São Caetano abre exposição Jamais Esquecidos – Holocausto
A abertura da exposição na noite desta quarta-feira (1/6), no Centro de Capacitação dos Profissionais da Educação (Cecape) de São Caetano do Sul, foi marcada por momentos de forte emoção
- Data: 02/06/2016 16:06
- Alterado: 02/06/2016 16:06
- Autor: Alexandre Costa
- Fonte: PMSCS
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A cerimônia contou com a participação de diversas autoridades, entre elas o embaixador da Croácia no Brasil, e de três sobreviventes do extermínio de judeus na Segunda Guerra Mundial: Rita Braun, André Reisler e Julio Gartner, que fizeram breves relatos sobre o terror que enfrentaram para sobreviver ao pesadelo nazista.
Perpetrado durante a Segunda Guerra Mundial, o assassinato de 6 milhões de judeus pela Alemanha nazista é o tema da exposição que fica no Cecape até o dia 30 deste mês. A mostra conta com dezenas de imagens, vídeos, músicas, textos, objetos e instalações. Ela reproduz o ambiente dos campos de concentração e extermínio construídos pelos nazistas em diversos locais da Europa para executar judeus, inimigos políticos, homossexuais, ciganos e integrantes de outras minorias perseguidas por questões étnicas.
O principal objetivo da exposição Jamais Esquecidos – Holocausto é ensinar a história do extermínio de judeus de uma forma diferenciada para adolescentes a partir dos 12 anos e também para adultos. A mostra busca estimular nos visitantes a reflexão sobre a necessidade de convivência pacífica entre as pessoas diante de diferenças étnicas, religiosas, políticas e de nacionalidade, entre outras. A entrada é gratuita (pede-se a doação de um quilo de alimento não-perecível, que será enviado à instituição assistencial Casas André Luiz) e o horário de visitação é das 8h às 18h, de segunda a sexta-feira, e das 12h às 16h, aos sábados.
MEMÓRIA – O prefeito de São Caetano, Paulo Pinheiro, participou da abertura oficial da exposição e destacou a necessidade de se lembrar sempre os horrores do Holocausto. “A lembrança deste crime tem de ser perpetuada por toda a história, para que as gerações futuras não esqueçam do que o ser humano é capaz de fazer. Ao rememorar estes momentos de barbárie somos convidados a refletir e incentivados a lutar por uma sociedade mais harmônica, onde as minorias são respeitadas e ouvidas.”
“Relembrar o Holocausto incentiva o diálogo entre as pessoas”, concordou o embaixador da Croácia no Brasil, Zeljko Vukosav, que elogiou o público-alvo da mostra ser os jovens em idade escolar. “Essa exposição é importante porque aborda a intolerância e o racismo, que continuam inundando o mundo moderno. Não falamos o suficiente sobre o Holocausto, e não aprendemos o suficiente com ele. Ainda não fomos capazes de evitar genocídios e assistimos com apreensão a intolerância, o racismo e o fascismo ganharem impulso”.
O coordenador-geral do Museu do Holocausto de Curitiba, Carlos Reiss, também salientou a importância da exposição para a conscientização de jovens e adultos. “O Holocausto é um tema fundamental por seu potencial educativo. Ele nos ensina valores como a tolerância, respeito, igualdade, superação, resistência e, principalmente, o valor da vida. Falar do Holocausto é falar sobre vida. Não se trata de uma história de milhões de pessoas assassinadas: são milhões de histórias diferentes e cada uma delas tem de ser ouvida.”
O diretor-executivo da Special Books e curador da exposição Jamais Esquecidos – Holocausto, Luiz Rampazzo, explicou que seu objetivo é levar o tema ao maior número de pessoas no País. “Quando não se conhece a história é possível cometer os mesmos erros novamente”, ressaltou.
