São Paulo perde, a cada dia, dois policiais da linha de frente do combate ao crime
Efetivo da Polícia Civil não é reposto pelo governo na mesma velocidade da saída dos profissionais; Série histórica revela gravidade da situação
- Data: 17/11/2021 11:11
- Alterado: 17/11/2021 11:11
- Autor: Redação
- Fonte: ADPESP
Crédito:Reprodução
Em pouco mais de dois anos e meio, o estado de São Paulo perdeu dois policiais civis por dia. De acordo com dados oficiais obtidos pela Associação dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo (ADPESP), via Lei de Acesso à Informação (LAI), em dezembro de 2018, a Polícia Civil contava com 29.717 policiais na ativa. Em setembro deste ano, esse número caiu para 27.524 policiais, o que representa um decréscimo de 2.193 policiais civis. Os dados contrariam uma das promessas de campanha do governador do Estado, João Doria, que disse à época, ter a intenção de investir na recomposição do efetivo policial.
Os dados da série histórica, também obtidos pela ADPESP via LAI, revelam um cenário ainda mais crítico: a Polícia Civil do estado de São Paulo está encolhendo. No período 2015-2021 a instituição perdeu 10.852 policiais civis. Em contrapartida, pouco mais de sete mil policiais se formaram na Acadepol, no mesmo período.
Para o presidente da ADPESP, Gustavo Mesquita Galvão Bueno, a velocidade da evasão dos policiais decorre principalmente dos baixos salários, sendo muito maior que a de concursos e nomeações. “Sem um planejamento estruturado e factível para recomposição do déficit e valorização dos policiais, o estado está enxugando gelo. Permanecemos formando bons profissionais e perdendo-os para os outros Estados que remuneram melhor”, afirma.
Segundo Mesquita, a falta de investimentos na área, com policiais mal remunerados, elevado déficit de profissionais e infraestrutura precária, impacta o serviço prestado à população e afeta diretamente o combate à criminalidade. “Quando o cidadão vai até uma delegacia buscar ajuda e a encontra fechada ou se depara com a demora no atendimento, isso é reflexo do enorme déficit no efetivo da Polícia Civil,” explica o delegado. O presidente da ADPESP ressalta ainda que em delegacias de Polícia há profissionais trabalhando por dois ou até por três policiais: “Além de prejudicar a saúde física e mental dos policiais, essa carência de pessoal se reflete também na qualidade do serviço prestado à população.”
Mesquita esclarece que a desvalorização da carreira impacta a atividade-fim da Polícia Civil, que é a investigação criminal. “O policial em São Paulo é obrigado a recorrer a atividades complementares para garantir o pão na mesa de sua família. E essa prática também é ruim, pois impede a desejável dedicação integral ao serviço policial. Todo esse quadro contribui para a desmotivação dos policiais (exemplo disso é o alto índice de suicídio na categoria), que, inevitavelmente, reflete negativamente na segurança da população,” alerta o presidente da Associação.
No entendimento da ADPESP, com o cenário de hoje, de baixos salários, falta de investimento em infraestrutura e desvalorização do policial, a porta de saída é muito mais atraente do que a porta de entrada para os policiais. De acordo com Mesquita, apesar de o governo alardear a contratação de 10,5 mil policiais – como a recente postagem do governador João Doria em sua rede social – as contratações seguem em ritmo tão lento que sequer acompanham a velocidade da evasão dos policiais, que diariamente deixam a Polícia Civil em busca de melhores condições em outros Estados ou órgãos.
Atualmente, a defasagem é de 15 mil policiais civis nos quadros da Instituição. “Esse é o maior déficit da história da Polícia Civil. No ritmo em que estamos, o governador encerrará seu mandato muito longe de cumprir a promessa de reposição do efetivo, deixando a Polícia Civil com menos profissionais do que quando assumiu a gestão,” conclui o presidente da ADPESP.