O preço real da moda barata: o que acontece nos bastidores da Shein?

A Shein enfrenta críticas sobre as condições de trabalho nas fábricas da China, onde longas jornadas, baixos salários e práticas questionáveis colocam em xeque a ética por trás de sua produção de moda acessível

  • Data: 13/01/2025 17:01
  • Alterado: 13/01/2025 17:01
  • Autor: Redação ABCdoABC
  • Fonte: BBC
O preço real da moda barata: o que acontece nos bastidores da Shein?

Crédito:Divulgação/Freepik

Você está em:

O incessante zumbido das máquinas de costura ecoa pelas fábricas de Guangzhou, uma próspera cidade portuária situada às margens do rio das Pérolas, no sul da China. Esse som se torna uma constante, atravessando as janelas abertas dos estabelecimentos que operam do amanhecer até altas horas da noite. É nesse cenário que se produzem camisetas, blusas, shorts, calças e roupas de banho destinadas a atender o mercado de 150 países ao redor do mundo em que a Shein atua.

Dentro da “vila Shein”: jornadas exaustivas e violações trabalhistas

Localizado no bairro Panyu, conhecido informalmente como “vila Shein”, este labirinto industrial abriga uma rede de fábricas que se tornaram essenciais para a maior varejista de moda rápida global. Um trabalhador, em entrevista à BBC, relatou: “Se houver 31 dias em um mês, trabalharei 31 dias”, destacando a realidade de muitos que possuem apenas um dia de descanso mensal.

A equipe da BBC dedicou vários dias a investigar essa região, visitando dez fábricas e conversando com proprietários e trabalhadores. O resultado revelou que esses profissionais passam cerca de 75 horas por semana em suas atividades, o que fere as leis trabalhistas chinesas. Tais jornadas são comuns em Guangzhou, que se consolidou como um centro industrial atraindo trabalhadores rurais em busca de melhores salários.

Ascensão meteórica e controvérsias da Shein

A Shein, uma empresa inicialmente desconhecida, experimentou um crescimento meteórico nos últimos cinco anos, alcançando uma avaliação estimada em US$ 60 bilhões (aproximadamente R$ 370 bilhões). Agora com planos para abrir capital na Bolsa de Valores de Londres, sua ascensão foi marcada por controvérsias relacionadas ao tratamento de seus trabalhadores e alegações de trabalho forçado. No ano anterior, a companhia reconheceu a presença de crianças trabalhando em suas fábricas.

Embora a Shein tenha se recusado a conceder entrevistas para a reportagem, afirmou em comunicado à BBC estar comprometida com o tratamento justo dos trabalhadores em sua cadeia de suprimentos e anunciou investimentos significativos na melhoria da governança e conformidade das suas operações. “Nos esforçamos para estabelecer altos padrões salariais e exigimos que todos os nossos parceiros cumpram nosso código de conduta”, destacou a nota.

O sucesso da Shein é impulsionado pelo volume colossal de produtos disponíveis online e pelos preços acessíveis: vestidos custando cerca de R$ 50 e blusas a partir de R$ 30 são apenas alguns exemplos do apelo econômico da marca. Sua receita já supera gigantes como H&M e Zara.

Uma realidade que exige mudanças

A estrutura industrial na “vila Shein” compreende aproximadamente 5.000 fábricas que atuam como fornecedoras diretas da marca. Os edifícios foram adaptados para maximizar a produção têxtil; assim, é comum ver máquinas operando incessantemente mesmo após as 22h, com novos rolos de tecido chegando frequentemente.

Conforme relatado por um estudo do grupo suíço Public Eye, as condições nas fábricas revelam uma violação sistemática das leis trabalhistas chinesas. A pesquisa expôs salários base muito abaixo do necessário para uma vida digna e práticas laborais abusivas.

No final do dia, enquanto muitos trabalhadores se reúnem novamente nas fábricas após as pausas para refeições, fica evidente que as condições laborais exigem mudanças significativas para garantir direitos básicos e dignidade aos profissionais envolvidos nessa cadeia produtiva crucial.

Compartilhar:

  • Data: 13/01/2025 05:01
  • Alterado:13/01/2025 17:01
  • Autor: Redação ABCdoABC
  • Fonte: BBC









Copyright © 2025 - Portal ABC do ABC - Todos os direitos reservados