Pais, filhos e as Redes Sociais

As relações humanas estão sendo transformadas através das novas tecnologias e isso não começou a acontecer agora. De alguma forma, os pais, para não se “ocuparem” tanto com os filhos, acabavam “terceirizando” seus cuidados. Lembra que não tem muito tempo, a febre dos parquinhos cheios de vídeo games e diversões para todas as fachas etárias infantis, tornaram os shoppings muito mais atraentes? Assim, os pais que pagavam para que seus filhos ficassem lá durante algumas horas e podiam enfim fazer suas compras em paz.

As mães que não trabalhavam fora, por exemplo, para fazerem os trabalhos de casa, deixavam seus filhos na frente da TV boa parte do dia, no melhor dos casos assistindo programações infantis. Parece que ninguém notou que isso era o prenúncio de um futuro desafiador e perigoso não apenas na relação entre pais e filhos, mas nas relações afetivas de modo geral.

Com o aparecimento da internet e o desenvolvimento das redes sociais, todo um comportamento social vem sendo modificado, e as novas gerações já nascem inseridas nesse meio em que se pode conectar com o mundo instantaneamente.

É muito natural que problemas comportamentais e sociais viessem a surgir, como exemplo, a própria dependência das telas e a dificuldades dos relacionamentos afetivos.

Esse tipo de dependência é muito prejudicial na infância e adolescência principalmente por afetar negativamente o neurodesenvolvimento da criança, mas também afeta os adultos, incluindo novas posturas de comportamento.

Segundo a Dra. Priscila Dossi, médica psiquiatra, com especialização em infância e adolescência pela UNICAMP – Hoje em dia, mesmo ao lado dos filhos, os pais estão terceirizando os cuidados e a atenção dos mesmos; dando um celular ou tablete para a criança ou para o adolescente, seja para compensar a sua ausência ou mesmo para ter mais independência deles. Isso acaba criando nos filhos uma série de problemas emocionais, comportamentais e no próprio desenvolvimento e na formação da criança. Este é um dos motivos de termos visto aumentar tanto os casos de TOD e outros transtornos infantis, como a depressão e a ansiedade generalizada, TOC, entre outros.

O Muro Invisível

As relações pessoais estão sofrendo uma mudança drástica e isso é visível para qualquer um em seu dia a dia. E a relação entre pais e filhos também vem sofrendo essas mudanças.

Diante desse Admirável Mundo Novo, nos vemos encerrados em nossa bolha, ao mesmo tempo em que nos conectamos com o mundo em apenas um clique. A dependência dessas tecnologias, seja para o trabalho ou para os estudos, vem crescendo exponencialmente.

“Desde o ano passado, com a pandemia e o distanciamento social, pais e filhos puderam passar mais tempo no mesmo local, a própria casa, no entanto, distantes em seus mundos particulares. E nesse caso, a dependência da internet aumentou com o trabalho e o estudo remoto”, conclui a Dra. Priscila Dossi, que afirma ter atendido muitos casos de transtornos do neurodesenvolvimento, diagnosticados neste período.

Muito antes da pandemia, pais e filhos passam a ficar ainda mais presos em suas telas, muitas vezes dando mais atenção às curtidas e comentários nos seus perfis do que aos próprios filhos.

E vivenciamos dia a dia esse afastamento no meio familiar e a deterioração dos relacionamentos; a falta de diálogo, a falta de entendimento, de participação presencial nas atividades da família. E assim, pais e filhos vão se tornando ilustres desconhecidos, conectados com o mundo inteiro, mas distantes entre si.

O Fim dos Relacionamentos Tradicionais

“Os filhos estão perdendo as referências de pai e mãe, inclusive dos papéis de cada um, da autoridade e assim por diante. Toda a referência, o conjunto de valores, a criança e o adolescente estão recebendo das redes sociais, dos perfis dos influenciadores digitais, por exemplo, o que pode sem dúvidas acabar sendo muito prejudicial”,alerta a Dra. Priscila Dossi.

E Quanto Aos Adultos?

Já virou clichê aquela cena do casal à mesa de um restaurante, ambos com o celular em punho, como se o outro, que está à sua frente, não existisse – comentou a Dra. Priscila Dossi.

Os novos relacionamentos estão sendo construídos à base do anonimato. Trata-se de relacionamentos superficiais, que não fincam raízes, que não se aprofundam afetivamente, não criam laços. Aliado a isso, hoje, a fase adulta nada mais é do que uma extensão da adolescência, no melhor dos casos, devido a imaturidade emocional das pessoas.