Lula quer formar recrutas para combate a desastre climático
Presidente levou demanda ao comandante do Exército; cerca de 70 mil jovens entram por ano na força, segundo o mesmo
- Data: 11/09/2024 12:09
- Alterado: 11/09/2024 12:09
- Autor: Redação
- Fonte: Marianna Holanda/Folhapress
Presidente Lula (PT)
Crédito:Ricardo Stuckert/PR
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse nesta quarta-feira (11) que quer formar recrutas para o combate a desastres climáticos, como os incêndios que estão acontecendo em diferentes regiões do país.
“Conversei com meu comandante do Exército, quem sabe a gente devesse aproveitar esse jovens que vão servir Exército para que a gente formasse, especializasse ele [o jovem] na defesa civil para que tivessem preparados para desastres climáticos”, disse.
“São 70 mil jovens por ano, que a gente pode preparar e torná-los profissionais de combate à questão climática. De defesa do planeta, da floresta, da água, da vida humana. A gente pode fazer isso, porque vamos precisar”, completou.
A declaração foi dada em entrevista à Rádio Norte FM, em Manaus, após visita a regiões afetadas pela seca no estado. Lula criticou ainda as queimadas criminosas, e disse que é preciso, de forma sustentável, utilizar a floresta como forma de sustento para as famílias da Amazônia. “Temos que fazer o mundo desenvolvido e os europeus entenderem que embaixo de cada copa de árvore mora uma pessoa”, disse.
O mandatário fez ainda uma acusação, de forma indireta, ao governador de Roraima, Antonio Denarium (PP). Os entrevistadores citaram investigações da Polícia Federal (PF) contra o governador, e também disseram que ele se queixa da falta de ajuda do governo federal no combate ao garimpo -o que Lula desmentiu, citando as operações da sua administração.
“A verdade nua e crua é que aqui em Brasília corre boato de que governador [Denarium] teria vinculação com essa gente do garimpo. O que estamos fazendo é investigação, tentando proibir… Não é fácil você destruir dragas e balsas. O problema é que quem financia garimpo não está lá, gente que tem dinheiro e está em outro lugar. Destrói uma balsa e no dia seguinte tem outra balsa”, disse.
Lula voltou a prometer a criação da autoridade climática, promessa da campanha eleitoral que até hoje não saiu do papel. Na terça (10), ele disse que encaminharia ao Congresso a medida provisória criando o cargo e o comitê técnico-científico para dar suporte às ações do governo federal, mas não estipulou data para o ato.
O presidente disse ainda que chamará autoridades da região para discutir a construção da BR-319, rodovia defendida por políticos dos estados amazônicos e criticados por ambientalistas. O argumento favorável diz que a população precisa de formas de locomoção, sobretudo diante do aumento da seca, que reduz o nível dos rios e da navegabilidade.
Já os ambientalistas dizem que a construção desta rodovia, que corta a floresta, deve aumentar o desmatamento.
“Eu disse ao governador [do Amazonas], aos senadores, deputados, que vou convocá-los em Brasília para uma discussão muito séria com ministério dos Transportes, Ministério do Meio Ambiente para que a gente estabeleça um compromisso que ao retomar a construção da estrada não permita a grilagem de terra”, disse.
“Precisa garantir que a floresta seja preservada e estrada seja feita da melhor forma possível que a ciência nos permita fazer”, completou.
A região enfrenta uma seca sem precedentes. O rio Madeira, o maior e mais decisivo afluente do rio Amazonas, se transformou em bancos de areia a perder de vista na altura de Porto Velho.
No último dia 3, o rio atingiu um nível mínimo recorde em Porto Velho, sem precedentes na série histórica iniciada em 1967.
Medições compiladas pelo SGB (Serviço Geológico do Brasil) mostram que a cota do rio ficou em 1,02 m, ultrapassando o recorde anterior, de 1,10 m em 2023, ano de seca extrema na Amazônia ocidental.
Os incêndios também ocorrem em outras regiões do país, como no cerrado e no pantanal.
A fumaça de incêndios florestais que afeta diferentes regiões do Brasil nas últimas semanas deve continuar a se propagar pela América do Sul. A situação fica ainda pior devido à seca que atinge o país.
O fogo já gerou suficiente para cobrir uma área da ordem de 5 milhões de quilômetros quadrados, segundo o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
Essa cobertura ocupa cerca de 60% do território nacional, que se estende por 8,5 milhões de quilômetros quadrados. Mas segundo a pesquisadora Karla Longo, do Inpe, a área coberta por fumaça pode dobrar se forem considerados os países vizinhos e parte do oceano Atlântico.