Projeto de alunos da rede pública automatiza análises químicas como pureza das águas
Protótipo foi desenvolvido para ajudar colega de turma a superar limitações motora e visual; apresentado como TCC no final do ano passado, robô venceu prêmio do CRQ
- Data: 04/07/2023 10:07
- Alterado: 04/07/2023 10:07
- Autor: Angélica Reis
- Fonte: CPS
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Crédito:Divulgação
Um projeto desenvolvido por estudantes da Escola Técnica Estadual (Etec) Irmã Agostina, localizada na zona sul da Capital, se destaca tanto pela inovação tecnológica quanto pela empatia e responsabilidade social. O Titulador automático controlado por Arduino é um robô capaz de realizar automaticamente uma das análises químicas mais praticadas em laboratórios, chamada titulação ou volumetria.
Criado por Lucas da Conceição Ferreira, Luíz Fernando Almeida Silva, Paulo Sergio de Souza Santos, Rafael Carvalho Souza e Vinícius Bellini Batistelli, ex-alunos do curso técnico em Química da escola, o protótipo foi apresentado como trabalho de conclusão de curso (TCC) no final do ano passado. Eles foram orientados pelos professores Fábio Rizzo de Aguiar e Thais Taciano dos Santos.
A titulação ou volumetria é utilizada nas indústrias, por exemplo, para determinar o grau de pureza de um fármaco, o teor de sal em alimentos ou a acidez da água que abastece as residências. O robô desenvolvido durante o curso na Etec automatiza esse processo, que normalmente é realizado manualmente.
“Ele funciona basicamente com um sensor que monitora constantemente a cor da solução a ser titulada no recipiente e envia essas informações para um processador Arduino. O resultado da análise é mostrado em um visor digital”, explica Vinícius.
O projeto rendeu ao grupo o Prêmio CRQ-IV, organizado pelo Conselho Regional de Química (CRQ) da Quarta Região. Pela conquista, os estudantes receberam um certificado e prêmio em dinheiro no valor de R$ 10 mil. Os orientadores ganharam R$ 4 mil. É a terceira vez consecutiva que a Etec Irmã Agostina vence o concurso.
Empatia
Além de criatividade e perícia, o grupo demonstrou empatia e responsabilidade social na escolha do tema do TCC. “O contexto no qual esse projeto foi criado me emociona até hoje”, relata o orientador Fábio Rizzo. “Um dos alunos do curso tinha uma limitação de movimentos bastante severa na mão esquerda, além de ser daltônico. E a técnica de titulação exige do analista uma habilidade manual muito precisa para operação do equipamento e uma visão apurada para determinar a cor da solução. Olhando para as dificuldades que o colega enfrentava, eles decidiram construir esse aparelho.”
“Na época de decidir o tema do trabalho nós demoramos um pouco na escolha, mas tendo em vista essa situação, nós decidimos fazer esse projeto”, conta Vinícius.
A equipe criadora do robô é bastante heterogênea no que diz respeito à idade – varia entre 19 e 33 anos. Estudando no período da noite, os cinco tiveram que conciliar os estudos e o trabalho: Vinícius é engenheiro elétrico; Paulo e Luíz trabalham em indústria de cosméticos; Rafael trabalhava em uma empresa de equipamentos químicos e hoje está na faculdade de Química; e Lucas trabalha em uma empresa de pagamentos.
Outro ponto em comum é o fato de todos eles serem oriundos da rede pública de ensino – a exceção é Vinícius que fez o Ensino Médio em escola particular. Uma característica das unidades do Centro Paula Souza (CPS): no último Relatório Socioeconômico do Vestibulinho das Etecs, referente ao primeiro semestre de 2023, 76,92% dos aprovados vieram da rede pública. No processo seletivo das Faculdades de Tecnologia do Estado no mesmo período essa proporção foi de 78,35%.