Ouvindo Vozes: da Marginalização à Loucura segue com apresentações grátis na Zona Leste

Em agosto as seções são na E. E. Prof. Aroldo de Azevedo e SASF Iguatemi II

  • Data: 26/07/2022 09:07
  • Alterado: 16/08/2023 23:08
  • Autor: Redação
  • Fonte: Assessoria
Ouvindo Vozes: da Marginalização à Loucura segue com apresentações grátis na Zona Leste

Ouvindo Vozes: da Marginalização à Loucura

Crédito:Marta Baião

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Com encenação e direção de Marta Baião, o espetáculo Ouvindo Vozes: da Marginalização à Loucura é uma montagem da Pião Produções Artísticas, livremente inspirada no livro Ouvindo Vozes, de Edmar Oliveira, com dramaturgia assinada por Cynthia Regina.

Iniciadas em junho, as apresentações (gratuitas) ocorrem em espaços públicos não convencionais, frequentados ou a serviço da comunidade, na zona leste de São Paulo. Em agosto as seções são na E. E. Prof. Aroldo de Azevedo (3 e 4/8, quarta e quinta, às 20h) e SASF Iguatemi II (10/8, quarta, às 20h).

A temporada é acompanhada por rodas de conversa sobre Saúde Mental na Periferia com participação de Cristina Melo (psicóloga e arteterapeuta), de Monica Soares (arteterapeuta), da diretora e do elenco, além de sessões com tradução em Libras, por Mile Silva (da LibrArte). Este projeto foi viabilizado pelo Programa VAI – Programa para Valorização de Iniciativas Culturais, da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo.

Pelo viés do teatro épico performativo, a montagem traz a história de três clientes, como eram chamadas as pessoas em tratamento no Instituto Nise da Silveira, no Engenho de Dentro (RJ), que descobriram vida na loucura em um lugar marcado pelas ideias da médica psiquiatra, uma revolucionária no tratamento mental pela arteterapaia que garantiu àqueles(as) com ‘manias de liberdade’, as saídas de suas profundezas para o encontro com a vida.  Os atores Everton Santos, Juliana Morelli e Rogério Nascimento fazem releituras das histórias, não comprometidos com o normal ou anormal, mas com a desconstrução da ideia de loucura.

O livro Ouvindo Vozes aborda o processo de reestruturação do Instituto por meio da história de pessoas em tratamento com diagnóstico de esquizofrenia, privadas de acesso aos direitos básicos de sobrevivência. O enredo da peça explora a realidade exposta no livro e as vivências dos(as) artistas periféricos(as) participantes desta produção, alinhavadas por suas memórias frente à realidade sobre a saúde mental em seus territórios: os Distritos de Iguatemi e Sapopemba, em São Paulo. Marta Baião explica que o processo criativo conjunto foi conduzido para revelar “corpos aprisionados que fogem do modelo estipulado pela sociedade, corpos indisciplinados que não cumprem um papel esperado”.

Everton Santos traz para a cena a história de um jovem, o mais velho de três irmãos. Por ser fruto de uma relação extraconjugal da mãe com um político, vivia trancado, afastado do convívio social. Ele é internado como louco quando, em um acesso de raiva, ele rasga o vestido de noiva de sua irmã ao descobrir que ela iria se casar sem a sua presença. Rogério Nascimento vive um jovem sonhador, predestinado para passar 20 anos no hospital do Engenho de Dentro, apenas por ser uma pessoa sem controle emocional. Quando alcança o direito de ir para uma casa acolhedora, ele busca conhecer o mundo, busca a liberdade que lhe foi tolhida. Juliana Morelli interpreta uma moça com problemas psiquiátricos que, ao ser internada, conta com a surpreendente adesão das duas irmãs, que decidem se internar junto com a irmã para ficarem juntas.

Segundo a diretora, os elementos cênicos (atuação, cenário, figurino e música) dialogam pela simbologia metafórica. A cenografia concebida por ela sugere o aprisionamento em espaços delimitados que se interligam por estruturas altas e vazadas, situando a prisão individual das personagens, bem como as possibilidades de libertação com portas e saídas. A cor branca e transparências predominam nas estruturas e nas cortinas, representando a tênue linha entre a sanidade e a loucura, e também ganham a conotação de telas/mandalas que serão pintadas pelo público antes das sessões, numa referência à arteterapia de Nise da Silveira. Projeções em video mapping – com imagens referentes ao trabalho da Dra. Nise e encenação de métodos físicos de tratamento – potencializam a abordagem e fazem o público pensar. Técnicas de teatro de sombras são usadas para representar a possibilidade de morte. Os figurinos (de Marta Baião) carregam simbologias do universo das personagens; trazem alegorias que reportam à busca pela libertação desses corpos. E a trilha sonora original, de Eduluz, conta com músicas que assumem funções dramatúrgicas na encenação, compostas pelos próprios atores.

