“Se tudo der errado, teremos candidatura própria”, afirma Clóvis Volpi

Prefeito de Ribeirão Pires em entrevista exclusiva ao ABCdoABC fala de como herdou a cidade e o momento atual. Acompanhe

  • Data: 28/10/2021 08:10
  • Alterado: 28/10/2021 08:10
  • Autor: Andréa Brock
  • Fonte: ABCdoABC
“Se tudo der errado, teremos candidatura própria”, afirma Clóvis Volpi

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Com 50 anos de vida pública, o prefeito Clóvis Volpi está no seu terceiro mandato à frente do executivo de Ribeirão Pires. Já foi vereador por Mauá, deputado estadual e também federal na época pelo PSDB. Em entrevista exclusiva ao Portal ABC do ABC, para a jornalista Andréa Brock, Volpi falou como herdou a cidade, como está agora, comemora o fato de Ribeirão Pires não registrar nenhum óbito por COVID-19 nos últimos 60 dias, fala com tranquilidade sobre o processo que discute a cassação de seu atual mandato e afirma que o Brasil precisa de um governante conciliador para sair da situação que se encontra. Leia a entrevista na íntegra.

Portal ABC do ABC: Prefeito você e sua cidade passaram por momentos delicados e difíceis nos primeiros meses da pandemia. Você teve falta de kits de intubação, dificuldade para atender o grande número naquele momento de pacientes infectados. Você chegou a decretar estado de calamidade pública. Na sua opinião houve falta de atenção das autoridades ou politização da pandemia?
Clóvis Volpi: Nós fomos surpreendidos no início do nosso mandato, praticamente quando aquela segunda Cepa do Covid apareceu e a cidade não estava preparada para aquilo, o volume de gente contaminada era enorme, nós fazíamos cerca de 300 testes por dia e pelo menos 36 pessoas, pouco mais de dez por cento estavam contaminadas, e desse número uma grande parte necessitava de internação, nós não tínhamos aqui uma estrutura suficiente no final de fevereiro, março e abril. Nós tínhamos um hospital de campanha com 41 leitos e uma UPA que não poderia estar atendendo o doente do Covid por mais de 24 horas na UPA, então nós não estávamos suportando o número de contaminados. O sistema CROSS, aquele que identifica vagas para atender as pessoas, estava superlotado. Tivemos uma discussão muito grande na época porque o governo do Estado entendia que o sistema CROSS poderia suportar o atendimento e nós entendíamos que seria insustentável pelo volume de atendimento suportar o volume de contaminados. Então nós tínhamos aqui em média 5 óbitos por dia. Eu cheguei a abrir covas no hospital, eu tive pacientes que morreram dentro de ambulância, embora eu dizia que iria morrer gente nas calçadas, o hospital era superlotado, a UPA também e o que foi pior foi que pra sustentar o hospital de campanha nós gastávamos 1milhão e 440 mil por mês e o governo federal já havia dado para o prefeito anterior aproximadamente 13 milhões no ano de 2020 e quando chegou em janeiro esse dinheiro acabou e o Governo do Estado não tinha um programa para nos auxiliar e então foi preciso que o Consórcio Intermunicipal renegociasse com o governo estadual alguns recursos financeiros para que pudéssemos sustentar e ampliar os nossos leitos e as nossas UTIs, os equipamentos que eu recebi dentro do hospital de campanha eram equipamentos obsoletos, muitos foram alugados outros foram comprados as pressas aí entrou aqui o grupo empresarial da cidade. Nós fizemos um apelo muito grande e reformulamos todos os respiradores, as empresas da cidade nos ajudaram a comprar equipamentos de hemodiálise, além de outros equipamentos necessários conseguimos equilibrar a questão das contaminações e ao longo do tempo isso foi se acertando e hoje graças a Deus tudo está resolvido aqui na cidade. Não é que houve uma distensão política entre o que nós fazíamos e aquilo que estava programado pelo Governo Federal e pelo governo estadual, é que os recursos que foram entregues em 2020 foram utilizados de pronto, antes da segunda Cepa que foi a pior. Agora conseguimos no período de vacinação resolver o problema da cidade e tem 60 dias que não temos um óbito aqui na rede pública de COVID. Isso significa que nós equipamos o hospital, reformulamos e ampliamos a equipe médica, e graças a Deus resolvemos o problema na cidade. Hoje já vacinamos quase 100% da população de 12 anos pra frente e principalmente os de 18 anos. Nós estamos trabalhando hoje na segunda e na terceira dose de segurança. Hoje estamos sem problemas com a questão do COVID e eu espero que fique assim. Na realidade essas distensões políticas nunca serão boas para as questões de saúde. Vejo hoje essa discussão se serve a vacina ou não serve a vacina então isso não ajuda em absolutamente nada o que salva realmente é a vacina, é o cuidado na higienização, é o uso da máscara, então se nós tivemos uma discussão política por conta disso, isso só será um atraso na vida do cidadão.

