Mulheres no mercado imobiliário: 61% delas já passaram por assédio sexual, moral e verbal
Por receio de perderem o emprego e por não acreditarem no processo punitivo, 21% delas não denunciaram esses comportamentos abusivos
- Data: 23/03/2021 10:03
- Alterado: 23/03/2021 10:03
- Autor: Redação
- Fonte: Datastore
Crédito:Kelsen Fernandes/ Fotos Públicas
Em diversas áreas do mercado de trabalho, as mulheres possuem grande representatividade, mas não é o que acontece, ainda, no segmento imobiliário. Para analisar esse cenário, Cristiane Uetanabara, vice-presidente técnica da Datastore, em parceria com Raquel Trevisan – especialista em Marketing Imobiliário, e Elisa Tawil, idealizadora e líder do Movimento Mulheres do Imobiliário – desenvolveram um estudo inédito, o qual apresenta um recorte da situação feminina no setor. “Cerca de 60 mil mulheres atuam nesse segmento. Os dados confirmam que o mercado imobiliário é predominantemente masculino. Apesar de termos muito a conquistar, percebemos que existe um forte movimento para ressaltar o papel da mulher nesse relevante e vital segmento da economia do Brasil”, diz Cristiane Uetanabara.
O estudo foi realizado entre 2020 e 2021 pela Datastore – empresa especializada em pesquisas de demanda para o setor imobiliário, juntamente com o “Mulheres do Imobiliário“, com a participação de 803 mulheres atuantes nesse segmento em todo o Brasil: 93% reconhecem que nos últimos anos estão conquistando espaços significativos no setor e 39% têm a percepção de conseguirem as mesmas oportunidades que os homens.
Não obstante aos avanços conquistados, existem outras situações que precisam ser mudadas: 61% delas já passaram por assédio sexual, moral e verbal, e 21% não denunciaram esses comportamentos abusivos, em razão do medo de perder o emprego, insegurança e pelo fato de não acreditarem no processo punitivo.
Elisa Tawil se viu numa dessas situações e não se calou. “Eu era a única mulher no canteiro de obras, à época do meu estágio de arquitetura no ramo da construção civil, e tinha um funcionário que me perseguia em todos os lugares durante o trabalho, sempre me olhando de um jeito estranho. Sentia medo e me via em perigo. Relatei a situação ao mestre de obras e o funcionário foi afastado. Naquele momento, eu não tinha noção de que era assédio. Por isso, é tão importante ter essa conscientização, assim podemos nos preparar melhor para essas situações e combatê-las”, ressalta Elisa.
Outro dado relevante é que 44% das entrevistadas tiveram dificuldade para retornar ao trabalho após a maternidade. No sudeste, por exemplo, os resultados somam 50%. E 61% das mulheres acreditam que ser mãe e profissional no setor de imóveis ainda é um tabu.
“A pesquisa comprovou que existem muitas mulheres empoderadas no mercado imobiliário, mas ainda temos que mostrar a nossa força. A maior parte possui pós-graduação, uma boa renda e estão satisfeitas com o momento da sua vida. Entretanto, sentem falta de igualdade nos seus ambientes de trabalho, e muitas já sofreram algum tipo de situação constrangedora pelo fato de serem mulheres. Continuaremos lutando para sermos melhor tratadas no trabalho. Esse foi apenas mais um passo para que a gente se “(re)conheça” e busque o nosso lugar de destaque no mercado imobiliário”, comenta Raquel Trevisan.
Mais sobre a pesquisa
Participaram do estudo mulheres das regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sul e Sudeste: 68% delas estão na faixa etária entre 30 e 49 anos e 42% são casadas. Entre as entrevistadas, 28% citaram que os cargos de liderança são ocupados por mulheres. Os homens ainda estão em maioria, com 51%. De norte a sul, elas são as principais provedoras da família.
O questionário relacionado ao assédio foi orientado pela docente e advogada Alice Oleto.