Rubens Paiva: o legado de coragem e justiça em meio à Ditadura Militar
Morte de Rubens Paiva completa 54 anos com legado de luta reconhecido
- Data: 20/01/2025 14:01
- Alterado: 20/01/2025 14:01
- Autor: Redação
- Fonte: Agência Brasil
Crédito:Acervo Família Rubens Paiva/Divulgação
A prisão e o subsequente assassinato do ex-deputado federal Rubens Paiva (1929 – 1971) voltaram a ser tema de intenso debate nacional e internacional, especialmente após o lançamento do filme “Ainda Estou Aqui”, dirigido por Walter Salles. A produção cinematográfica não apenas resgatou a dor da família, em particular da esposa Eunice Paiva, mas também destacou o legado de um homem que se destacou por sua coragem e idealismo. Pesquisadores apontam que Paiva foi um defensor fervoroso da reforma agrária e liderou uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar práticas de financiamento eleitoral ilegais.
O filme, inspirado na obra homônima do jornalista Marcelo Rubens Paiva, filho do ex-parlamentar, retrata a trágica história de Rubens, que foi sequestrado em sua residência no Rio de Janeiro no feriado de São Sebastião, em 20 de janeiro de 1971. A partir desse momento, ele foi submetido a torturas e assassinado em instalações militares, conforme registrado pela Comissão Nacional da Verdade em 2014. O atestado de óbito só foi concedido à família em fevereiro de 1996, representando um marco na busca por justiça e reconhecimento.
Rubens Paiva nasceu em Santos (SP) e desde sua juventude demonstrou uma forte indignação contra as injustiças sociais. Jason Tércio, biógrafo que dedicou três anos à pesquisa sobre sua vida, descreve Paiva como um homem combativo. Tércio publicou duas obras sobre o ex-deputado: “Segredo de Estado: o Desaparecimento de Rubens Paiva” (2010) e “Perfil Parlamentar de Rubens Paiva” (2014), esta última apresentada à Câmara dos Deputados.
A trajetória política de Rubens começou no movimento estudantil durante sua formação na Universidade Mackenzie, onde se destacou como presidente do Centro Acadêmico Horácio Lane. Após se filiar ao Partido Socialista Brasileiro (PSB), ele passou a participar ativamente da vida política, defendendo propostas voltadas para a educação, saúde e reforma agrária. Em 1962, após ser eleito deputado federal pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), iniciou um mandato marcado por intensa atividade legislativa.
Entre suas ações mais notáveis estava a vice-presidência da CPI que investigava o uso indevido de recursos públicos para financiar campanhas eleitorais. Segundo Tércio, essa investigação revelou um dos maiores escândalos de corrupção eleitoral da época e elevou Paiva ao status de inimigo não apenas dos adversários políticos, mas também do regime militar que se consolidava no Brasil.
A coerência ideológica e a postura combativa de Rubens o tornaram alvo dos militares após o golpe de 1964. Mesmo depois de perder os direitos políticos e ter seu mandato cassado pelo Ato Institucional número 1, ele manteve suas atividades políticas e chegou a se exilar na Europa temporariamente. Sua volta ao Brasil foi marcada por um gesto simbólico: trouxe flores para sua esposa Eunice e declarou que não desejava viver fora do país.
Após o Ato Institucional número 5 (AI-5), que intensificou a repressão política no Brasil, Paiva continuou apoiando grupos perseguidos pelo regime militar e envolveu-se em atividades clandestinas. Sua coragem e idealismo o tornaram um alvo constante das autoridades que monitoravam seus movimentos.
A discussão acerca da memória e legado deixados por figuras como Rubens Paiva é fundamental para a compreensão dos horrores vividos durante a ditadura militar brasileira. Emiliano José, escritor e ex-deputado federal, ressalta a importância dos produtos culturais contemporâneos para iluminar esse período sombrio da história do Brasil. Para ele, as narrativas atuais ajudam a manter viva a memória das vítimas e prevenir que tais atrocidades voltem a ocorrer.
A luta pela verdade continua a ser um tema recorrente na sociedade brasileira. Apesar dos avanços nas investigações sobre os crimes cometidos durante a ditadura militar, ainda há muitas lacunas que precisam ser preenchidas. O caso de Rubens Paiva exemplifica as dificuldades enfrentadas por aqueles que buscam justiça; embora os responsáveis pelo seu assassinato tenham sido identificados pela Comissão Nacional da Verdade em 2014, muitos ainda permanecem impunes.
Portanto, a história de Rubens Paiva permanece como um símbolo da resistência contra a opressão política e da luta pela justiça social no Brasil.