Portal ABC do ABC: Prefeito, durante a campanha eleitoral você chegou a prometer um corte no número de secretarias municipais e cargos comissionados, logo veio a pandemia e com certeza atrapalhou muitos dos seus planos. Mas como você recebeu a cidade e como ela está hoje e quais seus planos para até o final do seu mandato?
Clóvis Volpi: Eu recebi a cidade com orçamento previsto de 371 milhões e que nós não vamos chegar a 320 milhões, portanto eu fiz um corte orçamentário inicial de 50 milhões. Começamos com a eliminação de praticamente 50% no número de secretarias: nós tínhamos 21 secretarias e cortamos pra 12 secretarias. Recentemente nós recuperamos uma para criarmos um departamento que nos possibilite trabalhar com tecnologia da informação porque estamos aqui um pouco atrasados em relação a isso. Mas a dívida que nós pegamos nos surpreendeu: 239 milhões. Dos 239 milhões, 83 milhões de restos a pagar, dos 83 milhões, 45 milhões eram para o Instituto de Previdência que se eu não pago e não realinho essa dívida eu não tenho absolutamente nenhuma certidão negativa portanto eu ficaria extremamente prejudicada e 11,5 milhões de remédio este foi o meu sofrimento quando faltou alguns remédios lá na frente como o kit intubação e as empresas não vendiam remédios para Ribeirão Pires porque não havia o pagamento. Nós tivemos que realinhar tudo isso daí e o corte de 50 milhões no orçamento foi a coisa mais drástica que eu já fiz. Isso porque a avaliação de Ribeirão Pires para possíveis recebimento de emendas e até de empréstimos era avaliação C ou seja a última da lista que possibilita você trabalhar. Hoje no mês de outubro nós somos avaliação A. Se eu não tivesse feito este corte e não tivesse refeito toda a questão tributária da cidade hoje nós estaríamos numa situação muito pior, entraríamos o ano de 2022 com déficit financeiro e orçamentário e se não tivesse feito isso nós teríamos um governo muito ruim muito ruim mas mesmo assim hoje consertada a parte econômica e a parte tributária nós temos recebido um número de emendas altamente significativos e um dos nossos projetos mostrados na campanha já começaram a ser realizados. Por exemplo: eu retomo a construção do hospital que eu havia começado em 2010 que foi abandonado estamos licitando dia 11 agora de novembro e previsão de início das obras é em dezembro e em dezoito ou vinte meses nós teremos um novo hospital de média complexidade com 91 leitos, duas salas cirúrgicas, UTIs que não tínhamos na cidade. Enfim com todas as outras ações que estamos implementando já significa que eu entrarei em 2022 possivelmente com superávit financeiro, ou seja, começa em janeiro com um pouco de dinheiro no caixa aí eu vou abrir o orçamento no mês de março então eu vou ter dois meses ainda para economizar pra gente poder reorganizar a cidade. Eu não posso reclamar porque a equipe que trabalha conosco é de extrema confiança e muita habilidade tributária dando essa consistência pra nós sabermos que vamos fazer um governo de porte médio para bom, ótimo eu tenho plena consciência eu não vou fazer um governo ótimo até porque a situação é muito difícil. Eu tenho feito palestras aqui com a sociedade e estamos apresentando na realidade um orçamento de 372 milhões possíveis não, totalmente viável. O que me assusta na realidade é que talvez esse crescimento possa ser só o índice inflacionário então isso vai depender muito de quem for presidente do Brasil e de quem vai fazer as atividades econômicas no país pra nós diminuímos a inflação que vai chegar a 10% e que nos assusta muito porque aí eu não tenho crescimento real eu tenho só o crescimento inflacionário e isso para os prefeitos será muito ruim.

