São Paulo em 1918 enfrenta o pior inverno de sua história

Na época, Oswald de Andrade vivia a sua aventura amorosa mais intensa e trágica

  • Data: 18/05/2022 15:05
  • Alterado: 17/08/2023 04:08
  • Autor: Redação
  • Fonte: Assessoria
São Paulo em 1918 enfrenta o pior inverno de sua história

Oswald de Andrade

Crédito:Reprodução

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A onda de frio que atinge SP nestes dias não é um fenômeno inédito. A cidade já conheceu ondas de frio ainda piores e muitos paulistanos acreditam que até neve já caiu em SP.

O dia mais frio que a cidade enfrentou acorreu em 25 de junho de 1918, quando a temperatura medida no Observatório Astronômico da avenida Paulista, registrou a marca incrível de 3,2 graus negativos. A cidade amanheceu coberta pela nevoa, congelada como neve, e a paisagem segundo os que a testemunharam ficou parecida com a dos invernos europeus.

A história desse dia tão surpreendente está contada em Neve na Manhã de São Paulo do escritor José Roberto Walker. O livro narra com grande riqueza de detalhes o ambiente da cidade no fim da Primeira Guerra Mundial, quando ela estava às vésperas de se transformar numa das maiores cidades do mundo e os imigrantes enchiam as ruas e falavam uma mistura de línguas onde predominava o italiano.

Naqueles dias um grupo de rapazes se reunia numa garçonnière e discutia política e literatura em meio a aventuras amorosas. Comandados por Oswald de Andrade que, mais tarde, foi líder do movimento modernista no Brasil, a roda incluía vários outros futuros escritores que se tornaram famosos nos anos seguintes. Eles mantiveram um diário coletivo onde era registrado esse cotidiano boêmio. Foi nesses dias que Oswald encontrou uma estudante de 17 anos com quem imediatamente se envolveu. Diferente em tudo das moças que aqueles rapazes conheciam, Daisy, logo se integrou ao grupo, como se fosse um deles. Esse amor, no entanto, desafiou Oswald de várias formas. A presença marcante de Daisy e o romance trágico ficaram claramente documentado no diário coletivo.

Era a neve, a primeira neve que a cidade já vira, a única que eu vi em toda a minha vida! Apesar do frio congelante, todos saíram à rua, e as calçadas imediatamente se encheram. Embora qualquer um em São Paulo, pobre ou rico, nativo ou recém-chegado, soubesse perfeitamente que o vigor econômico da cidade dependia das boas safras do café, e as geadas, que certamente estavam atingindo as plantações em muitas regiões, podiam afetar dramaticamente a vida de todos, ainda assim e apesar disso, durante uns minutos a cidade, maravilhada, parou por completo para apreciar o espetáculo.

José Roberto Walker é publicitário e produtor cultural com mais de 30 anos de experiência.

Em 2017 lançou seu primeiro romance “Neve na Manhã de São Paulo”, editado pela Companhia das Letras, escolhido como finalista do Prêmio São Paulo de Literatura e do Prêmio Rio de Literatura.

Também é co-autor dos livros “Theatro São Pedro: Resistência e Preservação”, “Sala São Paulo – Café Ferrovia e a Metrópole” e “O Presépio Napolitano de São Paulo” e “Ferrovia, Um Projeto para o Brasil”

NEVE NA MANHÃ DE SÃO PAULO

Na terça-feira, 25 de junho de 1918, São Paulo amanheceu coberta de branco. A névoa congelada da manhã foi a primeira e única neve que a cidade conheceu e naquele dia, o mais frio da sua história, um caso de amor se consumou.

No fim da Primeira Guerra Mundial, na São Paulo às vésperas de se transformar numa das maiores cidades do mundo, um grupo de rapazes se reunia numa garçonnière na rua Libero Badaró e discutia política e literatura em meio a aventuras amorosas. Liderados por Oswald de Andrade, que, mais tarde, foi líder do movimento Modernista no Brasil, a roda incluía ainda Monteiro Lobato, Guilherme de Almeida, e vários outros futuros escritores que se tornaram famosos nos anos seguintes. Neste ambiente boêmio, Oswald encontrou, em 1917, uma estudante que imediatamente lhe chamou a atenção. Maria de Lourdes, Daisy ou Miss Cyclone era uma figura única e seu amor desafiou Oswald de várias formas.

Esse caso de amor, que se tornou trágico, ficou documentado no diário que os frequentadores da garçonnière redigiram e que Pedro Rodrigues de Almeida, amigo de infância de Oswald, batizou de O perfeito cozinheiro das almas deste mundo. Em NEVE NA MANHÃ DE SÃO PAULO cabe a Pedro, o único do grupo que não alcançou a fama e nem se tornou escritor, o papel de narrador do drama do qual foi um dos personagens. Quase quarenta anos depois, um Oswald de Andrade velho e quase esquecido volta a ser assombrado pela figura de Daisy. Ele e Pedro ainda têm uma história para contar.

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  • Data: 18/05/2022 03:05
  • Alterado:17/08/2023 04:08
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