O filme “O Irlandês” nos tempos atuais
O longa do diretor Martin Scorsese foi lançado em 2019 pela Netflix, com poucas exibições nos cinemas
- Data: 18/04/2022 20:04
- Alterado: 22/08/2023 22:08
- Autor: Bruno Pietro
- Fonte: YouTube/Quadro em Branco
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O Irlandês (2019) é o fechamento de uma trilogia de máfia de Martin Scorsese, apesar das histórias não se conectarem. Os dois outros filmes são Cassino (1995) e Os Bons Companheiros (1990).
O filme de Scorsese teve que lidar com algumas polêmicas após o lançamento no streaming, por conta do seu tempo de 3h30 de duração e principalmente por associarem o longa às mesmas histórias dos filmes anteriores de máfia do diretor.
Tanto Bons Companheiros, como Cassino, são filmes que mostram a glamourização de seus respectivos ambientes, busca por dinheiro e poder, sem medo de mostrar a violência envolvida para conseguir tais feitos.
Já O Irlandês, filme produzido mais de 20 anos depois de seus antecessores, traz uma narrativa diferente, como se a história fosse apresentada para contar ao público o que acontecia naquela época, e não mergulhar naquele glamour novamente. Claro que para isso é preciso passar por acontecimentos como esse, de violência por exemplo, mas é algo que o Scorsese traz de forma muito rápida ou caricata desta vez, como se tentasse amenizar toda violência mostrada no passado.
Além de acompanhar de perto o personagem Frank Sheeran, vivido por Robert De Niro, essa narrativa pode ser percebida em outros fatores. A sútil atuação de Joe Pesci, que interpreta Russell Bufalino, já é um dos pontos. Pesci era conhecido por papéis explosivos e de violência explícita, como em Bons Companheiros, mas desta vez, como um homem experiente no contexto da máfia, suas palavras tem muito mais poder. Outro ponto é o desaparecimento de Jimmy Hoffa (Al Pacino), nome gigante na história dos EUA, que mostra um lado muito mais arrependido do que uma “eliminação” de fato, como seria tratada caso o meio fosse movido pelo glamour.
Pela primeira vez, Scorsese mostra os mafiosos idosos e debilitados, com arrependimentos que construíram durante a vida que julgavam ser certa. É uma história que enfatiza muito mais as consequências do que dos próprios atos.
Não que o diretor não mostrasse fatos saindo fora do planejado em suas outras histórias, alias Scorsese constrói isso muito bem em todos os gêneros, como o contraste de auge e decadência de Jake LaMotta em Touro Indomável (1980).
A diferença está no tempo de duração. No Irlandês acompanhamos o personagem principal Frank Sheeran (Robert De Niro) durante os 30 minutos finais do filme, quando ele não tem mais propósito nenhum de vida, depois de perder o carinho da família, justificado pela sua história nas três primeiras horas do filme.
Frank Sheeran foi um soldado na guerra e depois, de certa forma, ocupou o mesmo posto na máfia, ele cumpria ordens. Construção de vida que o levou a um completo vazio, mostrado com muita calma e sem pressa para acabar, como se o espectador vivesse aquilo junto ao Frank.
Dessa maneira, O Irlandês traz uma percepção muito diferente da máfia retratada por Scorsese nos filmes anteriores, soando como uma despedida ao gênero e mostrando de fato um fim de ciclo dos personagens após anos de insanidade.