Renan Calheiros diz que a gestão de Bolsonaro “parece sem rumo”
Após ser derrotado na disputa pela presidência do Senado, Renan Calheiros (MDB) voltou a vestir o figurino do "velho Renan" e não deixa dúvidas de que pretende liderar a oposição
- Data: 14/03/2019 13:03
- Alterado: 14/03/2019 13:03
- Autor: Redação ABCdoABC
- Fonte: Estadão Conteúdo
Crédito:Reprodução
Com um discurso crítico ao governo, o senador do MDB afirmou que a gestão de Jair Bolsonaro “parece sem rumo” e vive um momento de “autoflagelação”.
Apesar de classificar Paulo Guedes como “bem intencionado”, Renan argumentou que, sozinho, o ministro da Economia nada poderá fazer e mostrou resistências ao modelo de reforma da Previdência enviado pelo Executivo ao Congresso. Mesmo assim, não deu pistas de como será sua atuação daqui para a frente. “Eu voltei para o baixo clero. Sou o 081 do Senado”, disse Renan ao jornal O Estado de S. Paulo.
Nas conversas com correligionários, a portas fechadas, o senador alagoano não deixa dúvidas de que sua articulação será contra o governo. Na noite desta quarta-feira, 13, por exemplo, ele participou de um jantar no qual muitos se queixaram do estilo do presidente.
“Bolsonaro, com todo respeito, ganhou a eleição e eu respeito bastante quem ganha eleição. Mas essa renitência de manter a divisão da sociedade pela rede social, não deixando que ódios sejam superados, é uma coisa muito complicada. Cada vez mais o presidente vira sinônimo da velha prática política”, insistiu o senador.
Ao definir o que chama de “autoflagelação”, Renan disse que o Palácio do Planalto é “insuperável” na produção de fatos negativos. “O ministro da Educação (Ricardo Vélez Rodríguez) é um horror, o das Relações Exteriores (Ernesto Araújo) não fica atrás. Mas não dá para predizer o que vai acontecer com o governo até porque seria uma competição insustentável com o cientista político Olavo de Carvalho”, ironizou.
No dia anterior, em seu gabinete, Renan também ouviu críticas a Bolsonaro ao receber alguns senadores do MDB. “Me ligue com o Gustavo Bebianno”, pediu ele à secretária. Bebianno ocupava a Secretaria-Geral da Presidência, mas foi demitido no mês passado após ser chamado de “mentiroso” pelo vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ).
Até agora, Bebianno era a “ponte” de Renan com o Planalto. Desafeto do senador, o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, fez campanha para Davi Alcolumbre (DEM-AP), que se elegeu presidente do Senado. A eleição foi marcada por suspeita de fraude e, na segunda votação, Renan desistiu, retirando a candidatura ao perceber a derrota iminente.
Guedes
Hoje, o interlocutor do senador no governo é justamente Paulo Guedes, que pretende apresentar uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) para acabar com os gastos obrigatórios previstos nos orçamentos da União, dos Estados e dos municípios. “Essa reforma do pacto federativo não tem nada de pacto federativo”, protestou Renan. “Em português claro, essa medida significa a autorização para cortar na saúde e na educação. Se o Paulo não acertar a mão no que vai fazer, não chegaremos a lugar algum. Ser bem intencionado não resolve o problema”.
No Salão Azul, o homem que já comandou quatro vezes o Senado sempre conversa com colegas de oposição e não quer falar sobre a eleição que perdeu. Questionado sobre a investigação interna referente ao voto de número 82 depositado na urna, que levou a uma segunda votação – já que são apenas 81 senadores -, ele muda de assunto. “Não estou acompanhando.”
Renan também é econômico nos comentários sobre o relacionamento com Alcolumbre. “Normal”, resume. “Ele até assinou a petição que eu encaminhei ao Tribunal de Contas da União, pedindo a sustação do acordo celebrado entre a Petrobras e representantes do Ministério Público.” Ao mostrar a rubrica em círculo de Alcolumbre, porém, deixa escapar: “É uma assinatura com estilo.”
Alvo da Lava Jato, Renan está no grupo dos parlamentares que defendem o endurecimento da lei de abuso de autoridade. Acha que deputados devem agora encaixar o tema no pacote anticrime apresentado à Câmara pelo ministro da Justiça, Sérgio Moro. Quando lhe perguntam se a estratégia não seria uma revanche pelo fato de ser investigado, o senador tem uma resposta na ponta da língua. “Diziam isso porque tentavam me amordaçar. Havia uma perseguição contra mim porque eu era presidente do Congresso, uma espécie de chefe da política.” Antes de se despedir, ele reforça: “Hoje, sou apenas o 081.”