Pesquisa revela o perfil dos frequentadores da Cracolândia e os desafios da recuperação
Estudo mostra que maioria dos frequentadores da Cracolândia é homem negro, 69% já internados e 90% usam crack
- Data: 05/02/2025 11:02
- Alterado: 05/02/2025 11:02
- Autor: Redação
- Fonte: USP
Crédito:Rovena Rosa/Agência Brasil
Uma pesquisa recente realizada pelo Centro de Estudos da Metrópole (CEM) da Universidade de São Paulo (USP), em parceria com o Núcleo de Estudos da Burocracia da Fundação Getúlio Vargas (NEB/FGV) e o Grupo de Estudos (in)disciplinares do corpo e do território (Cóccix), traçou um perfil detalhado dos frequentadores da Cracolândia, revelando que a maioria é composta por homens negros na faixa etária de 30 a 49 anos. Dos participantes do estudo, 69% já haviam passado por internações e impressionantes 90% relataram uso de crack.
Na última semana, a situação alarmante das drogas em áreas como o Brás, no centro de São Paulo, foi destaque. Cenas de tráfico e consumo de substâncias psicoativas à luz do dia, com a presença visível de policiais militares que não reagiram. Este cenário não é exclusivo ao Brás; bairros adjacentes como Glicério e Bom Retiro também enfrentam problemas semelhantes.
A problemática se estende além da segurança pública, atingindo diretamente a saúde coletiva. Muitas vezes, os dependentes químicos são estigmatizados como “drogados”, mas suas histórias frequentemente revelam um contexto repleto de vulnerabilidades sociais. Ao percorrer a região, a repórter Bruna Macedo observou que os usuários se agrupam em diferentes locais, incluindo atrás de um muro recém-construído e em calçadas. Para alguns, o vício começou na infância, enquanto outros perderam todos os laços familiares devido à dependência.
Thiago Moraes, um ex-frequentador da Cracolândia por 12 anos, narra a dor da separação de sua filha. Atualmente em recuperação no Serviço de Cuidados Prolongados (SCP), Thiago teve um reencontro emocionante com sua filha após uma década: “Ontem vi minha filha depois de dez anos, foi a melhor coisa do mundo. Ela se parece mais comigo do que com a mãe dela,” contou emocionado.
Outras histórias no SCP ecoam as dificuldades enfrentadas na jornada para a recuperação. Rogério Pinto compartilha sua luta contra a abstinência: “A abstinência vem forte. Você passa um ano inteiro usando todos os dias e, do nada, coloca um freio. Foi difícil.” Essa realidade demonstra como o caminho para a recuperação é repleto de desafios.
O estudo também indicou que quase metade dos usuários da Cracolândia não nutre esperanças em relação ao poder público ou acredita na eficácia dos tratamentos disponíveis. Muitos afirmaram ter sido vítimas de violência ao longo de suas jornadas.
No entanto, para aqueles que conseguem superar os obstáculos impostos pela dependência, existe uma oportunidade de ressocialização através do Programa de Operação Trabalho (POT), implementado pela prefeitura paulistana. De acordo com Rodrigo Goulart, secretário municipal de Desenvolvimento Econômico e Trabalho, o programa oferece aproximadamente dez cursos voltados para diversas habilidades, desde artesanato até gastronomia.
A história de Ana Maria Franklin exemplifica o potencial de reintegração social. Graças à confecção de bonecas, ela conseguiu deixar as ruas para trás e construir um novo lar: “Antes era escuro, agora está clareando porque tenho várias oportunidades. As pessoas me reconhecem de outra forma. Pensava que nunca sairia daquela situação para ser uma Ana Maria Franklin que trabalha, estuda e pensa no amanhã.”