O País já foi à falência, econômica e moral

O que a cena de uma novela do final dos anos 80 pode nos ensinar sobre honestidade?

  • Data: 30/04/2023 16:04
  • Alterado: 30/04/2023 16:04
  • Autor: Edvaldo Barone
  • Fonte: ABCdoABC
O País já foi à falência, econômica e moral

Cena da novela Vale Tudo

Crédito:Reprodução/Rede Globo

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Esta semana me deparei com uma cena da novela Vale Tudo, originalmente exibida pela Rede Globo entre maio de 1988 e janeiro de 1989. Escrita por Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassère, esta foi eleita uma das melhores telenovelas brasileiras de todos os tempos.

A trama da novela teve como pano de fundo a corrupção e a falta de ética no Brasil do final dos anos 1980, e é justamente neste enredo que se enquadra a cena que chegou até mim esta semana.

No trecho em específico temos Maria de Fátima, interpretada brilhantemente por Glória Pires, junto a Salvador Gomes, interpretado pelo saudoso Sebastião Vasconcelos. Salvador é avô de Fátima e um funcionário da empresa fictícia ‘Aduana’, responsável por fiscalizar e taxar produtos que entram no Brasil através da fronteira com o Paraguai.

Representando o clássico tipo de pessoa que é adepta do famigerado “jeitinho brasileiro”, Maria de Fátima tenta convencer o avô a fazer vista grossas com o contrabando de videocassetes trazidos do Paraguai por César (Carlos Alberto Riccell. Idôneo e defensor irrepreensível de uma ética moral e nacionalista, Salvador se nega de todas as formas a atender o pedido inadequado da neta.

Na sequência, algumas falas de Salvador me fizeram refletir, tanto pelo aspecto de honestidade, que infelizmente considero escasso em nossa sociedade, como pela contemporaneidade do tema das taxações que ganharam repercussão recente em nosso País.

O diálogo é o seguinte:

“Eu estou falando de meia dúzia de videocassetes”, reclama Fátima.

“Que a lei não deixa entrar para você comprar produtos brasileiros, mesmo que sejam inferiores aos que fazem lá fora. Porque só assim, pode ser que um dia este país tenha mercado para fabricar coisas melhores. A nação tem que ir para frente, Fátima”, completa Salvador.

“Ótimo vovô. O último homem honesto do Brasil. Isso dá reportagem pro ‘Fantástico’. Agora vai conseguir o que com isso, vovô? Chegar a sua idade com uma mão na frente e outra atrás e uma porcaria de uma casa num fim de mundo”, resmunga.

“Isso aqui é um país de trambiqueiro. Está pensando que eu não leio jornal? Vai conseguir o que com essa honestidade? Vai acabar com os assaltantes, com os pivetes, com os marajás, com político ladrão. Com os colarinhos brancos que estão aí dando golpes de milhões e milhões de dólares?”, questiona a neta que ainda completa: “Ninguém presta. De uma maneira ou de outra aqui nesta terra todo mundo é corrupto”.

“Todo mundo é corrupto porque você aceita isso como coisa natural. A corrupção é uma bola de neve”, diz o avô.

“Tem colega seu que tem apartamento de 200m² em Ipanema”, provoca a neta. “Eu não queria um apartamento de 1000m² em Paris. Se tivesse que dormir com peso na consciência de ter contribuído para o tráfico de drogas, para o contrabando pesado porque quem é conivente também é responsável. Não quero ser conivente com essa política corrupta que tem aí, não”, diz Salvador.

A cena segue com outras falas que são recebidas como facadas para quem ainda presa pela honestidade e entende que muita coisa está envolvida em realmente vivencia-la.

Taxações

Será que se as regras para taxação tivessem sido respeitadas, desde a época de Vale Tudo, estimulando o fomento ao mercado nacional, as coisas não estariam economicamente melhores?

Evidentemente, acredito que os recentes debates sobre taxação não seriam uma questão mal resolvida e haveriam muitos mais postos do emprego no Brasil, elevando consideravelmente a economia de nosso País.

Honestidade X Corrupção

Acredito que se definir uma pessoa ética e moralista no Brasil, é carregar junto o selo de hipocrisia! Os recentes embates políticos são a prova disso.

É impossível ser honesto quando se pratica nepotismo.

É irreal defender a moral e os bons costumes, infringindo direitos humanos.

É inexequível se sentir um cidadão de bem enquanto se apoia chacina nas periferias.

A lista é longa, mas a reflexão deve ser natural e não imposta.

Que a honestidade passe a ser pensada desde as pequenas ações do dia a dia. No trabalho, na educação, nas relações e até em nosso interior.

O certo, quase nunca será fácil. Se as regras existem, devem ser obedecidas.

Depois de refletir por um momento, a minha conclusão é a mesma que Salvador chegou ainda no final da década de 80…

“O País já foi à falência, econômica e moral.”

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  • Data: 30/04/2023 04:04
  • Alterado:30/04/2023 16:04
  • Autor: Edvaldo Barone
  • Fonte: ABCdoABC









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