O diretor administrativo das Casas André Luiz, Wilson Domingues, também prestigiou a abertura da mostra e destacou a necessidade dos exemplos positivos. “Temos de servir de exemplo contra a intolerância e o ódio. E sempre trabalhar a favor do bem”. A instituição assistencial, que se beneficiará das doações feitas pelos visitantes, mantém internadas 598 pessoas com deficiências severas e atende mais de 1.100 pessoas por mês em seu ambulatório.
SOBREVIVENTES – Os emocionantes relatos dos sobreviventes do Holocausto foram o ponto alto da abertura da exposição Jamais Esquecidos. Rita Braun, André Reisler e Julio Gartner falaram sobre o que foi enfrentar os horrores da guerra e do genocídio. Confira um resumo de seus depoimentos, aplaudidos de pé pelo público que encheu o auditório do Cecape:
ANDRÉ REISLER, belga, teve de se separar da família aos 8 anos, para sobreviver escondido da perseguição dos nazistas aos judeus:
“Foi muito difícil entender o que acontecia, porque eu era uma criança. Tinha 7 anos quando começou a guerra. Tinha 8 anos quando fui separado dos meus pais e tive de aprender a sobreviver. Foram quatro anos de pressão psicológica, de mentiras – as pessoas não podiam saber que eu era judeu. Meus pais fizeram muita falta, eu não tinha nenhum apoio familiar. Quando me escondia na casa de uma diretora de escola, um dia me escondi na cama, embaixo das cobertas, e gritei com toda a minha força uma coisa que eu não podia falar na época: Eu sou judeu. Eu sou judeu!”
JULIO GARTNER, polonês, foi capturado pelos nazistas em 1943 e levado a cinco campos de concentração, entre eles Auschwitz. Quando finalmente foi libertado, pesava apenas 30 quilos. O documentário “Sobrevivi ao Holocausto”, de Caio Cobra e Marcio Pitliuk, narra a sua vida:
“Eu passei por cinco campos de concentração. Antes, vivi um ano e meio escondido em meio aos cristãos, nas condições mais precárias possíveis. Em 1942 o inverno foi especialmente frio, com a temperatura chegando a 30 graus negativos, e eu tive de sobreviver sem casa, roupas ou comida adequada. Passava os dias escondido e saía à noite. Em minhas palestras eu falo sobre este capítulo monstruoso da história. O nazismo foi uma mentira de ponta da ponta, do começo ao fim. 90% dos judeus poloneses, que eram mais de 3 milhões de pessoas, foram mortos. Eu sobrevivi. Tinha 15 anos quando a guerra começou. Era jovem e forte. A lição que fica é que todos temos dentro de nós uma força inimaginável para sobreviver, para não entregar os pontos. Eu queria viver para ver estes carrascos caírem. E vivi.”
RITA BRAUN, polonesa, conseguiu sobreviver com a ajuda de um alemão e de documentos falsos. Perdeu 42 pessoas em sua família, mortas pelos nazistas. Escreveu o livro “Fragmentos de uma Vida” sobre sua experiência:
“Minha família me motivou a escrever o livro, que é um depoimento de uma sobrevivente do Holocausto. Tive uma vida muito pesada. Eu não sabia por que nós éramos os criminosos. Vivíamos em um gueto fechado onde os cachorros e gatos podiam entrar e sair, e nós não. Depois vim para o Brasil, que é um País maravilhoso, que acolhe todo mundo: índios, negros, homossexuais, qualquer minoria. E ai de quem falar mal do Brasil perto de mim!”
SERVIÇO:
Evento: Exposição Jamais Esquecidos – Holocausto
Entrada gratuita (pede-se a doação de um quilo de alimento não-perecível para a instituição assistencial Casas André Luiz)
Data: de 2 a 30 de junho
Horário: das 8h às 18h, de segunda a sexta-feira, e das 12h às 16h, aos sábados
Local: Centro de Capacitação dos Profissionais da Educação (Cecape)
Endereço: Rua Tapajós, 300, Bairro Barcelona, São Caetano do Sul