O legado de dor: como traumas femininos moldam gerações

Mulheres carregam a culpa de ancestrais e fantasmas do passado ainda afetam a vida atual

  • Data: 02/09/2024 14:09
  • Alterado: 02/09/2024 14:09
  • Autor: Redação
  • Fonte: Ana Lisboa
O legado de dor: como traumas femininos moldam gerações

Saúde mental

Crédito:Marcelo Camargo/Agência Brasil

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“Esse cansaço e medo não são seus, são de 3 gerações atrás!” A frase revela a profunda conexão entre os traumas femininos que atravessam gerações e moldam a vida das mulheres. A psicanalista Ana Lisboa destaca como esses traumas são repassados de mães para filhas e afetam profundamente a sociedade das mulheres cansadas e sobrecarregadas que conhecemos hoje.

“As mulheres que foram mães nos anos 60 cresceram em um ambiente de rigidez e ausência materna, resultado das grandes famílias e da instabilidade financeira. Criadas para enfrentar a dependência emocional e a insegurança econômica, elas repassaram esses traumas às suas filhas, preparando-as para profissões estáveis, como o magistério, numa tentativa de evitar o sofrimento que elas mesmas enfrentaram”, explica a psicanalista Ana Lisboa, referência em educação terapêutica e especialista em traumas femininos.

Segundo a especialista, nos anos 80 e 90, as mães que trabalhavam intensamente para não repetir os padrões de dependência emocional vividos por suas próprias mães acabaram criando suas filhas na base do medo, culpa e sacrifício. “Essas filhas, que muitas vezes testemunharam suas mães sacrificando sonhos acadêmicos e profissionais em prol da maternidade, cresceram com traços masoquistas, acreditando que são responsáveis pelo bem-estar dos outros e carregando uma culpa constante que as impede de descansar, mesmo após terem atingido altos níveis de sucesso”, afirma Lisboa.

Já as mães da década de 2010, que tiveram filhos mais tarde e com mais acesso à informação, ainda lutam contra a culpa. Porém, essa culpa agora se manifesta no medo de traumatizar os filhos, resultando em uma educação marcada pela dificuldade de impor limites e posicionamento. “O medo de repetir os erros do passado leva muitas a criar uma geração sem noção de responsabilidade, o que reflete uma tentativa desesperada de evitar os traumas vividos por elas mesmas”, alerta a psicanalista.

De acordo com Lisboa, a realidade é que os traumas vêm sendo repassados de geração em geração, e a cura, no entanto, não se encontra em culpar o passado ou controlar o futuro, mas sim em resolver nossas próprias questões internas. “Só uma mulher em paz com sua história é capaz de criar filhos saudáveis, e essa pode ser a grande diferença da nossa geração: o acesso à informação e à educação emocional”, explica.

A psicanalista reforça que a verdadeira mudança começa quando decidimos curar a nós mesmas. “Precisamos entender que a cura acontece não culpando o passado nem controlando as gerações futuras. A mudança genuína começa quando nós resolvemos nos curar”, ressalta.

Embora a geração atual fale muito sobre saúde mental, ela ainda enfrenta o desafio de quebrar o ciclo de traumas herdados. A indulgência excessiva com as crianças, alimentada pelo medo de traumatizar, pode levar a uma geração que não se sente pronta para assumir responsabilidades. “Essa “eterna adolescência” é, na verdade, um medo disfarçado de responsabilidade, que impede muitas mulheres de se tornarem mães”, alerta Lisboa.

Segundo Ana, chegou o momento de rompermos com padrões antigos e entendermos que o caminho para uma maternidade saudável passa pela cura pessoal, por meio da terapia. “A verdadeira diferença dessa geração será o uso consciente da informação para promover a educação emocional e criar uma nova geração, não isenta de desafios, mas preparada para enfrentá-los com maturidade e equilíbrio”, finaliza.

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  • Data: 02/09/2024 02:09
  • Alterado:02/09/2024 14:09
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  • Fonte: Ana Lisboa









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