MPF do Tocantins quer explicação da PF sobre prisões contra críticos de Bolsonaro
O Ministério Público Federal no Tocantins requisitou informações à PF sobre a prisão e abertura de inquéritos contra críticos do governo Bolsonaro com base na Lei de Segurança Nacional
- Data: 19/03/2021 20:03
- Alterado: 19/03/2021 20:03
- Autor: Redação ABCdoABC
- Fonte: Estadão Conteúdo
Número de procedimentos abertos pela Polícia Federal para apurar supostos delitos contra a segurança nacional aumentou 285% nos dois primeiros anos do governo Bolsonaro
Crédito:Reprodução
A cobrança ocorre após um professor de Palmas ser investigado por ter feito um outdoor em que diz que o presidente não vale ‘um pequi roído’ – o inquérito foi aberto a mando do ministro da Justiça e Segurança Pública, André Mendonça, após o caso já ter sido arquivado pela Procuradoria.
Nesta quinta, 18, cinco manifestantes foram detidos pela Polícia Militar após estenderem uma faixa “Bolsonaro Genocida” em frente ao Palácio do Planalto. O grupo foi levado à sede da Superintendência da Polícia Federal em Brasília por ‘infringir a Lei de Segurança Nacional’.
A requisição do MPF é assinada pelo procurador Thales Cavalcanti Coelho, que abre o prazo de dez dias para a PF informar sobre inquéritos e procedimentos abertos com base na LSN ou mediante requisição de Mendonça. As informações devem ser remetidas à Procuradoria da República em Araguaína (TO), onde o procurador atua.
Uma cópia do ofício também foi enviado à 7ª Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público Federal para a avaliação de uma ‘ação coordenada nacional’ entre procuradores que atuam no campo do controle da atividade policial.
Segundo o procurador Thales Coelho, a abertura de investigações com base na LSN atenta contra princípios do Estado Democrático de Direito, como a liberdade de expressão.
“A crítica – ainda que veemente, ácida, irônica e até injusta – aos governantes, às instituições públicas e à ordem social figura no núcleo essencial da liberdade de expressão, correspondendo à sua esfera mais intensamente protegida, de maneira que a criminalização de manifestações, ainda que duras, dirigidas contra elevadas autoridades, como o Presidente da República, ou contra instituições públicas, como as Forças Armadas, revela-se incompatível, ao menos a princípio, com a Constituição da República”, frisou.
Levantamento do Estadão apontou que o número de procedimentos abertos pela Polícia Federal para apurar supostos delitos contra a segurança nacional aumentou 285% nos dois primeiros anos do governo Bolsonaro, na comparação com o mesmo período das gestões Dilma Rousseff e Michel Temer. Houve um total de 20 inquéritos entre os anos de 2015 e 2016. Já entre 2019 e 2020, foram 77 investigações.
Em dezembro do ano passado, o ministro André Mendonça solicitou a abertura de uma investigação contra o sociólogo e professor Tiago Costa Rodrigues, que organizou a instalação de dois outdoors críticos ao governo de Jair Bolsonaro em Palmas, no Tocantins. Em um deles, era escrito a frase: “Cabra à toa, não vale um pequi roído. Palmas quer impeachment já”.
A apuração começou em agosto, quando um simpatizante do presidente acionou a PF com uma notícia-crime para investigar os outdoors. O caso foi arquivado pela Corregedoria Regional da corporação e pelo Ministério Público Federal, mas o inquérito foi retomado após a requisição de Mendonça, que imputou ao professor e ao dono da empresa de outdoor crimes contra a honra de Bolsonaro. O caso foi revelado pelo Jornal do Tocantins.
O Ministério da Justiça não comentou o caso. Mendonça é um dos nomes cotados para uma eventual vaga no Supremo Tribunal Federal e já determinou a abertura de inquéritos semelhantes contra jornalistas e advogados que fizeram críticas ao governo federal.