Nunes e Boulos focam prioridades semelhantes na educação sem fixar metas claras
Especialistas dizem que as propostas são boas e enfrentam alguns dos principais desafios da cidade na área, revelados pela nota baixa no Ideb
- Data: 22/10/2024 07:10
- Alterado: 22/10/2024 07:10
- Autor: Redação
- Fonte: MARCOS HERMANSON - FOLHAPRESS
Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL)
Crédito:Edson Lopes JR./Prefeitura SP e Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados
No que depender dos programas de governo, Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL) querem coisas semelhantes para a educação em São Paulo: escola em tempo integral, reforço na EJA (educação de jovens e adultos) e aulas de empreendedorismo nas escolas municipais.
Entre as diferenças, o deputado federal do PSOL promete psicólogos nas escolas, 22 novos CEUs (Centros Educacional Unificado) –marca da gestão de sua vice, Marta Suplicy (PT)- e a abertura das unidades de ensino aos fins de semana para atividades de lazer.
Já Nunes exalta avanços da gestão, como a fila das creches zerada –conquista de 2020 que Bruno Covas (PSDB), seu antecessor, atribuía também “aos ex-prefeitos e ex-prefeitas” que o antecederam no cargo. Além disso, propõe expandir o programa Rolê Agroecológico, que leva estudantes a hortas, propriedades urbanas e parques naturais.
Especialistas dizem que as propostas são boas e enfrentam alguns dos principais desafios da cidade na área, revelados pela nota baixa no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) e pela taxa pífia de alfabetização na idade certa (38%).
No entanto, as medidas esbarram na falta de metas objetivas, avaliam. “Falta dizer como, em quanto tempo, com que recurso”, diz Katia Smole, ex-secretária de educação básica do MEC na gestão Michel Temer (MDB) e diretora executiva do Instituto Reúna.
A professora lembra que ambos os programas prometem valorização de professores, mas sem propostas específicas. “Vai ter reforma de carreira? Que investimento vai ser feito além da formação continuada?”, pergunta.
Alessandra Gotti, presidente-executiva do Instituto Articule, diz que as propostas têm tom parecido e atacam problemas importantes da educação no município. “O que vai fazer diferença é transpor esses projetos e executá-los com prioridade política”, afirma.
“Mais do que salários, tem que ter condições de trabalho”, diz Vitor Paro, docente aposentado da Faculdade de Educação da USP (Universidade de São Paulo), sobre a proposta de valorização dos professores. Ele aponta que seria importante conceder aumento salarial, mas diz que outras medidas, como a redução do número de alunos nas salas de aula, também são necessárias.
Com a pandemia e o fechamento das escolas, o Brasil inteiro registrou queda nos índices de alfabetização na idade certa, ou seja até o final do segundo ano do ensino fundamental. Mas, na contramão do país, São Paulo demora a se recuperar.
Enquanto o Brasil recuperou 20 pontos percentuais no índice de alfabetização na idade certa, atingindo nível pré-pandêmico -56% das crianças alfabetizadas-, São Paulo amarga taxa de 38%, ocupando o 21º lugar entre as capitais.
Recuperar o tempo perdido nesse tema será fundamental, diz Alessandra, para que os alunos tenham a base necessária para as etapas subsequentes.
Já em relação à ampliação do número de escolas em tempo integral, especialistas alertam para as dificuldades de implementação.
Smole, do Instituto Reúna, lembra que as propostas de expansão esbarram na estrutura física das escolas, já que as turmas ocupariam as unidades durante o dia todo (e não mais apenas de manhã ou à tarde), e também na própria dinâmica imobiliária da cidade.
“São Paulo ainda tem muitos alunos em todos os turnos”, afirma, “então, para fazer expansão do ensino integral, seria preciso construir mais unidades, e na cidade não temos muito espaço para construção”.
Hoje 40% dos alunos matriculados na rede municipal estudam em tempo integral, segundo a Secretaria Municipal de Educação.
Em maio deste ano, Nunes sinalizou que vai aderir ao programa de escolas cívico-militares do governo estadual. O plano prevê a contratação de policiais militares da reserva para vigilância e atividades extra-classe nas escolas.
As unidades continuariam sob gestão da Secretaria Municipal de Educação, mas atividades realizadas pelos policiais seriam planejadas pela Secretaria de Segurança Pública do governo estadual. Segundo o governo, a ideia é implementar o modelo após consulta às unidades e em escolas com histórico de violência.
A adesão gerou críticas das especialistas ouvidas pela reportagem.
“Não tem dados [evidências] que embasem essa proposta das escolas cívico-militares”, diz Smole. “Ela é mais uma pauta de costumes, para atender a uma população que pensa que esse é o jeito de cuidar da disciplina na escola.”
O que os planos de governo de Nunes e Boulos dizem sobre educação
- Ricardo Nunes (MDB)
Propostas:
- Modernizar infraestrutura das escolas
- Incluir alunos com deficiências por meio de equipes especializadas
- Polos de empreendedorismo e trabalho em 58 CEUs
- Olimpíadas do Conhecimento
- Fortalecer educação de jovens e adultos
- Implementar o “Rolê Ecológico” para 40 mil estudantes
O que afirma ter feito: - Eliminou a fila das creches
- Construiu e reformou escolas e CEUs
- Guilherme Boulos (PSOL)
- Implementar gradualmente a educação integral em todas as escolas
- Psicólogos em todas as escolas
- Mutirão contra o analfabetismo adulto
- Valorização salarial permanente e formação continuada para professores da rede municipal
- Abrir escolas aos fins de semana para atividades de lazer
- Construir no mínimo 22 CEUs (Centros Educacionais Unificados)
- Modernizar Centros de Educação Infantil (CEIs)