Sesc Santo André realiza 2ª Edição do projeto Memórias do Samba Paulista

Projeto apresenta grandes nomes do samba de São Paulo de diferentes gerações, para shows e bate-papos mediados por Moisés da Rocha

  • Data: 06/05/2019 09:05
  • Alterado: 06/05/2019 09:05
  • Autor: Redação
  • Fonte: Sesc Santo André
Sesc Santo André realiza 2ª Edição do projeto Memórias do Samba Paulista

Crédito:divulgação

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A cultura do café, enraizada no interior paulista, inflou a economia brasileira na segunda metade do século XIX. Em Santana de Parnaíba e cidades do entorno, a economia cafeeira transformou a realidade de muitos habitantes do município e de outras localidades; entre eles, os negros que foram levados e escravizados nas fazendas. O tráfico de pessoas e o aumento da oferta de mão-de-obra, legitimada pelo estado escravocrata, foram responsáveis por tornar o Brasil um dos maiores exportadores mundiais de café.  Mas o protagonismo oculto dos negros do interior de São Paulo não se limita apenas ao crescimento da economia do país. Foram eles que, mesclando costumes, manifestações culturais singulares e resistindo à escravidão, deram origem a um dos símbolos internacionais da música brasileira: o samba paulista.

Ao contrário da comum associação, o samba paulista não é derivado do samba carioca, originado das camadas populares que ocupavam os morros do Rio de Janeiro. Em São Paulo, o samba nasceu da cultura caipira e rural, fluindo de ritmos como Tambu, Batuque de Umbigada, Samba de Bumbo, entre outros.  Com o declínio da cultura do café, muitos habitantes do interior paulista migraram para o centro urbano de São Paulo no final do século XIX. A urbanização metropolitana, a construção de prédios e novas moradias expulsaram os cortiços – em sua maioria, ocupados por negros – do centro da cidade. Era o fim das “malocas”, um “causo” retratado por Adoniran Barbosa em seu memorável samba, Saudosa Maloca, em 1951.

Estas e outras memórias estarão no palco do Teatro do Sesc Santo André a partir de maio, na segunda edição Memórias do Samba Paulista.  Em quatro encontros mediados pelo radialista e pesquisador Moisés da Rocha, o projeto busca trazer ao público histórias e trajetórias do samba nas vozes de sambistas consagrados. Entre uma conversa e outra, os convidados contarão “causos” de suas memórias no samba de São Paulo, além de interpretar algumas obras, acompanhados por bandas de base diferentes a cada apresentação.

O primeiro encontro acontece dia 17 de maio, sexta-feira. Moisés da Rocha convida o compositor Canhotinho, integrante do Demônios da Garoa, grupo vocal-instrumental mais antigo e atuante do país, e o Conjunto João Rubinato, que através de uma vasta pesquisa celebra a vida e a obra de Adoniran Barbosa, revelando novas facetas ainda pouco conhecidas deste personagem do samba de São Paulo.

No dia 24, Moisés recebe o cantor e compositor Eduardo Gudin, para um bate papo com Julião Pinheiro, um dos fundadores da famosa roda Samba do Ouvidor, no Rio de Janeiro. No encontro entre violinistas de diferentes gerações, Gudin e Julião celebram suas parcerias em comum com Paulo César Pinheiro, pai de Julião, e não se restringem a sotaques e territorialismos ao exaltar o samba como patrimônio da cultura popular brasileira no show Samba Sem Fronteiras.

Na semana seguinte, dia 31, é a vez do músico Roberto Seresteiro unir-se à cantora Ana Bernardo, sob mediação de Moisés da Rocha, para uma conversa sobre a obra de um dos maiores compositores paulistas: Paulo Vanzolini. Nesse encontro, os artistas revivem memórias da assídua convivência de ambos com o homenageado e seu repertório.

Para encerrar a segunda edição do Memórias do Samba Paulista, no dia 7 de junho, Moisés da Rocha convida o músico natural de Santo André, Leandro Matos e a sambista Tia Cida dos Terreiros, uma das principais referências femininas e precursoras do samba em São Paulo. No show O Samba das Quebradas, Tia Cida e Leandro Matos destacam o estilo e temas do samba tocado nas periferias paulistas, com ênfase para a produção da comunidade Berço do Samba de São Mateus.

Sesc Santo André

Memórias do Samba Paulista – Encontro de gerações

De 17/5 a 7/6, sextas-feiras.