Portal ABC do ABC: Prefeito, em julho você teve seu diploma de prefeito cassado em virtude de contas antigas do seu mandato terem sido rejeitadas, porém você foi reconhecido pela justiça eleitoral em 2019 como candidato obtendo 47% dos votos. O que você achou dessa cassação?
Clóvis Volpi: Nós tivemos dois julgamentos das minhas contas: um que eu perdi e não tive possibilidade de fazer a defesa, então nós anulamos essa seção e na segunda sessão nós vencemos e foi aprovado. Os meus adversários conseguiram no Tribunal de Justiça de São Paulo a anulação da segunda sessão, mas na primeira sessão eu não tive o poder de me defender, julgaram as minhas contas antes do prazo devido que me deram pra que eu fizesse a minha defesa então nós perdemos aqui em São Paulo mas nós quando fomos autorizados a candidatura, os adversários já haviam entrado com todas essas ações e nós recebemos o voto de segurança primeiro da justiça da primeira instância, depois do Tribunal Regional Eleitoral e depois do Superior Tribunal Eleitoral de que nós estávamos em plena condição de sermos candidato mas o adversário nunca parou e ele conseguiu no tribunal de justiça anular a segunda votação, aquela que me garantiu a candidatura. Nós estamos com ações na justiça pra também anular a primeira. Se nós conseguirmos anular a primeira então isso vai para o caso zero, e voltasse tudo novamente. Então estamos agora em Brasília lutando pela manutenção daquilo que o STE nos deu: o direito que foi o da disputa, ou seja, em plena condição de disputar eleição e o nosso caso foi para o juiz, nós estamos lá com o advogado para nos defender aparentemente hoje está no Ministério Público Federal para que se faça a apreciação e julgamento e nós estamos aguardando essas decisões na justiça que caberão mandado de segurança, liminar, ai vai pro TSE. Se o pior acontecer e eu também trabalho com essa hipótese nós vamos perder o mandato e possivelmente o presidente da Câmara assume e o Tribunal Eleitoral vai marcar uma nova eleição. Nós temos um grupo perfeitamente consolidado político na cidade e se tudo isso der errado na nossa vida aqui nós teremos candidatura própria do grupo que hoje está no comando da cidade.

Portal ABC do ABC: Prefeito você foi um dos fundadores do PSDB partido ao qual você ajudou a criar. Por que saiu do PSDB?
Clóvis Volpi: Na realidade eu não sai, eu fui expulso do PSDB porque a campanha de 2016 na cidade vizinha aqui, Mauá, eu era do PSDB, havia acabado de sair do IPEM, o Instituto de Pesos e Medidas que eu era superintendente depois de ter saído junto com prefeito Auricchio da Secretaria de Esportes e Lazer na época no governo do Geraldo Alckmin, então eu fui atender a um clamor do PSDB porque o governador tinha uma pretensão de ser candidato a presidente no qual ele foi, me solicitaram para que eu fosse candidato na cidade de Mauá que é aqui do lado, uma cidade com 500 mil habitantes, para alavancar o partido lá. Fiz uma campanha pequena só para alavancar Alckmim na cidade e quando terminou a eleição o PSDB passou a apoiar o ex-prefeito Átila Jacomussi. Eu não quis apoiar o Atila Jacomussi porque eu já imaginava que seria uma trajetória muito difícil a dele tanto que aconteceu o que aconteceu: saiu duas vezes da Prefeitura, teve problemas sérios lá. Então eu optei por apoiar o candidato do PT, Donizete Braga. Ai o PSDB me expulsou do partido. Eu não procurei me defender, entendi perfeitamente. Mas eu não poderia colocar meu nome, que tem uma história no ABC, numa candidatura que eu não acreditava. Seria ideologicamente me ferir muito. Mas eu não tinha nada contra o PT na época e nem contra o Donizete Braga, que era meu particular amigo. Então eu fui a campo apoiá-lo sabendo que a situação dele seria difícil para vencer a eleição porque ele ficou apenas 1% acima do número de votos que eu havia obtido. Então eu fui expulso do partido. Mas eu tenho um carinho muito grande também pelo PSDB, já fui deputado estadual e deputado federal pelo partido, estive no governo estadual do Geraldo quando eu era do PSDB. Portanto tenho um carinho muito grande pelo partido. Mas naquele momento preferi colocar meu nome numa eleição que eu acreditava ser mais honesta.

