Mestrado na USCS registra a construção colaborativa de um currículo antirracista e decolonial

O trabalho resultou na produção de três documentos norteadores para a construção de um currículo antirracista

  • Data: 02/07/2024 11:07
  • Alterado: 02/07/2024 11:07
  • Autor: Redação
  • Fonte: USCS
Mestrado na USCS registra a construção colaborativa de um currículo antirracista e decolonial

Campus Conceição

Crédito:Divulgação

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Com o propósito de analisar como uma escola particular, que atende a uma parcela da elite econômica da cidade de São Paulo e declarou compromisso com o planejamento e execução de ações antirracistas, traduz a Lei 10.639/03 no seu currículo, a ex-aluna do Mestrado Profissional em Docência e Gestão Educacional da Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), e atual doutoranda em Educação Luce Elena Diogo da Silva fez sua pesquisa abordagem teórica e metodológica que se enquadra no campo das pesquisas colaborativas. A Lei nº 10.639/03 é uma lei federal que alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional para incluir a obrigatoriedade do ensino de história e cultura africana e afro-brasileira nos sistemas de ensino da educação nacional. A lei foi sancionada pelo Presidente Luís Inácio Lula da Silva em 09 de janeiro de 2003 e estabeleceu o Dia da Consciência Negra como data prevista no calendário escolar. O estudo contou com quatro sessões reflexivas com sete participantes, sendo eles: cinco coordenadores pedagógicos, uma coordenadora educacional (a pesquisadora) e uma professora da Educação Infantil. Desse total, três se autodeclararam negros. A orientação da pesquisa de Aline ficou à cargo da Prof.ª Dra. Sanny Silva da Rosa.

Luce conta que o tema de pesquisa surgiu a partir de sua realidade profissional. “Desde os anos 2000, quando assumi a função de coordenadora de artes em uma escola particular, sou a única profissional negra a ocupar um cargo de gestão nas instituições onde trabalhei. É importante ressaltar que, somente em 2020, depois de 20 anos de experiência como coordenadora pedagógica e educacional, é que ingresso como coordenadora educacional de uma escola particular de elite. Nas anteriores, tive de ingressar em cargo de docência para, depois de alguns anos, passar a ocupar a gestão. Esse processo de regredir de função para ingressar em uma escola particular é bastante comum para profissionais negros e negras, pois o fenótipo é o primeiro marcador da avaliação profissional”, explica a pesquisadora. “Parece-nos que, em uma perspectiva antirracista, a escola precisa se conscientizar dos modos com os quais opera o racismo e desenvolver ações que promovam a igualdade de direitos, a pluralidade de identidades e o combate a toda e qualquer forma de violência e exclusão”, avalia.

Luce partiu da seguinte questão-problema: como os(as) gestores(as) de escolas particulares de elite da cidade de São Paulo traduzem as políticas educacionais antirracistas no currículo? Sua pesquisa foi circunscrita em uma escola particular por dois motivos principais, a saber: por se tratar de uma das instituições em que é evidente a desigualdade racial, no que diz respeito ao acesso à educação considerada de excelência acadêmica; e por envolver a responsabilidade de sujeitos brancos na construção de uma sociedade democrática, pautada na igualdade racial e na garantia de direitos para todos.

Além da revisão teórica, a pesquisa de Luce resultou na produção de três documentos norteadores para a construção de um currículo antirracista: Diretrizes para uma educação antirracista (item revisão curricular); Indicadores de avaliação (coleta de dados da percepção dos educadores sobre a pauta antirracista); apresentação dos dados e proposta de ações a curto, médio e longo prazo. “Como produto final do estudo, propôs-se a elaboração de um ‘Caderno de Escrevivências’ sobre a experiência de construção de um currículo antirracista com vistas a fomentar reflexões e práticas transformadoras e decoloniais em outras comunidades educativas dispostas a reverter a lógica excludente criada pela modernidade/colonialidade”, explica Luce. E complementa: “O caderno de escrevivências antirracista é um compilado de narrativas produzidas a muitas mãos. Os referenciais teóricos, os resultados desta e de outras pesquisas, bem como as reflexões e ações dos(as) educadores(as) envolvidos na construção de um currículo antirracista compõe o conteúdo. Logo, ele foi produzido como um diário, ou seja, como vivência, e reflete o que se escreve. O caderno tem o formato de um e-book — livro digital — disponibilizado virtualmente, desprendendo-se dos custos de impressão. O material é composto por temas que acionem os referenciais teóricos e reflexões apresentadas neste trabalho”, conta a ex-aluna do Mestrado da USCS.

No que tange aos resultados obtidos, Luce destaca: “Embora eu soubesse que os indicadores apontariam para a interpretação e tradução marcados pelo racismo, como mostraram os gráficos com as respostas dos docentes, fiquei impactada. O desconhecimento da lei, somado à ausência de representatividade positiva dos povos africanos e afrodiaspóricos nos materiais didáticos e nos conteúdos, conscientizou-me do desafio que precisaremos enfrentar na construção de uma educação antirracista. Reside aí o limite, mas também as possibilidades abertas com esta pesquisa”, registra a pesquisadora.

Segundo a orientadora da pesquisa e professora da USCS, Prof.ª Dra. Dra. Sanny Silva da Rosa, o trabalho de Luce é relevante “em primeiro lugar, porque Luce discute a temática do racismo na Educação com muita consistência teórica e com a propriedade de quem ocupa o lugar de fala de uma mulher negra educadora; em segundo lugar, porque o combate ao racismo na sociedade brasileira é uma das pautas prioritárias das políticas públicas de Estado brasileiro, especialmente, das políticas educacionais ”, avalia.

A dissertação de mestrado de Luce Elena Diogo da Silva pode ser acessada em: https://uscs.edu.br/pos-stricto-sensu/arquivo/884.

O programa de Mestrado Profissional em Docência e Gestão Educacional da USCS tem como objetivo geral a qualificação de docentes e gestores para uma atuação profissional ética e transformadora de processos aplicados, no âmbito da Educação Básica, realizada por meio da integração do conhecimento teórico com o prático. Desta maneira, procura contribuir com a criação de práticas educativas reflexivas que colaborem numa atuação mais qualificada na Educação Infantil, Ensino Fundamental e Média.

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  • Data: 02/07/2024 11:07
  • Alterado:02/07/2024 11:07
  • Autor: Redação
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