Ingressos nos valores de R$20,00 (inteira), R$10,00 (meia-entrada) e R$ 6,00 (trabalhadores do comércio de bens, serviços e turismo e seus dependentes com Credencial Plena). Disponíveis on-line no Portal Sesc SP a partir de 7/5, às 12h; e nas Bilheterias do Sesc SP a partir de 8/5, às 17h30.

No Teatro. Recomendação etária: 12 anos.

Viva, Adoniran!: Moisés da Rocha convida Canhotinho e Conjunto João Rubinato

Dia 17/5 – 21h

Esse bate papo destaca a obra de Adoniran Barbosa através das memórias de um veterano e prestigiado artista e do trabalho de pesquisa elaborado por jovens músicos, revelando facetas pouco conhecidas do homenageado.

Roberto Barbosa, mais conhecido como Canhotinho, é um instrumentista, compositor e cantor nascido em 1938.  Foi considerado pelo próprio Waldir Azevedo, o Rei do Cavaquinho, como seu legítimo sucessor. Hoje em dia, Canhotinho é considerado o maior cavaquinista do Brasil. Canhotinho também é um dos integrantes do grupo vocal-instrumental mais antigo e atuante do país: os “Demônios da Garoa”, que imortalizaram as músicas de Adoniran Barbosa. Integrou diversos conjuntos regionais, ao lado do flautista Carlos Poyares e do violonista de 7 cordas Ventura Ramirez, por exemplo. Como solista, Canhotinho tem diversos discos gravados, como os LPs “Valsas Inesquecíveis” e “Pedacinhos do Céu”. Como compositor, além das diversas músicas gravadas pelos Demônios da Garoa, recebeu diversos prêmios.  Recentemente, Canhotinho idealizou um projeto em homenagem a Adoniran Barbosa, no qual se apresenta como cantor solo e cavaquinista, a fim de compartilhar com o grande público suas memórias sobre seu convívio pessoal e profissional com o homenageado. 

O Conjunto João Rubinato é formado por exímios e jovens instrumentistas, dedicados à valorização da obra de Adoniran Barbosa, pseudônimo deste que é um dos principais nomes do samba de São Paulo de todos os tempos, batizado João Rubinato. Em 2018, o grupo lançou o primoroso disco-livro “Adoniran em Partitura”, com 12 canções inéditas do músico. A publicação traz as partituras das faixas elaboradas entre 1935 e 1970, bem como fotos e reportagens da época e um texto acerca do início da carreira do compositor. Essa profunda pesquisa contou com apoios múltiplos, como o de Sergio Rubinato, sobrinho do mestre; Carlinhos Vergueiro, amigo e parceiro do homenageado; Regina Cordovil, cantora que herdou do pai afeto enorme por Adoniran; Toinho Melodia e Osvaldinho da Cuíca, sambistas da velha guarda da garoa, e Eduardo Gudin, parceiro e ex-empresário de Adoniran Barbosa. 

Samba Sem Fronteiras: Moisés da Rocha convida Eduardo Gudin e Julião Pinheiros

Dia 24/5 – 21h.

Moisés reúne no palco dois compositores de samba e violonistas de gerações diferentes, que não se restringem a sotaques ou territorialismos em suas obras, entrelaçadas por meio de um parceiro em comum: Paulo César Pinheiro.

Eduardo Gudin é compositor e violonista consagrado nacionalmente e seu nome é reconhecido como um dos mais importantes sambistas de São Paulo, ao lado de Paulo Vanzolini e Adoniran Barbosa, seus parceiros. A produção musical de Gudin é extensa e transcende fronteiras de estilos, épocas e territorialidade. Prova disso é sua intensa produção com o compositor carioca Paulo César Pinheiro, seu principal parceiro, com quem compõe desde a década de 70.

 Julião Rabello Pinheiro é um compositor jovem, filho de Paulo César Pinheiro com a cavaquinista Luciana Rabello. Herdeiro de um enorme talento musical, Julião tem na obra de Eduardo Gudin uma de suas principais influências. Julião é também um dos principais fundadores da famosa roda “Samba da Ouvidor”, do Rio de Janeiro, onde a obra de Gudin sempre é executada com muito entusiasmo pelos músicos jovens que participam desses encontros quinzenais.  Em início de carreira solo, Julião lançou seu primeiro disco – Pulsação (Acari/2016) – com melodias próprias e letras de seu pai.

Tributo a Paulo Vanzolini: Moisés da Rocha convida Roberto Seresteiro e Ana Bernardo

Dia 31/5 – 21h.

Neste encontro, o projeto destaca a obra de Paulo Vanzolini, um dos maiores compositores de São Paulo de todos os tempos, através de dois intérpretes que conviveram assiduamente com o homenageado e conhecem profundamente seu repertório. 

