado –uma visita de ambos à linha 6-laranja do metrô. Sinal da intimidade adquirida na campanha, o prefeito pediu ao governador que parassem no caminho para comer hambúrguer, mas não houve tempo.
Na tarde do dia 11 de setembro, Tarcísio usou helicóptero para ir e voltar de Perus, na zona norte. Primeiro, governador e prefeito visitaram obras de contenção de cheias no Jardim Adelfiore, um compromisso registrado na agenda oficial de ambos.
Em seguida, caminharam pelo comércio na Vila Perus, compromisso da campanha de Nunes, mas não de governo, que não foi registrado na agenda oficial deles.
No início de setembro, quando ficou claro que Pablo Marçal (PRTB) ameaçava a votação de Nunes na direita, Tarcísio fez um bate e volta a Brasília para se encontrar com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e tentar convencê-lo a embarcar na campanha. A viagem não foi registrada na agenda de Tarcísio do dia 4 de setembro.
O governador escapou ainda no dia 10 de setembro para fazer campanha -não para Nunes desta vez, mas para Renato Bolsonaro (PL), irmão do ex-presidente, que acabou perdendo a eleição para a Prefeitura de Registro, no Vale do Ribeira.
Durante a tarde, ao lado de Bolsonaro, Tarcísio participou de motociata e, em seguida, de um comício de Renato na cidade, o que não apareceu em sua agenda. O compromisso oficial daquele dia foi justamente uma visita, pela manhã, a um hospital no município vizinho de Pariquera-Açu.
Na semana que antecedeu o primeiro turno, porém, a dedicação de Tarcísio voltou exclusivamente para a campanha de Nunes, num cenário de empate triplo com Marçal e Boulos.
O governador chegou a participar da preparação do prefeito para o debate da TV Globo, que ocorreu três dias antes da votação. Naquele dia 3 de outubro e no dia seguinte, às vésperas do primeiro turno, Tarcísio não teve compromissos de governo e sua agenda ficou vazia.
De acordo com aliados, ele quis reservar sua agenda para se dedicar à campanha nos bastidores, pedindo votos para Nunes por meio de ligações e reuniões. No último dia 10, por exemplo, foi Tarcísio quem se reuniu com três vereadores eleitos aliados de Marçal para pedir que eles façam campanha para Nunes no segundo turno.
Como mostrou a coluna Painel, da Folha de S. Paulo, Tarcísio esteve com Nunes em 20 eventos durante os 50 dias de campanha do primeiro turno, sendo que 8 deles ocorreram em dias úteis, no horário de expediente. Eles estiveram juntos principalmente em eventos religiosos, caminhadas no comércio e encontros com empresários.
Foi em um desses encontros com empresários, na zona norte, na quarta-feira que antecedeu o primeiro turno, que o secretário estadual Gilberto Kassab, presidente do PSD, ao lado de Tarcísio e de Nunes, resumiu a atuação política do governador em prol do prefeito.
“Poucas vezes nós vimos um governador com a avaliação que ele tem, com a aprovação que ele tem, dando a cara para bater, com a credibilidade que tem. É um exemplo para todos nós”, disse.
Procurada pela reportagem a respeito do uso de helicóptero para agendas de campanha, a assessoria de Tarcísio afirma que o uso da aeronave não fere a lei eleitoral e que a segurança do governador e seus deslocamentos ficam a cargo da Casa Militar.
Em nota, a assessoria diz que “preceitos de segurança e eficiência no deslocamento”, como condições de tráfego, comparação do tempo de deslocamento aéreo ou terrestre e distância entre os locais de agenda, são levados em conta para “melhor aproveitamento da disponibilidade de tempo de agenda do governador” e para “maximizar a permanência nas agendas e permitir número maior de compromissos de governo”.
Já as agendas de campanha durante o expediente não são ilegais, pois a jurisprudência da Justiça Eleitoral permite que agentes políticos façam atividades eleitorais no horário de trabalho.