Março Azul reforça importância do diagnóstico precoce contra o câncer colorretal
Apesar do tumor ser mais comum a partir dos 50 anos, estudos mostram que diagnóstico cresce anualmente nos mais jovens; Especialistas alertam sobre maneiras de prevenir a doença
- Data: 15/03/2022 09:03
- Alterado: 17/08/2023 07:08
- Autor: Redação
- Fonte: Grupo Oncoclínicas
Imagem Ilustrativa
Crédito:TV Brasil
O câncer colorretal está em segundo lugar no ranking dos tumores malignos mais frequentes, além de ser um dos que mais mata no país, tanto para os homens, quanto para as mulheres. Esse alerta para a sociedade em geral ganha um reforço neste mês, que marca a campanha Março Azul, voltada à promoção do cuidado e à prevenção da condição em todo o mundo.
O tumor colorretal se desenvolve no intestino grosso: no cólon ou em sua porção final, o reto. O principal tipo de tumor colorretal é o adenocarcinoma e, em 90% dos casos, ele se origina a partir de pólipos na região que, se não identificados e tratados, podem sofrer alterações ao longo dos anos, podendo se tornar o câncer. A principal forma de diagnóstico e prevenção é através do rastreamento do exame de colonoscopia, em que um aparelho chamado colonoscópio, que conta com uma câmera na ponta, é introduzido no intestino e faz imagens que revelam se há presença de possíveis alterações. No Brasil, o Ministério da Saúde recomenda iniciar o rastreio do câncer de cólon e reto da população adulta de risco baixo na faixa etária de 50 anos.
“Grande parte dos tumores de intestino aparecem a partir dos chamados pólipos, que são lesões benignas que crescem na parede interna do órgão, mas que se não identificadas preventivamente podem evoluir e se tornarem malignas com o passar do tempo. Após os 50 anos de idade, a chance de apresentar pólipos aumenta, ficando entre 18% e 36%, o que consequentemente representa um aumento no risco de tumores malignos decorrentes da condição a partir dessa fase da vida e, por isso, ela foi estabelecida como critério para início do rastreio ativo”, explica a oncologista Renata D’Alpino, líder da especialidade de tumores gastrointestinais do Grupo Oncoclínicas.
Ela lembra que pessoas com histórico pessoal de pólipos ou de doença inflamatória intestinal, como retocolite ulcerativa e doença de Crohn, bem como registros familiares de câncer colorretal em um ou mais parentes de primeiro grau, principalmente se diagnosticado antes de 45 anos, devem ter atenção redobrada e realizar controles periódicos antes da idade base indicada para a população em geral.
Caso o câncer colorretal seja diagnosticado, o especialista irá avaliar através de exames o estádio do tumor e classificá-lo, indicando se há ou não o comprometimento de outros órgãos.
Estádio I — tumor confinado às partes mais superficiais do intestino, tais como a mucosa, submucosa ou a camada muscular do cólon ou do reto e sem comprometimento dos linfonodos regionais (gânglios);
Estádio II — tumor confinado à serosa que reveste o cólon ou reto ou que atinge órgãos vizinhos, mas sem comprometimento dos linfonodos regionais;
Estádio III — tumor que compromete os linfonodos próximos ao cólon ou reto, independente de sua extensão local;
Estádio IV — tumor que compromete órgãos à distância (metástases).
Segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA), o câncer colorretal é o segundo mais frequente entre os homens, logo após o de próstata, e o segundo mais incidente nas mulheres, perdendo apenas para o câncer de mama. O órgão estima ainda que no triênio 2020-2022 haja 20.520 casos da doença em homens e 20.470 em mulheres a cada ano. A neoplasia está na lista dos três tipos de câncer que mais atingem os brasileiros, causando aproximadamente 20.578 óbitos em 2020.
Ainda assim, a médica afirma que há muitos tabus que cercam o rastreio preventivo do câncer colorretal, o que contribui para a baixa adesão ao controle precoce da doença mesmo entre pessoas que fazem parte do grupo com risco aumentado. “Muitas vezes, o tumor só é descoberto tardiamente, diante de sintomas mais severos, como anemia; constipação ou diarreia sem causas aparentes; fraqueza; gases e cólicas abdominais; e emagrecimento. Apesar do sangue nas fezes ser um indício inicial de que algo não vai bem na saúde, muitas pessoas costumam creditar essa ocorrência a outras causas convencionais, como hemorróidas, e acabam postergando a busca por aconselhamento médico e a realização de exames específicos. Isso faz com que muitas pessoas só descubram o câncer em estágios avançados”, diz.
Para o c, a prevenção primária e secundária à doença devem ser amplamente estimuladas. “A primária são mudanças nos hábitos alimentares e de vida, como investir alimentos com mais fibras e laticínios e evitando carnes vermelhas e processadas. Essas mudanças de estilo de vida consistem ainda em combater a obesidade, praticar atividades físicas regularmente e evitar o tabagismo e consumo de bebidas alcoólicas”, explica.
Já a prevenção secundária se baseia em exames que avaliam a presença de sangue oculto nas fezes e de imagem, com destaque para a colonoscopia – principal ferramenta para identificar o câncer colorretal. Apesar de simples, a realização da colonoscopia, contudo, ainda é observada como um tabu a ser vencido, assim como negligenciar sintomas por receio de buscar ajuda. “Esse procedimento é capaz de identificar problemas mais graves e silenciosos, como o caso do câncer, além da doença de Crohn e retocolite ulcerativa. Por isso, é fundamental que informações de qualidade sejam transmitidas à sociedade com o objetivo de conscientizar sobre a importância da colonoscopia e, principalmente, alertar que o exame pode salvar vidas”, complementa.