Portal ABC do ABC: Prefeito você falou sua trajetória. Você já foi deputado estadual, deputado federal, por duas vezes anteriormente prefeito de Ribeirão Pires e hoje é o seu terceiro mandato na cidade. Você tem uma experiência enorme na política, já está há muitos anos na vida pública, O que você está achando do Brasil e o que você espera das eleições do ano que vem para o país?

Clóvis Volpi: Eu estou há 50 anos na vida pública, são muitos mandatos. Eu comecei na vida política ainda nos bancos escolares e eu nunca vi uma situação como essa no país onde as intrigas políticas podem levar o país a bancarrotas. Nós poderemos sofrer muito, a camada mais pobre vai sofrer muito. Hoje nós temos um governo que tem muita dificuldade em conhecimento de governar. Eu tenho uma expectativa de que nós precisamos de um candidato, que pode ser homem ou mulher, consciente e conciliador, que entenda de fato o que é gestão pública. Se for para viver da forma instável que estamos vivendo, totalmente inseguros em relação a economia e é a economia que comanda uma gestão será muito difícil. Eu tenho visto, lendo e eu já falava lá atrás que um governante quando começa a tomar decisões erradas ele cria recessão ou inflação, ele tem sempre que fazer uma opção naquilo que ele vai criar para poder governar. Foi a primeira vez que eu vejo que vamos ter as duas coisas ao mesmo tempo: vamos ter recessão, alto índice de desemprego e vamos ter inflação e nesse conjunto quem sofre são os pobres. Eu tenho me reunido com as igrejas católicas e evangélicas e acompanhado o trabalho da Promoção Social pois tenho direcionado o governo para a área social que inclui educação, saúde e social a parte social. Eu sou contra o paternalismo, mas eu não vejo como nós não ficarmos paternalizando hoje a camada mais pobre porque hoje o pobre não tem comida na mesa e não vai ter no ano que vem. Então o governo está tomando ações paliativas. Claro que não tem como o governo não ajudar essas pessoas, mas isso está criando uma alta dependência do governo então nós temos que apresentar outras soluções e a solução é geração de emprego, de renda, de trabalho e os governos que não pregarem essa esperança não terão absolutamente nenhuma chance eleitoral. Eu tenho a expectativa de que nós teremos alguns nomes para serem discutidos nas eleições. .O perfil do candidato ideal é o conciliador, o que consiga entender o que esse país está passando. Nós temos muitas alternativas econômicas, o agronegócio é uma, temos uma alta capacidade de industrialização. Infelizmente eu não vejo muita gente preocupada com isso. Vejo muita gente preocupada com muita baboseira e desse jeito não vamos a lugar nenhum. Falta entendimento, falta raciocínio, falta vontade política. Quando um governo se torna totalmente dependente de um segmento político e ele faz concessões exageradas, esse governo está fadado ao fracasso. Isso funciona com prefeitos que têm dependência de Cãmaras, com governadores dependentes de assembleias e com presidente dependente de Câmara e Senado. Tem que haver diálogo e entendimento em prol do país, do Estado, dos municípios. Se não for assim vamos todos para o buraco e isso não é bom. Quanto mais a classe alta se distanciar da baixa, pior será a Saúde, a Educação, a Segurança Pública. Eu espero que possamos ter escolhas novas para candidatos com essa visão que citei, de conciliador.

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