Roberto Seresteiro: O jovem piracicabano Roberto Saglietti Mahn, ou Roberto Seresteiro, é um dos intérpretes mais talentosos de sua geração.  Seu trabalho é todo dedicado à pesquisa e valorização de gêneros tradicionais da música popular brasileira, como a valsa, a seresta, a canção, a modinha, o choro, o samba, o samba-canção e o samba-de-breque. 

Ana Maria Bernardo: Ana Maria Bernardo é uma cantora experiente que nasceu e se criou dentro das rodas autênticas da música paulistana, conduzida pelas mãos de seu pai, Arthur Bernardo, um dos fundadores do grupo “Demônios da Garoa”. Dona de uma voz potente, de afinação e interpretação impecáveis, seu estilo traz a marca dos cantores que viu seu pai acompanhar, como Agostinho dos Santos, Elizeth Cardoso, Maysa, Isaurinha Garcia, Nora Ney, Lúcio Alves etc. Ana Bernardo é idealizadora e responsável do box, Acerto de Contas, de Paulo Vanzolini (Prêmios: BR-Rival/ 2003 – CD Tributo; APCA/2003), que envolveu o registro quase completo da obra de Paulo Vanzolini, com quem foi casada durante os últimos 20 anos de vida do compositor. 

O Samba das Quebradas: Leandro Matos e Tia Cida dos Terreiros

Dia 7/6 – 21h.

Neste encontro, o projeto destaca o estilo musical e os temas do samba praticado nas periferias da cidade de São Paulo, com destaque para a produção da comunidade Berço do Samba de São Mateus.

Natural de Santo André/SP, Leandro Matos é um jovem sambista de mão cheia: toca cavaco com maestria, compõe, canta, produz, arranja e orquestra.  Ativo e requisitado, já trabalhou ao lado de grandes nomes da música brasileira, como Fabiana Cozza, Danilo Caymmi, Verônica Ferriani, Zezé Mota, Flávia Bittencourt, Grazzi Brasil, Seu Jorge, entre outros.  Seu trabalho está ligado às raízes da música de subúrbio e à música instrumental. Discípulo do Maestro José Menezes, com quem gravou três álbuns, Leandro também fez parte da comunidade Berço do Samba de São Mateus como compositor, instrumentista e intérprete. Segundo o artista, o samba sempre esteve engajado nas questões sociais e movimentos de resistência e é nesse sentido que caminha sua produção autoral.  

Nascida no bairro de São Mateus em 1940, foi dançando lundu com sua mãe e avó na infância que Tia Cida teve contato com os primeiros batuques africanos.  O samba teve primazia em sua trajetória e ao lado dos filhos (um deles o “Tocão”, cavaquinista do extinto grupo Quinteto em Branco e Preto), Tia Cida começou a percorrer rodas de samba espalhadas por São Paulo, garimpando o melhor das batucadas para sua vida. Uma das principais referências femininas e precursoras do samba de São Paulo, nos anos 1990, Tia Cida recebeu o título de madrinha do Berço do Samba de São Mateus, roda que traz em seu repertório composições que falam do cotidiano do bairro e da complexidade da vida na periferia, além de canções tocadas nos primórdios das rodas feitas nos quintais das “tias”. Atualmente, dentre outros projetos, Tia Cida integra o Movimento Cultural Amigas do Samba, que tem como foco de pesquisa a obra de compositoras e cantoras a partir da década de 1920, que tratam do machismo e da violência contra a mulher. 

Sobre Moisés da Rocha

Marco da popularização do samba nas emissoras de rádios com o programa O Samba Pede Passagem, Moisés da Rocha começou a se envolver com samba nos primeiros anos de vida. Nasceu em Ourinhos, interior de São Paulo, e foi criado em uma família que soube o preparar “para os embates da vida, com respeito e dignidade”, como o próprio radialista diz. Foi na infância, ouvindo rádio e em companhia dos pais nas festas populares da cidade, onde iniciou a sua relação de carinho com o samba.

O jovem, que sonhava em seguir carreira de cantor profissional, teve o desejo alterado em 1967, há 50 anos, quando Domingos De Lello o convidou para fazer teste de locutor na Rádio Cometa, em São Paulo. Daí em diante, ele se tornou radialista, passando por quase todas as funções da área, como a de programador musical, posição que o permitiu conhecer mais sobre o universo do samba. Com o programa O Samba Pede Passagem, foi premiado pela APCA – Associação Paulista de Críticos de Arte e é reconhecido pela preservação das raízes culturais afro-brasileiras no mundo da música.

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