Impactos da pandemia
Durante a pandemia houveram impactos diretos no volume de realização de colonoscopias no país, o que pode de fato trazer desdobramentos preocupantes na luta contra o câncer.
“Apesar de simples, esse exame requer preparo prévio e por ser considerado invasivo, teria alto risco de contaminação. Por isso, em um primeiro momento, sua realização sofreu os impactos das incertezas trazidas pela covid-19, especialmente nos primeiros meses de 2020, quando muitos centros hospitalares e de medicina diagnóstica precisaram se reorganizar para garantir fluxos seguros para pacientes. Temos relatos de serviços que fecharam completamente durante a primeira onda de contaminações pelo vírus e outros tantos que cancelaram por um período esse tipo de procedimento. Com isso, certamente veremos em breve como consequência o crescimento nos casos de tumores descobertos em fase avançada, quando a chance de cura se torna consideravelmente reduzida”, frisa Renata.
A percepção apontada pela oncologista é reforçada por dados oficiais: do início da pandemia de covid-19 no país até o início de 2021, ao menos 70 mil brasileiros deixaram de ser diagnosticados com câncer no Brasil, segundo as Sociedades Brasileiras de Patologia e de Cirurgia Oncológica (SBP e SBCO). E mesmo com o constante alerta das autoridades de saúde e entidades voltadas à conscientização sobre o diagnóstico precoce como a melhor forma de garantir tratamentos menos invasivos e mais eficazes para a sobrevida dos pacientes, o agravamento do quadro do câncer é uma preocupação global e exames de rotina não deveriam ser deixados em segundo plano.
A importância do tratamento precoce
Felizmente, o câncer colorretal possui altas chances de cura na grande maioria dos casos. No entanto, é muito importante que a doença seja diagnosticada o quanto antes através dos exames de rotina, aumentando o sucesso do tratamento.
“O câncer colorretal pode ser evitado ainda na fase pré-cancerosa, ou seja, através da retirada dos pólipos intestinais por colonoscopia. Com o procedimento, é possível fazer com que o aparecimento do câncer não aconteça”, explica Rodrigo Felipe.
Quando o câncer colorretal é diagnosticado de fato, existem dois tipos de tratamentos que podem ser realizados. São eles:
Tratamentos locais (cirurgia, radioterapia, embolização e ablação): agem diretamente no tumor primário ou em metástases isoladas, sem afetar o restante do corpo. Portanto, podem ser indicados tanto nos casos iniciais quanto nas fases mais avançadas da doença.
Tratamentos sistêmicos (quimioterapia, imunoterapia ou terapias-alvo): Podem ser realizados por drogas orais (comprimidos) ou endovenosas (na veia), aplicando diretamente na corrente sanguínea. Também podem ser indicados tanto nos casos precoces quanto avançados da doença
Incidência cresce entre jovens adultos
Para Renata, outro ponto de grande relevância no combate ao câncer colorretal é o estabelecimento de uma recomendação mais clara para triagem de casos assintomáticos, quando não há sinais de sintomas clássicos que podem levantar suspeitas – caso de sangramentos corriqueiros visíveis nas fezes – entre a porção da população com menos de 50 anos. Entre as ações possíveis, ela destaca uma iniciativa liderada pela US Preventive Services Task Force que considera que testes menos invasivos poderiam ser iniciados precocemente e repetidos com intervalos menores em comparação à colonoscopia. Além disso, prevê mudar a idade de rastreamento para os 45 anos, devendo ser repetido a cada 5 anos em caso de resultados normais, como já vem sendo sugerido desde 2019 pela American Cancer Society (ACS).
“Nos EUA o debate sobre uma possível mudança de protocolo, passando a adotar a idade de 45 anos como recomendada para o início do rastreio periódico, está sendo baseada na avaliação de centenas de levantamentos e ensaios clínicos que levam em conta o perfil de pessoas assintomáticas na faixa etária acima dos 40 anos. Uma forma possível de ampliar as chances de prevenção seria a indicação de pesquisa das fezes, por meio de testes imunoquímicos e testes de sangue oculto fecais em pessoas mais jovens e que não apresentam mudanças de saúde perceptíveis. De acordo com os resultados, havendo achados suspeitos, a colonoscopia seria então realizada”, ressalta a especialista da Oncoclínicas.
Um dos estudos científicos que embasam a argumentação foi publicado no Journal of the National Cancer Institute e realizado nos Estados Unidos de 1974 até 2014. A análise mostrou que nas pessoas entre 20 a 39 anos de idade, por exemplo, o número de casos novos de câncer de intestino vem crescendo anualmente, entre 1% e 2,4%, desde a década de 1980. Já os casos de câncer de reto, nas pessoas entre 20 e 29 anos de idade, tiveram um aumento anual médio de aproximadamente 3,2%, desde 1974.
“Na maioria dos casos, a doença pode ser causada por hábitos de vida pouco saudáveis, como o consumo de alimentos ultraprocessados, aumento da taxa de sedentarismo, ingestão excessiva de bebidas alcoólicas e tabagismo. Vale lembrar que a predisposição genética também é considerada um risco, mas não podemos esquecer de outros fatores relevantes. Por isso, é fundamental investir em uma dieta rica em fibras, menor ingesta de carnes vermelhas e a prática de exercícios físicos regulares, assim como uma boa alimentação. Esses cuidados podem não só auxiliar na prevenção do câncer colorretal como no crescimento dos casos de câncer como um todo”, finaliza Rodrigo Felipe.