Precisamos falar e saber mais sobre as mudanças climáticas

O Brasil é um dos países mais vulneráveis aos impactos das mudanças do clima

  • Data: 10/05/2024 13:05
  • Alterado: 14/05/2024 18:05
  • Autor: Débora Diogo
Manifestação pelo clima na Avenida Paulista

Crédito: Reprodução

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Você já deve ter percebido que o clima está alterado, com as mudanças climáticas em curso dá para constatar essa realidade no nosso dia a dia. Estamos em pleno outono e as temperaturas na Região Metropolitana de São Paulo e outras cidades do Brasil estão, há vários dias, muito acima da média histórica para a estação. Isso se deve ao aquecimento global e às ondas de calor, alteração climática cada vez mais freqüente, que causa um grande impacto na saúde e nos incêndios florestais.

O regime de chuvas também está diferente, ora chove demais, como tem ocorrido no Rio Grande do Sul, Região Serrana do Rio, São Sebastião, ou os índices pluviométricos ficam muito abaixo da média, causando seca, escassez hídrica, doenças, aumento de preços dos alimentos e prejuízos generalizados, como ocorreu na RMSP em 2014/2015 e é recorrente na região do semiárido brasileiro.

Esse panorama está diretamente relacionado com o aumento da temperatura média de nosso planeta, e o aumento da temperatura global está inegavelmente associado a ações humanas e desdobramentos decorrentes da Revolução Industrial, do modo como produzimos e consumimos.

As previsões sobre a tendência de aumento de eventos extremos têm sido anunciadas por cientistas e pesquisadores de todo o mundo, como os do Painel Intergovernamental sobre Mudança no Clima (IPCC na sigla em inglês) criado em 1988 pelas Nações Unidas que publicou vários relatórios sobre os cenários climáticos futuros.

O Acordo de Paris, firmado durante a COP 21 em 2015, estabeleceu um compromisso mundial para limitar o aumento da temperatura global a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais com ações de mitigação, para promover a redução das emissões de gases de efeito estufa, como o dióxido de carbono emitido por veículos, meios de transporte  e atividades industriais, e outros gases nocivos à atmosfera, cuja emissão contribui de maneira significativa para o aumento da temperatura do planeta. A meta do Acordo de Paris é tentar manter o aumento da temperatura do planeta abaixo dos 2 ºC.

Ou seja, há décadas as alterações do clima são conhecidas, estudadas e estão presentes nas nossas vidas e as providências e medidas urgentes a serem tomadas já haviam sido diagnosticadas, porém estamos tardando muito a fazer o que é preciso.

O impacto histórico e sem precedentes que estamos acompanhando no Estado do Rio Grande do Sul devido às chuvas e inundações é um bom exemplo de como as alterações do clima estão aumentando a frequência e a intensidade dos desastres, enquanto as cidades, os governantes, empresas e as pessoas, em sua maioria, estão  despreparados para enfrentá-los e para se recuperar rapidamente.

Tal condição se configura na emergência climática que impõe enormes desafios para a humanidade na busca por soluções e transformações necessárias para reduzir as emissões de gases que causam o efeito estufa e o aquecimento global.

Mudanças Climáticas
Emissões de dióxido de carbono e concentração na atmosfera (1750 – 2020)

As oportunidades que podem fazer a diferença nas mudanças climáticas

Tomando como exemplo toda a força-tarefa que deverá ser empenhada para a reconstrução das cidades gaúchas, podemos vislumbrar, com base nas medidas de adaptação e de mitigação com o uso da ciência e das novas tecnologias, um novo olhar no modo de planejar os municípios. Para garantir que estejam mais bem preparados, visando proteger as pessoas e seus bens e evitar tanta perda e destruição, em situações de eventos extremos. Vai ser possível colocar em prática a infraestrutura verde e azul, para além da estrutura cinza, de concreto e do excesso de áreas impermeáveis, que tornam as cidades mais propensas às enchentes. Considerar a gestão das bacias hidrográficas e dos recursos hídricos. Realizar o mapeamento dos setores suscetíveis aos riscos geológicos e hidrológicos, identificar as populações mais vulneráveis, para prepará-las para saberem como agir de acordo com sistemas de alerta preventivo, quando da eminência dos eventos. Instalar pluviômetros, radares e criar sistemas inteligentes de monitoramento dos principais eventos. Para a assistência humanitária, preparar abrigos e refúgios, treinar voluntários e equipes especializadas no socorro.

Outro ponto importante é identificar os locais mais adequados para a construção de estruturas essenciais, como: hospitais, equipamentos de educação, barragens, sistemas de abastecimento e moradias. As pontes e estradas precisarão de novos cálculos e materiais para resistir à força das águas e ao calor. Na agricultura há muito que se pode fazer por meio da agroecologia, bem como novas técnicas voltadas para sementes e culturas mais resistentes ao novo clima e regime de chuvas, para evitar quebras de safra e a insegurança alimentar.   

Na educação, temas como sustentabilidade global serão fundamentais, para que as novas gerações não incorram no mesmo modelo predatório, que explora e compromete os recursos naturais, ao contrário, precisarão agir para recuperar e reflorestar regiões degradadas e contaminadas, proteger os mananciais e a biodiversidade.

Nesse espaço abordaremos as inúmeras oportunidades que estão a surgir, como novos conhecimentos e técnicas, transição energética, energia renovável, gestão para redução de riscos e desastres, meios de mitigar as emissões dos gases de efeito estufa, soluções baseadas na natureza, educação climática e ambiental, justiça climática e muitas outras. Vamos juntos!

Mini biografia (Débora Diogo)

Jornalista, mestra em estado, governo e políticas públicas, com 24 anos de experiência na gestão socioambiental, especialista em gestão de riscos e desastres. Atua como assessora técnica em mudanças climáticas na Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente de São Paulo (SVMA), é da equipe técnica que elaborou o Plano de Ação Climática do Município de São Paulo, PlanClima SP. Primeira mulher e civil que coordenou o Departamento de Proteção e Defesa Civil de Santo André (2013 a 2016), foi Diretora do Núcleo de Gestão Descentralizada da SVMA na Zona Leste (2009 a 2012) foi Secretária Executiva da Associação Nacional de Municípios e Meio Ambiente (Anamma, de 2004 a 2008). Atuou como assessora de comunicação no SEMASA (Serviço Municipal de Saneamento Ambiental).

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  • Data: 10/05/2024 01:05
  • Alterado: 14/05/2024 06:05
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