Toda equipe artística envolvida na montagem foi submetida a um processo arteterapêutico, baseado nas práticas de Nise da Silveira, com o intuito de ampliar as percepções e fundamentar o trabalho. Para os realizadores, Ouvindo Vozes: da Marginalização à Loucura quer contribuir para a conscientização da importância das artes cênicas como um dos elementos fundamentais para conscientizar sobre a saúde mental nas regiões periféricas. “As pessoas da periferia são menos acolhidas em todas as situações. O morador periférico é marginalizado, junto com tudo que lhe diz respeito, e não é diferente com a loucura, quando a pessoa é simplesmente descartada”, afirma Everton Santos. “Queremos sensibilizar pessoas moradoras das nossas regiões como a arte da linguagem teatral, visando reflexão e discussão acerca dos transtornos mentais e suas abordagens nas margens da cidade”, finaliza.

A ideia de montar Ouvindo Vozes: da Marginalização à Loucura surgiu, em 2016, quando Michele Araújo e Everton Santos – fundadores da Pião Produções Artísticas – tiveram contado com o livro de Edmar Oliveira (Ouvindo Vozes). No ano seguinte partiram para o Rio de Janeiro, rumo ao Museu de Imagens do Inconsciente e ao Instituto Municipal Nise da Silveira (antigo Hospital Psiquiátrico D. Pedro II), dando início ao processo de gestação de ideias. Em 2019, voltaram ao Museu com propósitos mais definidos para estruturação do projeto, junto com Monica Soares, recém-integrada ao grupo. “Fizemos uma visita guiada que intensificou o nosso desejo de mergulhar nesse universo. Acessamos imagens, esculturas e histórias que despertaram em nós o anseio de criar”, relembra Michele, produtora da peça. Também retornaram ao Instituto para saber melhor da sua história e visitaram a Casa das Palmeiras para conhecer de perto as práticas terapêuticas de Nise da Silveira. Essas vivências reverberaram, provocando reflexões sobre essa realidade nos territórios de Everton e Michele: ele, nascido, criado e morador do Distrito de Iguatemi, e ela, nascida, criada e moradora do Distrito de Sapopemba, ambos na Zona Leste paulistana, onde também atuam como artistas, produtor/produtora e educador/educadora. Um longo trabalho de construção cênica e o mergulho na arteterapia resultaram no espetáculo que busca diálogo entre o fazer teatral e a estruturação da saúde mental na periferia.

Programação

Espetáculo: Ouvindo Vozes: da Marginalização à Loucura

Com: Pião Produções Artísticas

Grátis. Duração: 60 min. Gênero: Drama. Classificação: 16 anos.

Nas redes: Fabebook/@ piaoproducoesartisticas | Instagram/pião_producoes 

3 de agosto. Quarta, às 20h

E. E. Prof. Aroldo de Azevedo

Rua Filipa Álvares, s/n – Jardim Planalto / Sapopemba. SP/SP.

Roda de conversa: Saúde Mental na Periferia – com Cristina Melo e Monica Soares.

Tradutora intérprete de Libras: Mile Silva (LibrArte) 

4 de agosto. Quinta, às 20h

E. E. Prof. Aroldo de Azevedo

Rua Filipa Álvares, s/n – Jardim Planalto / Sapopemba. SP/SP.

Roda de conversa: Saúde Mental na Periferia – com elenco e encenadora Marta Baião. 

10 de agosto. Quarta, às 20h

SASF Iguatemi II – Serviço de Assistência Social à Família

Rua João Crispiniano Soares, 98 – Parque Boa Esperança – SP/SP

Roda de conversa: Saúde Mental na Periferia – com Cristina Melo e Monica Soares.

Tradutora intérprete de Libras: Mile Silva (LibrArte).

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  • Data: 26/07/2022 09:07
  • Alterado:16/08/2023 23:08
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